Eu gostei! A postura do Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, de uma maneira geral foi bastante equânime no trato com os ‘principais’ candidatos à presidência da República: Dilma, Serra e Marina (necessariamente nessa ordem, segundo o Ibope). As abordagens foram realmente neutras e tentou-se a todo tempo não repetir os desfeitos da emissora no passado, no caso ultra-repetido da edição do debate Collor X Lula. O casal global conseguiu pesar a mão corretamente, abordando temas concretos, inerentes às trajetórias dos candidatos e, principalmente, ao interesse público.
Entretanto, há uma crítica que se pode fazer: a diversidade cultural brasileira não é feita de ‘candidatos principais’. Se, por um lado, as entrevistas realizadas foram justas, não se pode esquecer daquelas que não foram feitas. Os candidatos ‘secundários’, Ey-Ey-Eymael, Ivan Pinheiro, Levy Fidelix, Plínio Sampaio, Rui Costa Pimenta e Zé Maria não terão os preciosos 12 minutos globais do horário nobre para difundir suas propostas – por mais constrangedoras, utópicas, possíveis e idealistas que sejam. Em tempo: melhor do que somente assistir, o G1 disponibilizou a transcrição na íntegra, o que nos ajuda a perceber detalhes impossíveis no vídeo.
Que os juristas digam o que quiserem em relação ao tratamento igualitário dos candidatos segundo vagas na Câmara ou representação partidária, mas num país tão diverso e miscigenado (leia O Povo Brasileiro, de Darcy), os nossos meios de comunicação precisam, urgentemente, começar a repensar sua postura, indiferente do que a lei desobriga. Eu, por exemplo, já tenho em quem votar, mas gostaria de poder ver e ouvir mais sobre o aerotrem do Levy Fidelix, que me parece fazer todo sentido em nosso trânsito infernal. Queria saber também o que a Social Democracia Cristã do Eymael propõe na prática para os brasileiros. Mais do que candidatos sem propostas, o Brasil gera candidatos sem voz. Ah, o comunismo contemporâneo do Ivan Pinheiro também seria muito válido para repensar algumas de nossas posturas.
Acesso à diversidade
Os chamados candidatos ‘nanicos’ representam uma massa de pessoas que, pelo menos à primeira vista, ignoram as propostas dos ‘principais’ (como diz o axé baiano ‘um homem no meio com duas mulheres fazendo sanduíche’). Mesmo que, na prática, eles não tenham a menor chance financeira, social e estrutural de serem eleitos, revisitando os portais de cada um pude notar algumas propostas que os ‘principais’ poderiam assumir como bandeira e até como projetos de investimento no Brasil. Tem muita proposta boa lá, vale a pena entender essas coisas a fundo. Sou fã de carteirinha de muito do que dizem os nanicos, sobretudo, do bom humor com que constroem suas críticas.
Distante de querer fazer apologia a um ou outro candidato principal ou nanico, reitero a postura de que os nossos principais meios têm, sim, a obrigação de tratar a todos igualmente. Quem não quer ver o que um nanico tem a dizer, que troque de canal ou vá ao banheiro enquanto ele é entrevistado, mas ele deve estar onde os principais estão. A nossa postura de jornalista deve ser a de oferecer a todas as pessoas o acesso a essa diversidade, que me parece muito mais incompreendida do que interessante.
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Jornalista e professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) em Passos, Bambuí, MG