O PRB, a Rede Record e a Igreja Universal são, como já apontou o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV, resultado de uma mesma lógica empresarial. O presidente do partido já foi vice-presidente da televisão e, antes, bispo da organização religiosa, hoje licenciado. Outros executivos fizeram a mesma trilha. O conglomerado, com a eventual eleição de Celso Russomanno na maior cidade do país, ameaça não só partidos estabelecidos como o PSDB e o PT, mas também a Igreja Católica. A reação agressiva da Arquidiocese de São Paulo no fim da semana passada, por seus púlpitos reais e eletrônicos, incluiu ironias como chamar o presidente do PRB de “o ‘pastor’ Marcos Pereira”, pastor entre aspas no original. Em outra passagem reveladora, “queira ou não o nobre ‘jurista’, os católicos ainda somam mais de 60% da população brasileira (dados do IBGE 2010)”.
Era resposta a um post de mais de um ano atrás, do blog de Marcos Pereira no R7, portal da Record. Um texto que apresentava não somente críticas à Igreja Católica, por se intrometer no ensino público do Rio, mas ao kit gay do então ministro Fernando Haddad. O post renasceu na campanha, segundo Pereira, por “um perfil falso no Twitter”. Falso ou não, o perfil foi o ponto de partida para a reação da Arquidiocese e também de outra instituição ameaçada pelo conglomerado PRB-Record-Universal, a Rede Globo. O SPTV de sábado à noite, inusitadamente, pautou “um assunto que começou nas redes sociais” e “virou tema dos principais candidatos”, só três – Russomanno, José Serra e Fernando Haddad.
Jornada Mundial da Juventude
O novo assunto seria, segundo o apresentador Cesar Tralli, “o uso da religião na campanha” com o post de Pereira, que “voltou a ser divulgado pela internet nesta semana”. O telejornal destacou a passagem da resposta da Arquidiocese que dizia, sobre PRB e Igreja Universal: “Se já fomentam discórdia, ataques e ofensas, sem o poder, o que esperar se o conquistarem?”
O SPTV editou em seguida, trechos dos três “principais candidatos”, em que Russomanno falou que “não existe guerra religiosa e nunca vai haver”; Serra, “a Igreja Católica não tem nada a ver com isso, é uma acusação injusta e que não colabora para a paz religiosa que o Brasil deseja”; e Haddad, “as pessoas têm que ter a liberdade de abraçar qualquer ideário, qualquer representação religiosa que bem entenderem”.
No dia seguinte, domingo à noite, o Fantástico não voltou ao assunto, mas encerrou destacando a “estreia” do hino da Jornada Mundial da Juventude, “da Igreja Católica”, programada para o ano que vem no Rio, “com a presença do papa Bento 16”. Nos versos do hino católico, com um clipe gravado no Cristo Redentor, “não à guerra, fora o ódio/só o bem e a paz a não ter fim”.
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[Nelson de Sá é colunista da Folha de S.Paulo]