‘Há quase um mês, uma polêmica se alastra pelo Brasil: o governo acertou ou não ao editar a medida provisória que determina o fechamento dos bingos e proíbe as máquinas de jogos eletrônicos em todo o País? Os que condenam a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumentam com números fortes, capazes de se transformar em superpoderosos numa nação cuja maior preocupação é o desemprego. Afirmam que as 1,1 mil casas de bingo no Brasil movimentam R$ 5 bilhões por ano e são responsáveis por cerca de 120 mil postos de trabalho diretos e outros 200 mil indiretos. Do outro lado, os defensores do fim da jogatina usam argumentos pesados. Alegam que boa parte dos proprietários das casas lava dinheiro do tráfico de drogas, está ligada às máfias internacionais e é mestre nas artes de sonegar impostos e de remeter irregularmente divisas para o Exterior.
O combustível para a maior parte dessas acusações vem dos processos judiciais italianos números 15020/96R e 17974/97R, gerados pela Operazione Malocchio (operação mau-olhado), uma série de investigações comandada pela Direção Investigativa Antimáfia (DIA) contra associações ligadas ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro. Esses processos deram origem a várias cartas rogatórias distribuídas pelo mundo, entre elas uma que pousou na Justiça brasileira no final de 1998. No caso do Brasil, o objetivo era descobrir se havia participação intencional na lavagem de dinheiro por meio da jogatina de empresários instalados no País, particularmente do espanhol Alejandro de Ortiz Fernandez e de seus filhos brasileiros Alejandro de Viveiros e Johnny Viveiros Ortiz. Isso porque a família, que importava máquinas de jogos eletrônicos da Espanha com autorização do governo, teve como sócios o siciliano Lillo Rosario Lauricella, o calabrês Julian Filippeddu e seu irmão François, nascido na Córsega. Os três faziam parte de uma associação liderada pelo mafioso Fausto Pellegrinetti, que, segundo as investigações da Operazione Malocchio, arrecadou US$ 40 milhões com atividades ilegais. Deste total, US$ 10 milhões vieram parar no Brasil, aplicados na compra de cerca de 35 mil máquinas de jogos.
Durante oito dias, entre 1º e 8 de março, a reportagem de ISTOÉ percorreu tribunais italianos para saber o desfecho desses dois processos. Para isso, contou com a assessoria de um dos mais conceituados escritórios de advocacia do país, de Paulo José da Costa Jr. e de seu filho Fernando José da Costa. O primeiro, 79 anos, é professor titular de direito penal da Universidade de São Paulo (USP), professor livre-docente da Universidade de Roma, doutor honoris causa pela Universidade Católica Portuguesa, diretor das Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG) e cidadão italiano nomeado por méritos pelo atual governo. Escreveu 52 livros, 42 deles jurídicos. Fernando segue o caminho do pai. Aos 30 anos, é mestre em direito penal e professor da Fundação Armando Álvares Penteado, a Faap.
Sentenças – A primeira sentença, um calhamaço de 280 páginas divulgado em 9 de março de 2001, condena 58 pessoas a penas variadas. Entre elas não há nenhum empresário instalado no Brasil. A segunda decisão, proferida pelo Tribunal de Apelação de Roma em 14 de junho de 2002, aumenta algumas penas e diminui outras. De novo, nenhum empresário em atividade no Brasil é mencionado. No dia 6 de fevereiro último, a Justiça italiana publicou o acórdão do Tribunal de Cassação, a mais alta corte de Justiça da península. Foi a sentença de terceira e última instância para os dois processos instaurados pelo procurador Pietro Saviotti, também signatário da carta rogatória enviada ao Brasil. Com as três sentenças na mão, os advogados brasileiros fizeram uma varredura em cartórios e na Procuradoria da República italianos para descobrir se havia alguma outra investigação em curso envolvendo os três empresários da família Ortiz. Depois de três dias de peregrinação, juntaram nove atestados, todos negativos. ‘Todas as instâncias foram rastreadas e nada consta contra a família na Itália’, assegura Costa Jr.
