Um grupo de escritores, incluindo os Nobel de Literatura Gunter Grass e Nadine Gordiner, acusou líderes da União Européia e da União Africana de covardia por não colocarem as crises no Zimbábue e no Sudão entre os temas de discussão da cúpula Europa-África, marcada para os dias 8 e 9/12, em Lisboa. Na ocasião, os políticos participarão de debates sobre comércio e migração, entre outros assuntos.
A convenção – primeira em sete anos – gerou controvérsias por ter, entre seus convidados, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe – amplamente criticado por ‘afundar’ a economia do país e por censurar a oposição política. Mugabe está no poder desde 1980. Alguns ativistas também são contrários à participação de líderes do Sudão, devido ao suposto apoio por parte do governo às milícias do país, acusadas de atrocidades na castigada região de Darfur, que vem sendo destruída pela violência desde 2003. ‘Nenhuma parte do encontro será dedicada à discussão formal ou informal sobre a situação em Darfur e no Zimbábue. O que podemos dizer desta ‘covardia política’?’, desabafaram os 17 escritores em carta aberta aos líderes europeus e africanos.
Além do alemão Grass e da sul-africana Nadine, o escritor nigeriano Wole Soyinka e o ex-presidente da República Checa e dramaturgo Vaclay Hayel também assinaram a declaração. ‘Milhões de africanos e europeus esperam que Zimbábue e Darfur sejam prioridade na agenda do encontro. Não é tarde para fazê-lo’, diz a carta, divulgada pela ONG Crisis Action. Segundo uma porta-voz da instituição, diversos jornais africanos e europeus publicarão o documento.
A favor e contra
Os 53 membros da União Africana defendem a participação de Mugabe na cúpula; já a maioria dos países-membro da União Européia é contrária à idéia. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ameaçou boicotar o evento para não ter de dividir a mesa com Mugabe. O Reino Unido, que governou o Zimbábue até sua independência, em 1980, deve mandar uma delegação de representantes júnior. O primeiro-ministro checo, Mirek Topolanek, afirmou que provavelmente não irá comparecer. Já Alemanha e Portugal – este último, presidente da União Européia neste semestre – estão entre aqueles que não querem que a polêmica impeça que o encontro seja realizado.
O presidente zimbabuano e mais outros 100 membros de sua administração estão proibidos de viajar por países da União Européia após sanções impostas em 2002, ano em que ele venceu eleições classificadas por cientistas políticos internacionais como ‘fraudulentas’. Informações de Paul Simão [Reuters, 3/12/07].