Segundo a revista Economist [6/4/06], o livro escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre seu período de governo, A Arte da Política: a História que Vivi, é fascinante – tão fascinante que é uma pena que sua versão em inglês, The Accidental President of Brazil – A Memoir (Presidente do Brasil por Acaso – Memórias, tradução livre), seja tão resumida.
Em um dos episódios descritos no livro, o ex-presidente relembra como se tornou ministro da Fazenda no governo do então presidente Itamar Franco. FHC, que era ministro das Relações Exteriores, estava em um jantar em Nova York quando recebeu um telefonema de Itamar, convidando-o para o cargo. Era um desafio. A inflação chegaria a atingir 2.500% naquele ano e três ministros da Fazenda já haviam passado pelo governo de Itamar em sete meses. FHC conta que foi dormir acreditando ter convencido o então presidente a repensar sua indicação. Mesmo assim, Itamar o nomeou. Foi este ‘acidente’ que levou o sociólogo a ser eleito duas vezes presidente do Brasil.
Estabilidade
A revista elogia a atuação de FHC como ministro da Fazenda, alegando que os brasileiros lhe foram gratos pelo Plano Real e o elegeram presidente. A Economist afirma que, durante seus oito anos de mandato, ele trouxe estabilidade econômica e política para um país que raramente desfrutou desta situação.
Passagens da vida acadêmica e pessoal do ex-presidente são recontadas no artigo, como a amizade de FHC com Lula, quando este era líder sindical. A Economist conta que o ex-presidente ficou magoado ao ser chamado pelo atual de ‘neoliberal’; mas se vingou quando Lula seguiu as mesmas políticas liberais que ele havia estabelecido.
FHC, um social democrata, afirma que durante sua carreira política foi criticado pela direita e pela esquerda. Pouco antes de assumir a presidência, um jornal brasileiro o citou dizendo: ‘esqueça tudo o que escrevi no passado. O mundo mudou.’ De acordo com a Economist, o ex-presidente revela, no livro, que a citação foi inventada.
Negros no Brasil
Na avaliação do ex-presidente, a decepção tomou lugar da esperança no Brasil atualmente. Mesmo assim, ele arrisca afirmar que o país, a quarta maior democracia do mundo, irá se tornar uma das maiores economias mundiais nas próximas décadas. Apesar disto, continua sendo um país sobre o qual os americanos não sabem muita coisa. Bush teria certa vez perguntado a FHC: ‘Há negros no Brasil?’.
A revista conclui afirmando que é difícil pensar em um líder mais qualificado para guiar o país e para enfrentar o desafio de fazer com que a democracia funcione mais amplamente na América Latina. ‘É uma pena que as editoras americanas tenham optado por não traduzir o livro, mas sim publicar uma versão editada e resumida da edição em português’, relata o artigo. A editora contratou Brian Winter, ex-jornalista da Reuters, para ajudar FHC a produzir o livro destinado aos leitores americanos. ‘Ele foi, acima de tudo, um dos mais impressivos presidentes da América Latina de seu tempo, ou até, na verdade, de todos os tempos’, elogia a Economist.