Se Luiza Erundina fosse uma desconhecida, poderíamos dizer que ela teve, na semana passada, seus quinze minutos de fama. Ao desistir da candidatura a vice-prefeita de São Paulo, revoltada com a aliança entre PT (ou melhor, Lula) e Paulo Maluf, foi notícia em todos os jornais e deu entrevistas em rádio e TV, no melhor estilo das pessoas que aparecem do nada para sumir em seguida.
A revolta de Erundina, na verdade, serviu apenas para que a imprensa desse mais ênfase à já famosa foto de Lula confraternizando com seu ex-arqui-inimigo Maluf. Mas no que realmente interessaria na história – os argumentos da deputada – pouco repercutiu.
Erundina deu um bom exemplo de como as mulheres podem influenciar a política nacional. Ela merecia mais. Afinal, não é todo dia que mídia abre espaço para políticos com tradição dizerem que é preciso dar bom exemplo aos jovens, que o sistema das alianças precisa ser criterioso e que o país só vai mudar quando o método político for diferente. São temas que deveriam merecer mais espaço dos órgãos de imprensa.
Mais espaço
Mais do que registrar a repulsa e a indignação de Erundina, a imprensa poderia propor uma boa análise dos conceitos emitidos por ela para justificar a renúncia. Como, por exemplo:
“Quando alguém vai à casa de outra pessoa é porque tem amizade e confiança no outro. A foto é apenas um símbolo da aliança que é um ato político e como tal deve ser público.” (Rádio Estadão ESPN)
“Estou muito tranquila porque, quando a gente faz algo que corresponde ao anseio da sociedade, não tem erro, a gente fica feliz.” (Veja, 24/06/2012)
“A presença do Maluf só atrapalha, desqualifica, afasta as pessoas, tira a credibilidade de quem está junto com ele.” (O Estado de S.Paulo, 21/06/2012)
Corresponder aos anseios da sociedade (ela confessa que foi muito pressionada pelas redes sociais) e o significado do governo de alianças deveriam ser temas diários da imprensa, para que os eleitores – os jovens e os mais velhos – conheçam melhor seus escolhidos na hora de votar.
Mas a verdade é que, infelizmente, poucos jornalistas se preocupam com conteúdo, com exceção daqueles que usam a mídia para fazer política partidária e ficam discutindo – como se isso interessasse aos eleitores não petistas – as brigas internas do partido. Esses, indignados, acusam Erundina de traidora. Não é o caso de pedir censura – um dos piores males que podem atingir a imprensa –, mas pedir aos jornalistas que tenham um pouco mais de bom senso e usem a mídia para dar aos leitores o que eles realmente precisam: informação e reflexão com um mínimo de serenidade.
Políticos como Luíza Erundina, preocupados com a coerência e em zelar pela própria biografia, estão se tornando cada vez mais raros e merecem destaque na imprensa. Se ideias como as de Erundina tivessem mais espaço na mídia, talvez os outros políticos, percebendo que a coerência dá votos, dessem mais importância aos anseios da sociedade.
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[Ligia Martins de Almeida é jornalista]