No domingo, 27 de janeiro, acordamos consternados com o incêndio numa boate em Santa Maria, bem no centro do estado do Rio Grande do Sul. Os números iniciais indicam mais de 230 mortos e quase igual número de feridos. Os sobreviventes podem ter sequelas para o resto de suas vidas por conta da fumaça exalada, isso sem falar nos graves e irremediáveis problemas psíquicos que os acompanharão até o final de seus dias. A maioria das vítimas fatais era composta por jovens entre 16 e 20 anos, ou seja, indiretamente, nossos filhos estavam lá numa situação que se pode repetir em outros lugares.
O episódio na casa noturna Kiss não é um caso isolado. Casas como essas existem aos milhares pelo país. Em linhas gerais são lugares pequenos que vivem abarrotados e em condições de segurança inadequadas e até inexistentes.
Choramos a morte de pessoas que poderiam ser nossos filhos e amigos por três erros básicos, típicos do país do jeitinho, da propina, da corrupção e do descaso do poder público:
1. Os alvarás de funcionamento da casa estavam vencidos. De duas, uma: ou a prefeitura de Santa Maria e seus órgãos foram negligentes ou, o que é bem provável, a casa pagou o “famoso cafezinho” à fiscalização para “deixar quieto”;
2. Fogo e material de alta combustão são altamente perigosos. Casas noturnas tem forros, isolamento acústico e muita fiação. Isso, qualquer criança que estuda o mínimo de Química (como é o meu caso) já sabe. Imagine colocar elementos pirotécnicos num espaço fechado, com muitas pessoas e com muito material pronto para queimar…
3. Seguranças fecharam as portas e não permitiram a saída das pessoas para não saírem “sem pagar” o consumo. Infelizmente, trata-se de uma carreira que precisa urgente regulamentação. Geralmente são pessoas grandes em tamanho, pequenas em cérebro. São mal preparadas, não são profissionais e geralmente fazem esses trabalhos como “bico” para ganhar uns trocados a mais.
O assunto sumirá da mídia
Nas próximas semanas, a mídia falará exaustivamente sobre o que ocorreu com o segundo maior incêndio do Brasil, só perdendo para o Gran Circus Norte-Americano, no longínquo 1961, quando mais de 500 pessoas morreram num incêndio criminoso. Muitos especialistas em tudo falarão sobre tudo. Mas nada trará de volta os mortos, nem recuperará as famílias dizimadas.
O assunto sumirá da mídia, aparecerá nas retrospectivas de final de ano e aguardaremos até a próxima tragédia.
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[Sylvio Micelli é jornalista]