Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Escrever, falar, pensar

Escrever bem é pensar bem. Quem tirou este ditado do esquecimento foi, aparentemente, o grande jornalista e exímio prosador mineiro Otto Lara Resende. Erro de concordância, além de doer nos ouvidos, atravanca o pensamento, trava a comunicação. Cria ruídos, comunica erradamente.


É bem-vinda e salutar a polêmica sobre a correção da linguagem motivada pelo livro didático Por uma vida melhor, do Ministério da Educação, que sugere uma indulgência com os erros de gramática. Este contencioso é um dos melhores serviços que a imprensa pode prestar à sociedade.


Mas se a imprensa está efetivamente empenhada em levar adiante a pendência conviria que examinasse o seu próprio desempenho como ferramenta para a divulgação das normas cultas.


Missão da mídia


Não podemos deixar de reconhecer que a mídia impressa escreve mal, nosso rádio e nossa TV expressam-se pior ainda. São muitas as exceções, mas também muitas são as comprovações da regra.


Nossos blogs repousam nos impropérios e o Twitter – como sentenciou o escritor e prêmio Nobel de Literatura José Saramago (1922-2010) – está próximo dos grunhidos. Acontece que estes grunhidos muito em breve poderão constituir um jargão. Este é o perigo, porque o jargão é uma ‘linguagem viciada, disparatada’, segundo o dicionarista Antonio Houaiss (1915-1999).


O jargão, na verdade, é uma sublíngua que pode até ser reabilitada e requalificada, mas isso leva séculos. A reversão só acontecerá quando esse jargão for capaz de produzir uma literatura e expressar idéias abstratas.


Cabe à mídia, tanto impressa como falada, evitar que o idioma se transforme em jargão. Ela – e não o governo – será a sua primeira vítima.


 


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