Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Astros de ação silenciam sobre massacre nos EUA

Escolha uma causa social e frequentemente você encontrará uma celebridade de Hollywood se manifestando sobre o assunto. Casamento homossexual (Brad Pitt), Darfur (George Clooney), ambiente (Robert Redford e Leonardo DiCaprio). Controle de arma? Aí nem tanto.

A maioria dos astros de filmes de ação de Hollywood não abriu a boca, até agora, na polêmica discussão que se seguiu ao massacre de 20 crianças e seis adultos em uma escola de Connecticut. Para especialistas em cultura pop, não é difícil entender o porquê.

“Se você é conhecido por ser um astro que porta e dispara armas, quando algo desse tipo acontece, a última coisa que você quer é se envolver? A menos que você diga que nunca mais estrelará outro filme de ação”, diz Robert Thompson, professor de cultura pop na Universidade Syracuse.

Defensores de longa data do controle de armas, como a atriz Susan Sarandon e o diretor Michael Moore, do documentário “Tiros em Columbine”, foram rapidamente ao Twitter depois do massacre na sexta, e dezenas de milhares de americanos assinaram petições on-line reivindicando leis mais rigorosas sobre armas.

Apesar disso, grandes astros de filmes de ação, como Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Denzel Washington, assim como Brad Pitt e George Clooney, não tiveram nenhum comentário público a fazer.

Isso pode mudar, segundo um veterano executivo de relações públicas que tem muitos clientes em Hollywood. “Acho que haverá uma manifestação pública de ultraje de pessoas proeminentes no mundo do entretenimento e gente querendo fazer alguma coisa em relação às armas”, disse ele, que pediu para não ser identificado por não ter autorização para falar em nome de clientes. “Acho que o ator de ação estereotipado, que não quer tocar num assunto como esse, pode ficar ultrapassado. Há um burburinho sobre pessoas querendo expressar publicamente sua revolta.”

Influência das celebridades

Com os estúdios de Hollywood novamente sob escrutínio por seus filmes violentos, a Paramount Pictures cancelou a pré-estreia do novo filme de Tom Cruise, “Jack Reacher – O Último Tiro”, que estava prevista para sábado passado, em Pittsburgh. No longa, Cruise interpreta um ex-militar de sangue-frio. Em Nova York, o Lincoln Center Film Society adiou um evento que seria realizado na segunda, com a exibição do filme e conversa com Cruise, “por respeito às famílias que perderam seus entes queridos em Newtown, Connecticut”. “Jack Reacher”, que abre com a cena de um franco-atirador alvejando cinco pessoas aleatoriamente, deve chegar às telas nos Estados Unidos na sexta (no Brasil, o filme deve estrear em 11/1).

Cruise se manteve quieto sobre o tema quando foi ao “Late Show com David Letterman”, na segunda, para promover o filme. Mas o diretor de “Jack Reacher”, Christopher McQuarrie, disse ao TheWrap.com que o ator teve um papel-chave na decisão de cancelar a cerimônia em Pittsburgh – onde grande parte do longa foi filmada. “Tom e eu insistimos nisso. Ninguém deveria estar celebrando nada 24h depois de um evento trágico como esse.”

Letterman, porém, falou longamente sobre o massacre antes de Cruise subir ao palco. O apresentador disse que leis sobre o porte de armas não são a resposta para uma chaga social multifacetada. “Não sou tolo o suficiente para achar que esse é um problema ligado a armas porque antes de elas existirem as pessoas estavam matando umas às outras.” Disse, ainda, estar perplexo pela “necessidade” por armas semi-automáticas como a utilizada em Connecticut. Em um tom mais leve, assinalou: “Eu nunca vi um alce valer 30 cartuchos de munição e um rifle automático”.

Na TV, a Fox tirou os trailers que anunciavam a série “The Following”, sobre um assassino serial, e substituiu episódios de “Uma Família da Pesada” e “American Dad”, para evitar levar ao ar “qualquer conteúdo potencialmente sensível”, segundo fonte da emissora. O final da série dramática “Homeland” (vencedora do Emmy), que incluiu uma cena de explosão de um carro-bomba, foi precedido por um comunicado avisando que algumas cenas poderiam ser perturbadoras.

Hollywood frequentemente reage com irritação quando filmes e videogames são considerados culpados por atos cometidos por cidadãos americanos, alguns dos quais com problemas mentais, que têm usado armas livremente em anos recentes. “Acho que é sempre injusto eleger a indústria do entretenimento para esse escrutínio. Existe alguma coisa na psiquê americana que é muito mais profunda do que videogames ou filmes ou discos”, disse o executivo de relações públicas.

Thompson, da Universidade Syracuse, questiona quanta influência as celebridades têm ao expressar suas opiniões, especialmente sobre um tema como controle de armas, que desperta reações tão passionais no país, de ambos os lados. “É muito mais provável que esse tipo de pronunciamento mude a opinião das pessoas sobre a celebridade, não sobre o assunto”, diz Thompson. “Muita gente acha brega celebridades manifestando pesar depois de algo assim. E a ideia de que sua opinião possa tornar algo melhor ou diferente é, acho, vista como arrogância.” 

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[Jill Serjeant, da Reuters]