Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Eleição não é profissão de fé

A trajetória de trinta e um anos de luta pela radicalização da democracia e defesa dos direitos e da cidadania exige que o Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos se posicione sobre os acontecimentos que têm marcado o segundo turno das eleições para presidente da República. Além de ser uma campanha que mais parece uma guerra, dá sinais de retrocesso no processo frágil de democracia conquistado a duras penas pela maioria da sociedade brasileira.


O desespero para ganhar as eleições a qualquer preço levou o candidato da coligação PSDB/DEM/PPS a desviar o debate eleitoral para o obscurantismo com características fundamentalistas. A política foi substituída pela profissão de fé, como se fosse necessário para ser eleito apresentar provas da prática religiosa que cada um exercita. E com isso se acua o adversário, se chantageia.


A dificuldade de distinguir a religião dos direitos civis tem levado a campanha eleitoral por caminhos obscuros e ressuscitado organizações de triste memória, como a TFP e a Opus Dei, que tanta importância tiveram no apoio aos anos de chumbo da ditadura militar/civil. O preconceito e a discriminação contra as mulheres e os homossexuais ganha contornos de inquisição, faltando somente acender a fogueira. A discussão sobre o aborto tornou-se uma questão de posição pessoal. A grande mortalidade de mulheres que são vítimas do aborto ilegal e inseguro é ignorada, mesmo sendo a maior causa de internação de mulheres no SUS.


Proposta que não permita retrocessos


Até agora, não se permitiu ao eleitor conhecer, discutir e aprofundar propostas e compromissos de políticas públicas que façam avançar o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país. Os dois projetos distintos para o país não mostraram suas diferenças. A disputa eleitoral está reduzida ao campo da crença e da fé.


Por tudo isso, o Inesc se posiciona contra qualquer proposta de governo que ameace os direitos já conquistados e a radicalização da democracia brasileira. Defende o Estado laico. Apoia propostas de governo que se comprometem com um desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável e que combata todas as formas de desigualdade, preconceito e discriminação. E que não permita retrocessos.

******

Instituto de Estudos Socioeconômicos, Brasília, DF