Uma notícia publicada nesta quinta-feira pela imprensa brasileira dá conta de que o BNDES está anunciando a criação de restrições para a concessão de novos financiamentos a frigoríficos ou para a negociação de participação acionária do banco de fomento em empresas do setor.
A principal exigência é a de que os frogoríficos passem a participar do sistema de rastreamento do gado e seus derivados em toda a cadeia produtiva.
E por que essa medida é importante?
Porque uma das principais causas de destruição da floresta amazônica e de outros biomas da região é o avanço descontrolado da pecuária.
Calcula-se que o rebanho de gado na Amazônia chegue a 70 milhões de cabeças.
A medida só vai valer para os novos contratos e será implantada gradualmente.
Mas já é alguma coisa.
As operações já realizadas não estão sujeitas à nova condição, mesmo se os frigoríficos ainda estiverem recebendo parcelas do empréstimo.
Além disso, a exigência de rastreamento não atinge imediatamente todo o rebanho.
A medida determina o crescimento gradual do percentual do rebanho a ser rastreado e do tempo de rastreamento.
Em 2012 os rebanhos deverão ser monitorados durante seis meses por ano, e até 2016, todas as fazendas fornecedoras de frigoríficos que buscam apoio do BNDES deverão ter 100% de seus animais rastreados desde o nascimento até o abate.
Entre os efeitos esperados está a redução das áreas usadas para a criação de gado.
Com o descontrole atual, a prática mais comum na Amazônia e em outras regiões é queimar a vegetação, fazer crescer o pasto rústico e soltar os animais.
Como o rastreamento é mais difícil em áreas maiores, pois vai exigir a localização de cada animal para a implantação de um chip ou de um anilho de identificação, calcula-se que os produtores serão levados a procurar outro modelo, com o gado confinado em áreas restritas, o que deve reduzir a pressão sobre a floresta.
O papel da imprensa
A imprensa pode fazer muito em defesa da Amazônia dando destaque a notícias desse tipo.
Pode, por exemplo, identificar as empresas que estiverem se adiantando às novas exigências do BNDES, indicando aos consumidores onde encontrar carne e outros produtos da pecuária que não sejam resultado de desmatamento.
Há dois meses, por exemplo, as principais redes de supermercados do País anunciaram a decisão de não comprar carne de fornecedores condenados por crimes ambientais, mas tem sido difícil selecionar esses fornecedores.
A imprensa pode ajudar, dando mais visibilidade aos casos identificados.
O frigorífico Bertin, por exemplo, é uma das empresas processadas pelo Ministério Público do Pará por comprar gado de áreas de desmatamento.
Se um jornal ou revista fizer um cadastro dos processos semelhantes, pode-se oferecer aos leitores um guia de compras corretas.
Por outro lado, a imprensa também precisa perder o temor de parecer oficialista ao noticiar os casos de comportamento responsável.
A indústria Nike anunciou nesta quarta-feira uma medida radical em defesa da floresta: não vai mais comprar couro de gado proveniente da região amazônica.
O grupo Wall Mart, que já havia suspendido as compras dos frigoríficos processados no Pará, não aceitou o Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre as empresas e o Ministério Público e só vai voltar a comprar desses fornecedores quando eles aceitarem se submeter a uma auditoria independente.
Sabe-se que a questão da sustentabilidade passa pelo controle de toda a cadeia produtiva.
A ilegalidade e informalidade que caracterizam a pecuária na Amazônia não podem ser contidas apenas pela fiscalização dos órgãos governamentais.
O melhor controle é feito pelo cidadão comum. Se as pessoas deixarem de comprar produtos originados de processos danosos ao meio ambiente ou desrespeitosos com relação aos direitos trabalhistas, a situação pode mudar.
Mas a imprensa precisa comprar essa briga.
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Jornalista