Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

É tempo de caneladas

Começa nesta terça-feira um daqueles períodos que costumam intrigar sociólogos, antropólogos e especialistas em Psicologia Social: o tempo em que o Brasil veste sua camiseta verde e amarela e a razão sai de férias.


Ainda mais instigante, o tempo da Copa do Mundo coincide com o aquecimento de uma das mais concorridas disputas eleitorais do período da redemocratização. Segundo os jornais, a oposição ao atual governo não encontra a tática adequada para furar o bloqueio de popularidade que defende o gol adversário.


A irracionalidade está à solta, e a imprensa não dá sinais de querer colocá-la sob controle. No dia em que, segundo a Folha de S.Paulo, o técnico da Seleção, Carlos Caetano Verri, o Dunga, começa a construir seu destino de herói ou vilão, a imprensa derruba um de seus mitos mais resistentes, o sobrenome Tuma.


Razão relaxada


Associado ao rigor no combate ao crime, graças à fama que lhe deu a própria imprensa, o sobrenome da família que tem como patriarca o senador Romeu Tuma, que foi celebrizado pela mídia como todo-poderoso chefe da Polícia Federal, passa agora para a outra banda da notícia policial, com a demissão do delegado Romeu Tuma Júnior do cargo de secretário nacional de Justiça.


Tuma Jr. promete contribuir para o clima de arquibancada que se forma em torno da Copa do Mundo e às vésperas de eleições importantes.


Ressentido com o que considera uma demissão injusta, ele sai atirando, e os jornais agasalham suas ameaças de espalhar mais lama, que certamente poderá se transformar em munição de campanha eleitoral.


É certo que enquanto a bola estiver rolando no campo de futebol, suspende-se toda intriga interna – o inimigo é aquele que veste outro uniforme que não o auriverde. Mas entre uma partida e outra da Seleção que é de todos, a guerra eleitoral tende a se tornar mais dura.


De qualquer modo, é nestes períodos em que a razão relaxa que se formam os dossiês de todo tipo, que a imprensa costuma selecionar cuidadosamente, conforme suas preferências, para formar o conteúdo do debate político.


Regada a cerveja


O ruído das ‘vuvuzelas’ e o foguetório que acompanha os passos de nossos craques em campos africanos predominam sobre as vozes sensatas que tentam manter a disputa eleitoral em padrões aceitáveis.


E a imprensa, pela amostra que forneceu até aqui, também vai distribuir suas caneladas.


O Globo começa desprezando o adversário do primeiro jogo: chama a seleção da Coreia do Norte, considerada a pior entre as 32 que disputam a Copa na África do Sul, de ‘seleção Tabajara’, referência a um dos programas humorísticos da Rede Globo de Televisão.


O Brasil e a imprensa na Copa – esse é o tema do Observatório da Imprensa na TV de terça-feira (20/6). Uma Copa regada oficialmente a cerveja, por meio de um controverso contrato de publicidade que a imprensa não quer colocar em discussão.