Nada consta: Johnny e Alejandro, filhos de Ortiz, não são citados nas sentenças da Justiça italiana
Além das sentenças e das certidões negativas, Fernando e Costa Jr. fizeram uma petição ao procurador Pietro Saviotti pedindo informações sobre a situação da família Ortiz. De próprio punho, Saviotti fez o seguinte despacho: ‘Visto quanto consta no registro geral desta Procuradoria, confirmo que: Os senhores Ortiz acima identificados não foram objeto de investigação dos processos supracitados.’ Questionado por Costa Jr. sobre o que responderia se a Procuradoria brasileira o consultasse sobre a carta rogatória enviada por ele em 1998, disse: ‘Responderei que não tenho mais interesse.’
De próprio punho – A Kroll Associates, uma das mais conceituadas empresas particulares de investigação e consultoria de risco do mundo, fez nos últimos dias uma pesquisa sobre Ortiz e seus dois filhos na Itália e em outros países da Europa. A resposta, em inglês, foi feita em dois tópicos curtos. ‘Não foi revelado nada que possa indicar que esses indivíduos se envolveram em atividades controversas na Itália’ e ‘não há nada que sugira que eles tivessem, em algum momento, atraído a atenção das autoridades italianas por conexões com atividades criminais de qualquer tipo ou possam ter se associado a qualquer organização criminosa na Itália’. No Brasil, os Ortiz foram investigados pela Polícia Federal no inquérito número 12-0005, aberto em 12 de fevereiro de 1999 e encerrado no dia 6 de agosto de 2002. Nada foi encontrado sobre lavagem de dinheiro ou evasão de divisas. As pesquisas acharam apenas uma dívida fiscal de R$ 1,789 milhão, contraída entre 1995 e 1999, que está sendo paga parceladamente pelo Programa de Recuperação Fiscal do governo.
O procurador responde – Carta escrita por Saviotti
Pietro Saviotti atuou, do início ao fim, como procurador dos processos gerados pelas investigações da Operazione Malocchio (operação mau-olhado). Foi ele quem solicitou as cartas rogatórias distribuídas para vários países, entre eles o Brasil. Quase oito anos depois, com o julgamento encerrado em última instância, Saviotti, em resposta a uma petição apresentada pelo advogado Paulo José da Costa Jr., escreve de próprio punho: ‘Os senhores Ortiz não foram objeto de investigação dos processos supracitados.’ Em seguida, questionado sobre o que responderia, caso autoridades brasileiras o consultassem a respeito da carta rogatória enviada ao Brasil em 1998, disse: ‘Responderei que não tenho mais interesse.’
Risco constante: Pellegrini chefiou a Operazione Malocchio. Dos seis da foto, apenas ele (de paletó preto, entre os juízes Borselino e Falconi) e um dos outros três policiais estão vivos
O italiano Angiolo Pellegrini adora carros antigos, se rende com facilidade a uma conversa, mas costuma fugir de fotos. ‘Por favor, esqueça’, pediu, com voz baixa, mas firme, ao ver a câmera no prédio romano da UCSI, a divisão de segurança institucional dos carabinieri italianos, comandada por ele. ‘Tomo conta de gente muito importante, italiana ou estrangeira. Não é bom para o meu trabalho’, explicou. Nos anos 90, o então coronel liderou a Operazione Malocchio (mau-olhado), que revelou como uma associação formada por integrantes da N’drangheta, calabresa, e Camorra, da Campania, arrecadou US$ 40 milhões com o tráfico de drogas e distribuiu o dinheiro por vários países, entre eles o Brasil. Há certo sentido na cautela. Numa das fotos dessa reportagem, feita em 1984 no Rio de Janeiro, ele aparece entre os juízes italianos Paolo Borselino e Giovanni Falconi, que combateram e foram mortos pela máfia. Pellegrini cuidou da segurança dos dois. ‘Dos que aparecem na foto, apenas eu e outro policial estamos vivos. Os outros foram assassinados’, revela. Na sexta-feira 5, livre dos flashes, ele, hoje general, detalhou a operação.
