Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Em meio à opressão, elas fazem sua voz ser ouvida

A organização Repórteres Sem Fronteiras [6/3/08] pediu esta semana, em razão do Dia Internacional da Mulher (8/3), apoio a mulheres jornalistas, ativistas, blogueiras e internautas que tentam lutar por seus direitos diante da crescente repressão de governos e ameaças de grupos religiosos. A organização cita países como Irã, Afeganistão, Egito e Bangladesh para exemplificar regiões onde as mulheres sofrem com a falta de liberdade. ‘Casos de prisão, tortura, condenação e ameaças de morte contra elas devem ser expostos’, declarou a RSF. ‘É inaceitável que hoje, em 2008, as pessoas ainda possam ser presas ou ameaçadas por levantar questões sobre seus direitos’.


Repressão


Muitas mulheres lutam pela liberdade de expressão no Irã usando a internet para driblar a censura no país. No ano passado, o governo prendeu 40 delas, incluindo 32 jornalistas e blogueiras, por participarem de uma manifestação em Teerã e fazerem uma campanha online pelos direitos das mulheres. A revista feminista Zanan foi suspensa em janeiro deste ano acusada de ‘danificar a mente’ de suas leitoras; mais de 30 pessoas da equipe perderam seus empregos. Parvin Ardalan, editora do sítio Wechange, que defende os direitos das mulheres no Irã, foi presa em 3/3 quando pegaria um vôo para Estocolmo para receber um prêmio de direitos humanos. Seu passaporte foi confiscado. Em 2006, ela foi presa por organizar um protesto pacífico pela abolição de leis discriminatórias às mulheres iranianas.


No Afeganistão, o estudante e jornalista Sayed Perwiz Kambakhsh, de apenas 23 anos, foi condenado à morte por defender os direitos das mulheres. Ele foi preso em outubro, acusado de blasfêmia e de isultar o Islã. Após pressão de líderes religiosos e de autoridades locais, Kambakhsh foi condenado à morte em janeiro – em um julgamento a portas fechadas em que não teve direito a advogado. Seu crime? Distribuir um artigo que pegou da internet.


Ameaça e intimidação


A escritora e feminista Taslima Nasreen, de Bangladesh, vive sob proteção policial na Índia, desde novembro, após receber ameaças de morte por denunciar violações dos direitos das mulheres cometidas em nome do Islã. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, queria homenageá-la com o prêmio Simone de Beauvoir quando visitou a Índia, no início do ano, mas desistiu de fazê-lo para evitar problemas com grupos muçulmanos poderosos. A escritora egípcia Nawal Saadawi, fundadora da Associação das Mulheres Árabes pela Solidariedade, também foi ameaçada e buscou refúgio na Europa.


No ano passado, policiais passaram a checar a identidade de todas as pessoas que iam à casa da jornalista argentina Claudia Acuña, fundadora da agência de notícias online La Vaca, depois que ela escreveu um livro sobre o envolvimento de autoridades em casos de prostituição em Buenos Aires.


Estes são apenas alguns casos, entre tantos outros, citados pela RSF para lembrar que, no Dia Internacional da Mulher, não basta haver comemorações e homenagens; é preciso que se tenha consciência do martírio por que passam milhares de mulheres nos mais diferentes países em busca de seus direitos.