Trinta mil jornalistas são esperados em Pequim para a cobertura dos Jogos Olímpicos, em agosto. A China promete liberdade aos profissionais de imprensa neste período, mas representantes do governo não garantem claramente que esta liberdade seja irrestrita. ‘Nós damos as boas vindas à mídia de todo o mundo que vem para Pequim reportar sobre as Olimpíadas. Manteremos nossa promessa de fornecer o apoio necessário aos repórteres que cobrem o evento’, afirmou na semana passada o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Jiang Yu. ‘Em contrapartida, espero que suas reportagens sejam objetivas e equilibradas, e que eles mostrem sua ética profissional e a qualidade de seu trabalho’.
No fim da semana passada, uma conferência em Paris, patrocinada por grupos em defesa da liberdade de expressão, debateu as condições de trabalho que os jornalistas devem encontrar em Pequim, em agosto. Reprimendas e até expulsão por escrever sobre temas sensíveis ao Partido Comunista Chinês, além de pressão política e vigilância policial, foram itens que entraram na lista. O ponto de vista da China ficou de fora da discussão. Segundo os organizadores da conferência, representantes oficiais dos Jogos de Pequim, membros do Comitê Olímpico Internacional, grandes produtores de materiais esportivos e a rede de TV NBC, que detém os direitos de transmissão dos Jogos nos EUA, não aceitaram ou não responderam ao convite.
Nacionalismo
Os recentes conflitos no Tibete têm posto em dúvida o cumprimento das promessas chinesas. Em conseqüência aos protestos antigoverno, a China chegou a prender jornalistas e proibir sua visita a determinadas regiões do país. Segundo Merle Goldman, da Universidade de Harvard, o governo chinês ‘está assustado com sua própria população’. De fato, o crescimento de um nacionalismo exacerbado entre jovens chineses é, na opinião de Merle, ‘algo muito perturbador’. Recentemente, repórteres ocidentais que trabalham no país chegaram a receber telefonemas, e-mails e mensagens de texto com ameaças – supostamente de cidadãos chineses revoltados com o que chamam de ‘cobertura tendenciosa‘ dos protestos no Tibete. Emissoras de TV – em especial a CNN – também viraram alvo da raiva chinesa. A situação se complicou ainda mais quando diversos sítios de internet divulgaram números de celular e outras informações de repórteres da agência Associated Press e dos jornais Wall Street Journal e USA Today.
Cuidados
Ainda assim, Steve Wilson, editor esportivo da AP, afirmou no encontro em Paris que a agência espera que seus jornalistas possam trabalhar em Pequim da mesma maneira que trabalharam em Jogos anteriores. Já a jornalista chinesa Gao Yu, que ficou presa por seis anos na década de 90 por ‘vazar segredos de Estado’, alertou que repórteres estrangeiros devem esperar vigilância policial. ‘Se você falar apenas sobre esportes, eu acho que você terá bastante liberdade. Mas jornalistas terão problemas se começarem a abordar assuntos que não deixam o governo chinês feliz’, completou Gao. Entre estes assuntos, estão Taiwan, Tibete, o tratamento do governo ao movimento espiritual Falun Gong, banido do país, dissidência política e Aids.
A jornalista diz que os correspondentes estrangeiros podem enfrentar expulsões ou alertas governamentais. Expulsões têm sido raras na última década, mas alertas são comuns. Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores reclamou com o chefe da sucursal da CNN em Pequim depois que o comentarista Jack Cafferty se referiu aos líderes chineses como criminosos estúpidos.
Negócios
Em tempos de crescimento de mercado na China, os riscos sofridos pelos jornalistas estrangeiros viram lucro: na conferência em Paris, o advogado Li Baiguang deixou cartões com os participantes anunciando uma linha de telefone 24 horas por dia ‘para jornalistas estrangeiros que precisem de assessoria legal durante os Jogos Olímpicos’. ‘Em caso de detenção, lembre-se de que você tem o direito de permanecer calado e consultar um advogado’, dizia o cartão. Informações de John Leicester [AP, 19/4/08].