ISTOÉ – Como atuava a associação?
Angiolo Pellegrini – O dinheiro da venda de droga colombiana era esquentado em contas suíças e, depois, alimentava uma diversificada e bem estruturada rede de negócios.
ISTOÉ – Quais os países envolvidos?
Pellegrini – A partir da França, eles trabalhavam com especulação imobiliária na Ilha de Cavallo, na Córsega. Da Síria e de Santo Domingo, importavam frutas exóticas. No Panamá e na Itália, além das frutas, negociavam metais. Na Áustria e na Holanda, eram operações comerciais. Bancos da Flórida (EUA) e paraísos fiscais em ilhas do Canal da Mancha, na Grã-Bretanha, serviam para girar parte dos recursos, dificultando o rastreamento. A Espanha era usada como base para mafiosos do grupo procurados pela Justiça italiana e para negócios de catering, o fornecimento de refeições para grandes grupos.
ISTOÉ – E o Brasil?
Pellegrini – Eles movimentaram US$ 40 milhões. Desse total, US$ 10 milhões foram investidos em 35 mil máquinas de jogos eletrônicos no Brasil pelo grupo de Lillo Rosario Lauricella.
ISTOÉ – Os parceiros brasileiros conheciam a origem do dinheiro?
Pellegrini – As investigações não deram base para afirmar isso.’
VENDA DA EMBRATEL
Guilherme Barros
‘Atrito e confusão cercam venda da Embratel’, Folha de S. Paulo, 12/03/04
‘Em meio a um enorme tiroteio, vence hoje o prazo preliminar para apresentação de propostas para a compra da Embratel, a maior operadora de telefonia de longo prazo do país, um negócio que pode superar US$ 1 bilhão.
São três os interessados na aquisição: um consórcio formado pela empresa Geodex e pelas três operadoras fixas (Brasil Telecom, Telemar e Telefônica); a companhia Telmex, do megainvestidor mexicano Carlos Slim; e o Telos, o fundo de pensão dos funcionários da Embratel.
Baseada num documento assinado em conjunto com a MCI -sua controladora que está em concordata-, a Embratel proibiu ontem o acesso das três operadoras fixas ao data-room (‘sala virtual’ com informações sobre a empresa vendedora para possíveis compradores).
O argumento usado pela Embratel é que ela não pode abrir informações estratégicas da empresa para concorrentes diretos, como é o caso das três fixas.
Na véspera, a Embratel apresentou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) denúncia de cartel contra as operadoras fixas.
Diante dos sinais vindos da Embratel, as três fixas chegaram a cogitar ontem a possibilidade de apresentar uma denúncia ao juiz americano responsável pelo processo de concordata da MCI, acusando os administradores da companhia americana de hostilizarem um possível comprador.
As fixas também avaliaram desistir da compra da Embratel, hipótese descartada no final do dia. O martelo só será batido hoje.
Na semana passada, o segundo homem da MCI, Douglas Webster, esteve no Brasil e teve um encontro sigiloso, no Rio, com os presidentes das três fixas, Fernando Xavier Ferreira (Telefônica), Octavio Azevedo (Telemar) e Arthur Carvalho (Brasil Telecom).
Nessa reunião, Webster teria reafirmado o interesse da MCI por uma proposta das fixas, fato que, para as três empresas, contradiz a denúncia de cartel e a decisão de negar a elas acesso ao data-room.
A proposta das fixas já está pronta há semanas. De acordo com o que a Folha apurou, será criada uma empresa cujo controle será da Geodex. Dessa forma, elas tentam driblar problemas com os órgãos de defesa da concorrência e com a Anatel.
Segundo a Lei Geral de Telecomunicações, uma empresa que é controladora de uma operadora de telefonia fixa não pode ser dona de outra operadora.
