Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

E se eles forem inocentes?

O rastro de sangue do garoto arrastado por vários quarteirões por assassinos cariocas, os furos de balas das pistolas da polícia em mais de três carros de inocentes mortos em uma semana e tantas outras imagens do mal podem ser vistos pela TV brasileira a qualquer momento, inclusive nos boletins da emissora de maior audiência do país, lá pelas cinco da tarde. Não interessa se há crianças na sala ou se o horário é impróprio. Mesmo ainda apenas suspeitos, não condenados, policiais corruptos, o próprio ato da corrupção filmado, o casal que matou a filha ou o bandido ladrão de galinhas podem aparecer na TV e dar entrevista, se mostrarem feito estrelas e fazerem parte da constelação de um céu negro onde a pior das barbáries virou rotina de todo dia.

Pois é de doer o coração a precipitação que agora se vê com a ‘espetacularização’ emprestada à prisão de Naji Nahas, Celso Pitta e Daniel Dantas. Puxa vida, mas que ousadia expor estas figuras exponenciais do crime nacional à execração pública assim, sem provas nem nada que possa conduzi-los para a cadeia…

Algum interesse devem ter

Um espirituoso chargista desenhou numa cela dois detentos magrelos e depenados por completo, sentados, olhando, pasmos, para a materialização do velho criminoso do colarinho branco na sua frente. Ele pega um pedaço de carvão e escreve na parede ‘Daniel Dantas esteve aqui, hehehe…’ e vai embora de terno e mala preta na mão. Ora bolas, o que defendem estes que agora se investem de baluartes do direito de gente desta estirpe não ser publicamente mostrada? Algum interesse devem ter porque senão também ficariam nervosos com imagens como as que descrevemos anteriormente – do garoto arrastado, do menino assassinado, do policial corrupto.

Não, o ladrão bilionário não jamais deveria aparecer na telinha. Coitado, e se ele for inocente?

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Jornalista, Cascavel, PR