Aborto é um tema que evoca sentimentos fortes – e não foi diferente na semana passada, com o aniversário da decisão Roe vs. Wade na Suprema Corte americana, que legalizou o aborto em 1973, e a “Marcha pela Vida”, passeata que acontece todo janeiro desde então, comenta, em sua coluna [27/1/12], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton.
A manifestação, como de costume, foi um grande evento. Em uma das suas matérias, publicada no site do Post no dia 23/1, a AP afirmou que o protesto “foi um dos maiores do ano em Washington”. A repórter Katherine Driessen escreveu o principal artigosobre a caminhada, que apareceu online e na capa da seção metropolitana. Ela observou que os organizadores católicos lotaram o Centro Verizon com jovens que frequentavam as missas da manhã, totalizando 17 mil pessoas. Mas não havia apenas católicos no evento – havia também um número pequeno de pessoas a favor do aborto. Para se ter uma ideia do comparecimento: um leitor escreveu ao jornal informando que ficou parado na Suprema Corte e levou duas horas para que todas as pessoas passassem pelo local.
Queixas
No entanto, ninguém sabia o quão grande a manifestação era. Ninguém mais ousa estimar o tamanho da passeata, para evitar ser acusado de parcialidade. Ainda assim, é possível ver pelas fotos de usuário do Facebook ou do Flickr – e também de fotógrafos do Post e da AP – que se tratava de uma grande multidão. Estas fotografias, entretanto, não foram publicadas na galeria online do Post, o que provocou reclamações de leitores. Das 10 fotos da galeria, oito foram tiradas da Suprema Corte e nenhuma dava a dimensão do tamanho do evento. “Em retrospecto, eu queria ter dado aos leitores uma melhor perspectiva da magnitude da caminhada; era bem mais que 17 mil pessoas”, admitiu o editor da seção metropolitana, Vernon Loeb. “Nunca conseguimos agradar esta multidão. Tentamos mostrar os dois lados”, afirmou o diretor de fotografia do Post, Michel du Cille.
Muitos leitores também reclamaram que o artigo de Katherine focou muito nos adolescentes que participaram da marcha e nas suas opiniões diante de fotos de fetos, dando a entender que haviam passado por uma “lavagem cerebral”. O foco nos jovens ocorreu pelo fato de as igrejas terem recrutado muitos para a causa antiaborto. No entanto, o ombudsman concorda que a matéria não deveria ter usado a expressão “ideologia antiaborto”, pois é carregada de um sentido negativo. De maneira geral, segundo Pexton, a cobertura do evento foi imparcial e recebeu destaque também em blogs do jornal.