Estudo encomendado pelas fixas aponta que haverá concentração de apenas 8% do mercado total de telecomunicações caso a Embratel seja vendida à Geodex.
O governo acompanha o processo de perto. Alega interessa nacional, já que a Embratel opera satélites cujos dados são usados pelas Forças Armadas.
O outro grande concorrente à compra da Embratel, o mexicano Carlos Slim, mantém-se quieto. Credor da MCI em US$ 1,5 bilhão, o empresário faz parte do comitê de credores da companhia controladora da Embratel.
Esse comitê terá uma participação decisiva na avaliação das propostas para a compra da empresa.’
Cesar Baima
‘Empresa exclui teles fixas de ‘data room’ a pedido da Anatel’, Jornal do Brasil, 12/03/04
‘Apesar do interesse e dos boatos no mercado, é cada vez menos provável que as concessionárias de telefonia fixa – Telemar, Telefônica e Brasil Telecom – consigam comprar a Embratel. Com o respaldo da Agência Nacional de Telecomunicações, a americana MCI, controladora da Embratel, decidiu vetar o acesso às informações estratégicas da operadora, o chamado data room, ao consórcio formado pelas três (mais a provedora de internet Geodex) em seu processo de venda. Procurados, executivos das quatro empresas não quiseram comentar a proibição.
Na quarta-feira, a Anatel autorizou a Embratel a montar o data room para que os grupos interessados em sua compra possam avaliar o negócio. Embora não tenha citado especificamente o consórcio das teles fixas, o órgão regulador pediu à Embratel que preservasse informações que pudessem prejudicar a concorrência no setor, num sinal de que vetaria a venda para as rivais. Desde dezembro, quando as operadoras de telefonia fixa confirmaram o interesse na compra da Embratel, vários analistas apontaram impedimentos legais ao negócio, já que o modelo do setor de telecomunicações brasileiro, desenhado para a privatização do Sistema Telebrás, em 1998, proíbe o acúmulo de concessões.
Além da antipatia da Anatel, a proposta do consórcio enfrenta, agora, barreira imposta pela própria vendedora da Embratel. Com a decisão de vetar o acesso ao data room, a MCI indica não estar disposta a fechar negócio com as teles fixas.
A empresa, que usava o nome WorldCom, luta para emergir, nos próximos meses, de processo de falência aberto em julho de 2002 e, para isso, está se desfazendo de vários ativos que detém fora dos EUA. Assim, por trás da medida da MCI estaria o temor de ver uma venda da Embratel às rivais ir por água abaixo, o que poderia atrapalhar sua saída da concordata.
A MCI também conta com o interesse de outros grupos na disputa pela Embratel. Confirmaram estarem dispostos a comprar a mexicana Telmex, do bilionário Carlos Slim, que já controla a operadora de celulares Claro no Brasil, e um grupo de investidores liderado pelo Telos, fundo de pensão dos funcionários da própria Embratel.’
***
‘Brasil Telecom se explica hoje’, Jornal do Brasil, 12/03/04
‘A guerra de acionistas na Brasil Telecom (BrT) foi destaque na edição de ontem do The New York Times. Em entrevista ao jornal americano, a presidente da empresa, Carla Cico, negou que o Citigroup seja o controlador da operadora, posição que deverá reafirmar à Agência Nacional de Telecomunicações. Segundo o diário, a Anatel deu prazo até hoje para que a BrT explique a participação do Citigroup após várias reportagens na mídia brasileira afirmarem que o grupo financeiro americano tem uma fatia da empresa maior do que a que informa.
Para o New York Times, Cico classificou a questão como ‘uma tempestade num copo d’água’, embora não tenha conseguido informar o real tamanho da participação do banco na Brasil Telecom. O Citigroup foi parar no meio da briga por sua associação com Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity. No centro da disputa está a intenção da Telecom Italia de voltar ao bloco controlador da operadora, como autorizado pela Anatel.
