Numa edição da revista Veja em que a Petrobras participou com anúncio de duas páginas, a prefeitura de Parauapebas inseriu o dobro: quatro páginas de “informe publicitário”, em encarte regional, para anunciar que “Uma das cidades mais promissoras do Brasil completa 25 anos”.
Não há dúvida quanto a isso. Os números apresentados pelo encarte dizem que Parauapebas é a 33ª cidade mais rica do país, considerando-se o Produto Interno Bruto. Seu PIB, de 2,1 bilhões de dólares, já é o segundo, maior do Pará, equivalendo à soma das riquezas produzidas pelos estados do Acre, Roraima e Amapá. Já o seu PIB/per capita (parte da riqueza que cabe a cada habitante do município) vai para o topo do ranking nacional. Deixa para trás São Paulo, que é a maior cidade do continente, e a capital do país, Brasília. É a que apresenta o maior superávit na balança comercial brasileira.
Com todas essas grandezas, Parauapebas é a 4ª cidade do interior do Brasil com maior potencial de consumo. O prefeito Valmir Mariano, que assumiu o cargo em 1º de janeiro, fez o anúncio para declarar que vai aproveitar esse potencial. Sua administração acaba de lançar o Programa de Desenvolvimento Estrutural com horizonte de vigência até 2025, quando a população, hoje de 160 mil habitantes, deverá chegar a 500 mil.
Parauapebas se torna, assim, o primeiro município paraense a tentar um planejamento de longo prazo em muitos e muitos anos. Nem Belém possui uma ferramenta dessas. Não li o programa e por isso ainda não posso avaliá-lo.
Dado ignorado
O que se destaca logo é que a prefeitura parte para um programa, sem um plano, que lhe daria visão mais ampla e duradoura, se bem feito. Parece ser um contraste entre proposições “estruturantes” (conforme o jargão do momento) para uma década e meia de vigência e medidas de natureza administrativa, fiscal e tributária.
Os números de Parauapebas em meio quarto século de vida política independente impressionam. Mais impressionante, contudo, é o contraste entre essas grandezas físicas e a realidade econômica e social do município. Se a prefeitura enriqueceu e os imigrantes mais bem qualificados que atraiu fizeram seu pé de meia, o cotidiano não expressa esses seus títulos de riqueza.
A explicação é óbvia: Parauapebas é a sede do maior empreendimento extrativista mineral do planeta. Os 120 milhões de toneladas que Carajás exportou no ano passado multiplicaram as rendas que circulam na China, no Japão e em outros locais do mundo. Mas não, na mesma proporção, a dos moradores de Parauapebas. As grandezas que comemoram podem vir a ter a duração do apito do trem da Vale se essa rota de escoamento de seu grande recurso, não renovável, não mudar.
Não sei se o programa do prefeito Valmir Mariano aborda, enquadra e direciona esse aspecto. Mas sua propaganda em Veja o ignorou.
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)