Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A caminho de uma Copa e Olimpíada às escuras?

Como combinar a 9ª potência mundial com um apagão a cada 35 dias? Como combinar o país com jazidas de pré-sal capazes de garantir o consumo mundial de petróleo por mais 30 anos depois de esgotadas as reserva de outros países com uma escuridão inexplicável? A produção de energia está entre as principais questões políticas para o desenvolvimento de um país. O apagão da madrugada de sexta-feira (25/10) para sábado, o quarto em seis meses, deixou o Operador Nacional do Sistema, Hermes Chipp, de pernas para o ar. Além de suas explicações não serem mais convincentes, ao público leigo já não ocultam mais dúvidas junto a má qualidade da gestão do sistema operacional energético brasileiro.

Embora os grandes diários nacionais tenham destacado o assunto em suas primeiras páginas, a Folha foi o único jornalão a premiar seus leitores com os números por trás dos quais já não há como esconder uma potencial crise do setor. Na verdade, alguns estudos de especialistas da área – como os diretores da EPE-Empresa de Pesquisa Energética, Maurício T. Telmasquim, Amilcar Guerreiro e Ricardo Gorini – preveem uma crescente demanda de energia entre 2005 e 2030.

Em 1970, a demanda de energia primária (petróleo, gás, carvão) era inferior a 70 milhões de toneladas de petróleo – TEP (toneladas equivalentes de petróleo). Em 2000, a demanda quase triplicou – 190 milhões TEP –, quando a população já ultrapassava 170 milhões de habitantes.

Matriz energética elástica

Considerado o país com o mais baixo consumo per capita de energia do mundo comparado aos países industrializados – 1,190 TEP/10 elevado a 3 /habitante, o Brasil deve ter dado um salto de consumo de energia bem acima da média de expansão prevista para entre 2010-2020(3,6 %) enquanto o país se debatia nas intermináveis discussões e dilemas sobre se faz ou não a hidrelétrica de Belo Monte, amedrontado com o impacto dos desastres ambientais previstos e ocorridos nas terras indígenas.

Já está claro: seja qual for – apagão, apaguinho, palavras que começam a frequentar a linguagem do brasileiro do começo do ano para cá – o palavrão a acompanhar a escuridão como um elemento que está sendo incorporado à vida do brasileiro, o fato é que o Nordeste mais uma vez tem sido o alvo da notória incompetência do operador do sistema. Cidades turísticas, como Maceió, vivem suas noites, há quase dez anos, praticamente às escuras, tal é a fraqueza da iluminação pública utilizada – as pessoas não veem direito o rosto das outras a seis metros de distância. A incompetência da prefeitura municipal deixa a população na penumbra.

Longe das sombras que envolvem o futuro dos demais países marcados por limitações energéticas, o Brasil se dá ao luxo de ter uma matriz energética elástica fortalecida pela presença de fontes renováveis de energia, que dão uma cobertura prevista há dois anos de 44,5% em 2020, e 44,8% em 2030, ano em que o petróleo, energia hidráulica, cana de açúcar e gás natural ainda representarão 77 % do consumo.

O gargalo do sistema

Contudo, a mais recente análise da EPE já confirma a participação da produção da energia renovável em 88,8 % da matriz enérgica brasileira já no ano passado, quando a média mundial alcançava 19,5 % e entre países membros da OCDE-Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 18,3 %.

Mas como a oferta interna de energia cresceu apenas 1,3% em 2011 em relação a 2010, e o consumo o final teve um crescimento de 2,6%, começa a ser explicado por aí onde está o gargalo do sistema. Uma forte pressão de demanda ameaça deixar a Copa do Mundo e Olímpiadas às escuras, caso o governo não promova os investimentos necessários e urgentes no setor.

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[Reinaldo Cabral é jornalista e escritor]