A nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci de Oliveira, foi militante do Partido Operário Comunista durante a ditadura militar e esteve três anos e oito meses presa, tendo conhecido Dilma Rousseff no cárcere. Como uma das testemunhas de acusação contra o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, na ação que lhe move a família do finado jornalista Luiz Eduardo Merlino, ela declarou:
“Merlino foi assassinado sob tortura na Operação Bandeirante entre os dias 14 e 16 de julho de 1971… Numa das torturas de Merlino, eu estava presente. Eu estava na “cadeira do dragão” e ele, no pau-de-arara. O Ustra entrou e saiu da sala várias vezes… Ele [Ustra] não só tinha ciência, como era o mandante. Era chamado de major. A tortura aliviava ou aumentava dependendo da autorização dele.”
A imprensa, evidentemente, preferirá deixar de lado tais afirmações e destacar (como já vem fazendo) esta outra:
“Me relaciono com homens e mulheres e tenho muito orgulho de minha filha, que é gay e teve uma filha por inseminação artificial.”
Corajosa, a Menicucci. Mas, eu sempre penso com meus botões: por que darmos este tipo de munição para nossos sórdidos inimigos nos desqualificarem da maneira mais vil? As pessoas com boa cabeça não se chocam nem escandalizam diante de uma frase dessas. Como bem disse o Raulzito, “faze o que tu queres, pois é tudo da lei”. E o Milton Nascimento: “Qualquer maneira de amor vale a pena.” Cada um escolhe a sua e não tem por que meter o bedelho na escolha dos outros. Viva e deixe viver. Mas aqueles que nos combatem são a mais abjeta e repulsiva escória moral. Se infestaram a web com lixo acusando Dilma de assassina e terrorista, o que não espalharão sobre Menicucci?
“Vou aprender a nadar”
Estamos agora numa nova realidade, a da internet. Daí não podermos, como antes, calibrar nossa comunicação de acordo com o público a que se destinava. O que Eleonora Menicucci declarou à revista TPM foi, portanto, pinçado e poderá ser exposto em praça pública para insuflar contra ela uma execração (também) pública.
Cada um viaja por essas contradições de acordo com sua personalidade e intuições. É melhor nos expormos de peito aberto às baixarias ou reservarmos nossa franqueza para as conversas com parentes e amigos (não sabendo sequer se há algum traíra entre eles gravando para usar contra nós depois…). Não há roteiro, plano de voo infalível. Estamos na fase do aprendizado, ainda.
Então, encerro com mais citações musicais. “Vou aprender a nadar”, cantou o Jards Macalé. E o Walter Franco completou: “Viver é afinar o instrumento/ De dentro pra fora/ De fora pra dentro/ A toda hora, todo momento.”
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[Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político; seu blog ]