Por meio de seu braço de investimentos, o Citigroup Venture Capital, o banco americano se associou ao Opportunity para participar da privatização das telecomunicações brasileiras. Com isso, foram criados dois fundos batizados CVC Opportunity, um destinado aos investidores nacionais e outra aos estrangeiros. Dantas já perdeu a gestão do primeiro, defenestrado pelos fundos de pensão, mas mantém o controle do segundo e, por força de acordo de acionistas, ainda dá as cartas na direção da BrT.’
Elvira Lobato e Rafael Cariello
‘Mexicano compra Embratel; fixas reclamam’, Folha de S. Paulo, 16/03/04
‘Depois de uma disputa de bastidores que durou quatro meses, a MCI anunciou ontem a venda, por US$ 360 milhões, do controle acionário da Embratel à Telmex (Teléfonos de México), do empresário mexicano Carlos Slim.
Um consórcio formado pelas grandes empresas de telefonia fixa do país (Telemar, Telefônica e Brasil Telecom) e o fundo de pensão da própria Embratel (Telos) também fizeram ofertas.
A MCI anunciou, em novembro passado, que procurava comprador para sua participação na Embratel como parte da reestruturação por que passa nos EUA. Envolvida em escândalos contábeis naquele país, a empresa havia pedido concordata em 2002.
O controle acionário da Embratel passou para as mãos da MCI em julho de 1998, no leilão de privatização da Telebrás. Na ocasião, a empresa pagou R$ 2,65 bilhões pelas ações.
Como reação ao anúncio da MCI, as três empresas de telefonia fixa informaram que irão contestar a decisão da companhia americana por meio de um recurso judicial nos Estados Unidos.
Elas dirão à Justiça norte-americana que ofereceram US$ 550 milhões pelas ações e que, como o negócio foi fechado por US$ 360 milhões, os credores da MCI nos Estados Unidos e os acionistas minoritários da Embratel no Brasil seriam prejudicados.
Procurada pela Folha, a MCI se recusou a falar sobre as razões que a levaram a rejeitar a oferta de maior valor.
Sem fazer menção ao consórcio formado pelas teles brasileiras, explicou, por meio de nota, que a decisão baseou-se não só no valor mas também na possibilidade de aprovação pelas agências regulatórias e no tempo que seria necessário para fechar o negócio.
A menção às agências regulatórias foi entendida pelos mercados como uma alusão à Lei Geral de Telecomunicações, segundo a qual quem controla uma operadora de telefonia fixa não pode ser dono de outra. Segundo uma interpretação dessa lei, as empresas fixas não poderiam comprar a Embratel porque acumulariam uma concentração excessiva no mercado brasileiro.
A MCI informou ainda que a venda está sujeita à aprovação da Corte de Falências dos EUA e das autoridades regulatórias brasileiras -Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Ontem, a operação já foi aprovada pelo comitê oficial dos credores da empresa -do qual faz parte o próprio mexicano Slim, cujo grupo comprou títulos da MCI durante o processo de concordata da americana.
Procurados pela Folha, bancos credores da MCI se recusaram a comentar a venda. Acionistas minoritários da Embratel no Brasil estudam uma ação judicial para barrar a venda.
Divergências
A Telmex, a MCI e a Embratel comunicaram oficialmente, ontem, que o negócio havia sido fechado por US$ 360 milhões. Segundo o comunicado da Telmex à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o contrato foi assinado na sexta-feira, após o fechamento das Bolsas nos EUA e no Brasil.
Executivos do consórcio das teles, no entanto, sustentam que a MCI continuou negociando com as concessionárias até a tarde de domingo, quando elas teriam concordado em fixar o preço em US$ 550 milhões.
O ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira, disse à Folha que dirigentes da MCI o informaram, na sexta-feira, que a venda seria efetuada para a Telmex.
Segundo o ministro, o governo não opinou sobre a negociação, nem tem preferência por um ou por outro candidato. ‘Trata-se de um negócio entre empresas privadas. O caso será examinado pela Anatel e pelo Cade no momento em que a MCI encaminhar a documentação para análise do governo’, disse ele.
