Já não se pode definir o que é jornalismo ou o que é publicidade nos telejornais da Rede Globo. Em especial no Jornal Nacional, onde o desejo de exibir os eventos de autopromoção parece ter atingido desde a direção até os apresentadores. Na segunda-feira (5/12), um bloco do telejornal que se transformou em unanimidade no pós-jantar da família brasileira, foi reservado para exibir a troca de apresentadoras: sai Fátima, chega Patrícia. Para quem se admira com o estrelismo do jornalismo global, é um prato cheio. Enquanto eventos importantes acontecem pelo mundo afora, preocupamo-nos com a substituição de apresentadoras de um telejornal, como se isto alterasse o padrão de qualidade das notícias veiculadas. O que muda mesmo é somente e tão somente um rosto. É interessante notar que a promoção do novo (e secreto) programa da Fátima Bernardes tornou-se mais importante do que a chegada da Patrícia.
Nesta autopromoção feroz, a Globo faz questão de exibir os prêmios conquistados pelo seu jornalismo. Um dia destes, o apresentador e editor-chefe do JN, William Bonner, esteve em Nova York para receber um prêmio. O evento foi tão alardeado pelos próprios apresentadores que transformaram as notícias e informações daquela edição em simples cabides para sustentação dum egocentrismo publicável. O telespectador não precisa assistir a este espetáculo. Isto não o interessa. Quando o jornal é bom, as premiações podem até fazê-lo acreditar que ele é muito mais do que isso. Porém, esta aparente satisfação causada pelos troféus deve permanecer dentro da redação e não ser exposta ao telespectador como se quisessem dizer: “Olha, fulano, conquistamos este prêmio porque você assiste nosso jornal. Quer dizer, este prêmio também é seu.” É, no mínimo, ridículo.
Interesses velados
Agora os astros e estrelas globais se envolveram numa campanha publicitária via web tentando adquirir assinaturas para barrar a construção da usina de Belo Monte. São atores de grande representatividade junto ao público maciço da emissora. Até então, discutíamos na faculdade o envolvimento da Rede Globo nesta campanha. Passadas algumas semanas desde então, aparece a chamada para o Globo Repórter falando dos prejuízos que a construção causará à floresta e aos habitantes aquele lugar. Dois dias antes da exibição do programa, a revista Veja lançou a edição “Nocaute nas Estrelas”, evidenciando um vídeo resposta dos estudantes da UnB, contrariando e com fatos comprovados, as afirmações dos atores globais na campanha. No vídeo Gota d’água, os atores falaram aquilo que algum leigo no assunto escreveu. Todas as respostas dos estudantes às “asneiras” ditas pelos autores são convincentes e chamaram a atenção do público, principalmente o universitário.
Este assunto não é interessante pela ótica da publicidade, mas pelo jornalismo que mais uma vez cede a interesses velados. O que incomoda é o segredo, os desejos escusos de uma emissora que parece opor-se à construção duma hidrelétrica que será vital para o futuro do país. Mas a troco de quê a Globo estaria envolvida neste assunto? Só o mais ingênuo brasileiro acreditaria nesta história de defensores da ecologia. Enquanto poucas pessoas tentam descobrir o real interesse da emissora que utiliza seu jornalismo como ferramenta de mobilização social e midiática, continuo aqui sempre com um pé atrás. Nem tudo que reluz (na tela) é ouro.
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[Mailson Ramos é graduando em Relações Públicas, Salvador, BA]