Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estudante condenado à morte apela de sentença

O estudante de jornalismo afegão Sayed Parwez Kambakhsh, condenado à morte por insultar o Islã, negou a acusação perante o tribunal de apelação, no domingo (18/5). Kambakhsh, de 24 anos, alegou que confessou ter questionado o tratamento da religião às mulheres porque havia sido torturado.

O estudante, que cursa jornalismo na universidade Balkh, em Mazar-i-Sharif, e escreve para jornais locais, foi preso em outubro de 2007. A transcrição do julgamento contra Kambakhsh, ocorrido em janeiro, foi lida em público na audiência de apelação. Nela, é dito que o acusado perturbou aulas na universidade ao questionar os alunos sobre os direitos das mulheres sob o Islã, além de distribuir um artigo sobre o tema aos colegas e escrever três parágrafos adicionais ao texto. No julgamento a portas fechadas, Kambakhsh não teve advogado de defesa e contou apenas com três minutos para se defender.

Defesa

Na audiência de apelação em Cabul, no domingo, o estudante também não teve advogado. Mais de 150 pessoas – incluindo observadores internacionais e jornalistas – lotaram o tribunal. O julgamento foi adiado por uma semana, até que Kambakhsh encontre um advogado e prepare uma defesa escrita.

‘Eu sou muçulmano, e eu nunca me permitiria escrever um artigo como este. Estas acusações não fazem sentido’, afirmou ele em sua declaração. ‘Estas acusações vieram de dois professores e outros alunos por causa de inimizades pessoais. Fui torturado pelo serviço de inteligência na província de Balkh e me fizeram confessar que eu escrevi três parágrafos do artigo em questão’. Kambakhsh é acusado de autoria da frase ‘Esta é a verdadeira face do Islã… O profeta Maomé escreveu versos do sagrado Corão em benefício próprio’.

O promotor Ahmad Khan Ayar afirmou na audiência que a sentença contra o estudante foi ‘a decisão correta’ de acordo com a lei islâmica e a constituição afegã. ‘Kambakhsh insultou o Islã ao escrever aqueles parágrafos, e insultou o profeta Maomé. Hoje, eu peço ao tribunal de apelação que mantenha a sentença de morte’.

Apelo internacional

O caso de Kambakhsh atraiu atenção internacional, com pedidos de organizações de direitos humanos para que fosse anulado. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA chegou a se dizer preocupado que o estudante de jornalismo tenha sido sentenciado à morte apenas por ‘exercer sua profissão’.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas afirmou temer que Kambakhsh tenha virado um alvo porque seu irmão, Yaqub Ibrahimi, havia escrito artigos sobre violações dos direitos humanos e questões políticas locais. Ibrahimi contou que a família chegou a entrar em contato com mais de 10 advogados, que inicialmente se interessaram em pegar o caso, mas depois mudaram de idéia. Informações de Alisa Tanga e Rahim Faiez [Associated Press, 18/5/08].