A Anatel seguiu a linha do ministro e informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que só se manifestará sobre o caso quando o comprador e o vendedor solicitarem, formalmente, a aprovação do negócio.
Apesar de a MCI e a Telmex já terem comunicado a venda às autoridades brasileiras, o superintendente do fundo de pensão Telos, Roberto Durães, disse que não considera a situação definida.
‘Acho que ainda estamos no páreo’, declarou Durães, que não revela nem a formação do consórcio montado pela Telos nem o valor da oferta apresentada à MCI. No comunicado à CVM, a Telmex informou que manterá a Embratel como companhia de capital aberto e que seu objetivo é aumentar a participação no mercado de telefonia fixa brasileiro.
A Telmex é controlada, no México, pelo grupo Carso, do megaempresário Slim. O grupo já investiu cerca de US$ 6 bilhões em telefonia celular no Brasil por meio da compra e expansão da empresa de telefonia celular Claro, que engloba a BCP e a Tess.
Processo de venda da empresa teve polêmica jurídica
As três grandes concessionárias de telefonia fixa (Telemar, Telefônica e Brasil Telecom) cogitavam comprar a Embratel havia pelo menos dois anos, mas a hipótese despertou polêmica jurídica.
Há duas questões em discussão: o aumento da concentração do mercado e a legalidade da compra de uma concessionária de telefonia fixa por outra. Alguns advogados argumentam que a legislação do setor permite a operação, desde que não prejudique a concorrência.
Para evitar polêmica, foi criada uma holding, a Calais, cujo controle foi registrado em nome da Geodex, controlada pelo Goldman Sachs e por fundos gerenciados pelo CS First Boston. A Geodex ficou com 100% das ações ordinárias (com direito a voto) da Calais, e as teles fixas, com preferenciais. Caso o consórcio vencesse, a Embratel seria dividida em unidades, e a teles fixas ficariam com o atendimento aos clientes corporativos.’
FSP CONTESTADA
Painel do Leitor, Folha de S. Paulo
‘Painel do Leitor’, Folha de S. Paulo
’15/03/04
1964, 40 anos
‘Fora os aspectos folclóricos, o enviesamento da reportagem assinada pelo jornalista Sérgio Dávila (‘O dia em que Jango começou a cair’, Brasil, página A8 de anteontem) começa pelos números. Para a grande maioria dos historiadores, teriam comparecido ao comício de 13 de março de 1964, em defesa das reformas, cerca de 200 mil pessoas. Para Dávila, foram 100 mil. Para o insuspeito Elio Gaspari (‘A ditadura envergonhada’, página 40), a passeata comandada pela direita na capital paulista, em 20 de março, levou perto de 200 mil pessoas às ruas. Para o jornalista, foram 500 mil. Às vezes, é útil consultar um bom livro antes de escrever uma reportagem histórica.’ Márcia Capovilla (Rio de Janeiro, RJ)
Resposta do jornalista Sérgio Dávila – Ambos os números, o do comício e o da marcha, são objeto de divergência entre historiadores, jornais da época e mesmo testemunhas oculares.
