Há algumas questões que gostaria de expor, não para prejudicar alguém, nem até mesmo no sentido de julgar os fatos. Meu objetivo é poder apresentar o que neste momento me causa angústia, digo politicamente. No entanto, quando tomo conhecimento percebo que também é um fator desencadeante em minha vida e dou-me conta que também pessoalmente sou conduzido a refletir certos acontecimentos que nos últimos anos vêm instituindo nossos modos de pensar e agir: falo da política, não no sentido partidário, embora não possa esquecer esse aspecto, mas a política advinda da polis grega que transpassa o cotidiano, ascende vontades e transgride as fronteiras. A palavra política designando a arte, ou a ciência, da organização e da administração das ‘coisas públicas’, do bem comum.
Neste espaço-tempo que habitamos diariamente, escutamos: ‘Eu não gosto de política’, ‘Política é para ladrões’ ou então, ‘Não há coisa mais suja do que a política’. No que as pessoas se baseiam para afirmar, com tanta veemência, que a política é algo ruim ou sujo? Eu gostaria de saber a resposta para essa pergunta, mas acredito que ela não tem uma única resposta. Se perguntarmos a diferentes pessoas o que elas pensam a respeito da política, teremos respostas muito distintas, mas essa questão torna-se atrativa quando se parte do pressuposto que a política é constituída por seres humanos, homens e mulheres que embarcam nesse terreno, muitas vezes ‘tortuoso’, como dizem os analistas. Este é um ponto interessante quando uma pessoa constitui algo e quando ela é constituída por algo?
Aprofundando um pouco a questão, tudo nos remete a um caminho de formar e ser formado, ou seja, nem mesmo quando dizemos que não participamos da política estamos deixando de participar dela, pois ela trafega entre nós sem mesmo percebermos ou aceitarmos. Essa é uma verdade da qual não podemos fugir e sem a aceitarmos não podemos continuar este texto. Porém, quando uma pessoa diz não gostar de política ela está assumindo uma posição importante dentro do cenário social, pois está subjugada a aceitar as decisões que os outros tomarem por ela. Portanto, a pessoa que se limita a não participar das decisões políticas está também afirmando que quer que outros governem os rumos da sua vida.
Entre o voto e a esperança
Devemos nos dar conta que quando respondemos a uma pergunta estamos fazendo uma opção, mas ao mesmo tempo estamos respondendo a outras perguntas associadas que, muitas vezes, não se encontram claramente expostas. Este é um ponto que devemos sentar e questionar. Quais as respostas em nossas vidas que deixamos de dar em nome de alguém ou algo que se sobrepõe aos nossos interesses? Em diferentes momentos abrimos mão de nós mesmos, pois acreditamos que outros podem fazer melhor ou estão em melhores condições, mais ‘capacitados’ do que nós para resolver as situações, embora isso talvez não seja verdade. Mas vou apresentar abaixo um exemplo que vai clarear um pouco as questões que tenho feito.
Há uma situação que tem me tirado o sono e, de fato, me perturbado nesses últimos períodos eleitorais: a baixa participação dos eleitores entre 16 e 17 anos. Todavia, precisamos entender primeiro o sentido das eleições: por que elas existem? Qual o objetivo das eleições? No Brasil, as eleições são consideradas uma conquista popular, onde as pessoas ganharam o direito de participar e escolher, entre os seus, aqueles que, em tese, estariam em melhor condição de conduzir as decisões, representando e legitimando a confiança depositada pela maioria dos brasileiros e, assim, governar o Brasil. Figurativamente, são estes os princípios de liderança para uma nação, estado ou cidade.
A iniciativa da opção democrática é defendida pela maioria das pessoas que percebem na democracia a possibilidade de viver em liberdade sem os preceitos de uma ditadura, seja ela totalitária, partidária ou até mesmo militar. Veja bem, na minha opinião, o ato de votar é também de esperança, pois as pessoas depositam em si mesmas o direito e o dever de escolher, acreditando que as coisas vão melhorar e que os seus problemas serão solucionados. Pense com cuidado nessa minha afirmação e veja se não é assim. Se não for, me diga, por favor.
Chegamos ao ponto de esclarecer a motivação deste texto e a relação que estou propondo e compartilhando com você, caro leitor. Logo quando li nos jornais que os jovens entre 16 e 17 anos estão participando menos das eleições, essa notícia me causou uma certa estranheza e, em seguida, uma certa aflição porque me dei conta que há uma relação íntima entre o ato de votar e a esperança. Esse fato levou-me a um questionamento: estarão os jovens descrentes no regime democrático? Se a resposta for sim, acho importante debatermos a respeito disso e quero convidar você a participar, dar a sua voz, manifestar a sua opinião.
******
Psicólogo social, Porto Alegre, RS