Escrever bem é pensar bem. Quem tirou este ditado do esquecimento foi, aparentemente, o grande jornalista e exímio prosador mineiro Otto Lara Resende. Erro de concordância, além de doer nos ouvidos, atravanca o pensamento, trava a comunicação. Cria ruídos, comunica erradamente.
É bem-vinda e salutar a polêmica sobre a correção da linguagem motivada pelo livro didático Por uma vida melhor, do Ministério da Educação, que sugere uma indulgência com os erros de gramática. Este contencioso é um dos melhores serviços que a imprensa pode prestar à sociedade.
Mas se a imprensa está efetivamente empenhada em levar adiante a pendência conviria que examinasse o seu próprio desempenho como ferramenta para a divulgação das normas cultas.
Missão da mídia
Não podemos deixar de reconhecer que a mídia impressa escreve mal, nosso rádio e nossa TV expressam-se pior ainda. São muitas as exceções, mas também muitas são as comprovações da regra.
Nossos blogs repousam nos impropérios e o Twitter – como sentenciou o escritor e prêmio Nobel de Literatura José Saramago (1922-2010) – está próximo dos grunhidos. Acontece que estes grunhidos muito em breve poderão constituir um jargão. Este é o perigo, porque o jargão é uma ‘linguagem viciada, disparatada’, segundo o dicionarista Antonio Houaiss (1915-1999).
O jargão, na verdade, é uma sublíngua que pode até ser reabilitada e requalificada, mas isso leva séculos. A reversão só acontecerá quando esse jargão for capaz de produzir uma literatura e expressar idéias abstratas.
Cabe à mídia, tanto impressa como falada, evitar que o idioma se transforme em jargão. Ela – e não o governo – será a sua primeira vítima.
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