14/03/04
‘A carta do leitor Washington Luiz de Araújo (‘Painel do Leitor’ de 10/3) permite duas considerações sobre o comportamento desta Folha em relação ao governo do PT. Realmente, o texto ‘A mídia e o PT’, do (brilhante) articulista Clóvis Rossi, foi egocêntrico. Mas isso não invalida o conteúdo ou mesmo a forma da cobertura feita pelo jornal. Comparar a situação atual com o caso da cobertura da Folha no governo Collor é demais. Mas está bastante claro que o PT está perdido, sem plano de governo ou pessoas competentes para executar o que quer que seja. Parece-me, aliás, que não apenas a Folha, mas todos os meios de comunicação e imprensa têm sido condescendentes ao extremo com esse partido. Após 15 meses, nada de bom foi feito; apenas se revelou uma faceta demagógica, populista, inepta e corrupta de um partido que sempre se considerou o paladino da ética e da moral. Cabe ao jornal e a seus articulistas continuar o trabalho investigativo, de maneira que possamos diminuir o percentual da população que nunca sequer ouviu falar sobre o ‘Waldogate’, conforme pesquisa recente do Datafolha.’ Carlos Eduardo Machado Munhoz (São Paulo, SP)
Caso Celso Daniel
‘A cobertura que a Folha vem fazendo do caso Celso Daniel torna-se, a cada dia, mais e mais exemplo de mau jornalismo. Apesar de novos fatos estarem, no mínimo, colocando em dúvida a tese de crime político defendida pelo Ministério Público, em confronto com o resultado das investigações feitas pela Polícia Civil, o jornal insiste em sonegar ao leitor uma visão geral e imparcial do caso. O fato de os depoimentos dos integrantes da quadrilha da favela Pantanal ouvidos até agora pela Justiça terem afirmado desconhecer o empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mentor intelectual do crime, foi simplesmente omitido. O jornal também não tem levado em conta que os acusados, à exceção do empresário, estão sendo defendidos por advogados pagos pelo Estado, que não estão acompanhando o caso nem atendendo efetivamente seus clientes. É fato que em 11/3 (Brasil, pág. A10), em matéria telegráfica, o jornal registrou o depoimento do preso conhecido como John, o qual deixa claro que a quadrilha não sabia que seqüestrava o prefeito de Santo André. Tudo teve uma grande dose de casualidade que o jornal insiste em não levar em conta. Lamentável!’ Heitor Lenival Souza (São Paulo, SP)
12/03/04
Governo Lula
‘A jornalista Eliane Cantanhêde cometeu enorme ato falho, por escrito, em sua coluna de ontem (Opinião, pág. A2). Escreveu: ‘E esses jornalistas, hein? Andam com um frenesi danado para ‘ligar o ministro José Dirceu a coisas irregulares’ (…). No lugar dele [o ministro Márcio Thomaz Bastos], qualquer um tenderia a fazer o mesmo: defender o colega’. E ela, inocentemente, só faz o mesmo na coluna: defender os colegas jornalistas. Aliás, ao ler a Folha, lembro-me cada vez mais das cidades do interior, com seus compadres e comadres aposentados, sem muito que fazer. Vivem a fofocar sobre os pequenos incidentes locais, verdadeiros ou falsos, passando a si mesmos a impressão de sagacidade. Quem só pensa no detalhe pensa pequenino.’ Silas Rickli Costa (Varginha, MG)
‘Com a atual política econômica e de juros, os impostos exorbitantes e os escândalos próximos ao governo, só vejo uma forma de o presidente Lula realizar a promessa de que ‘não há hipótese de o país não crescer em 2004’: comprar as terras vizinhas às nossas fronteiras.’ Carlos Gaspar (São Paulo, SP)
10/03/04
Governo Lula
‘Ao isentar a Folha e apontar para o restante da mídia a perseguição ao PT, Clóvis Rossi demonstra o quanto o jornal para o qual trabalha é egomaníaco. O pior é que não vejo exceção. Em todas as reportagens, sejam a respeito do governo federal ou de qualquer instância que conte com a presença do partido, a demonização é a tônica. Clóvis Rossi invoca o leitor como testemunha de que a Folha não persegue o PT. Como diria o ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus: Clóvis, me inclua fora dessa.’ Washington Luiz de Araújo (Rio de Janeiro, RJ)
‘O que sabemos da atividade de nossos governantes hoje -em especial do presidente Lula, que se notabiliza por fazer o contrário do que pregava- deve-se à Folha, que não se curva às pressões dos aduladores e não cede às seduções do poder. Seria lamentável se o jornal se entregasse a práticas laudatórias do governo petista; há jornais demais com essa triste função bajulatória. Desejo ardentemente que a Folha continue com sua postura crítica e que amplie em profundidade suas práticas de investigação.’ Jackson Vitoriano de Ulhoa (Rio de Janeiro, RJ)’