Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fantástico entrevista mãe de Isabella Nardoni

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de maio de 2008


ENTREVISTA
Folha de S. Paulo


Mãe suspeita que Isabella foi morta por ciúme


‘Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella, 5, afirmou que já constituiu uma advogada para acompanhar de perto, como testemunha de acusação, o possível processo contra Alexandre Nardoni e Anna Jatobá pelo assassinato de sua filha. Ela disse em entrevista ontem no ‘Fantástico’, da TV Globo, acreditar que o casal é suspeito da morte da menina, em 29 de março, e que é possível que agiu motivado por ciúmes. Eles negam -dizem que uma terceira pessoa cometeu o crime.


‘De uma forma ou de outra a imagem dela [Isabella] era a minha imagem’, afirmou. O promotor Francisco Cembranelli já havia afirmado que a discussão entre o casal que culminou na morte foi motivada pelo ciúmes de Anna Jatobá em relação à mãe de Isabella.


Ana Carolina disse ainda que busca forças em Deus para buscar Justiça para a filha. ‘Porque a Justiça vai ser feita’, disse. A mãe da menina disse também que, ao chegar ao prédio de Nardoni, ainda encontrou Isabella com vida. ‘Ajoelhei na frente dela e coloquei a mão no peito. Disse: ‘Filha, fica calma que a mamãe está aqui.’


A mãe de Isabella contou ainda que não falava com Nardoni e, quando precisava tratar de assuntos como a pensão de R$ 250 de Isabella, sua saúde ou educação, tinha que tratar com o pai dele, Antonio Nardoni. Segundo ela, nem no dia do enterro de Isabella Nardoni se dirigiu a ela.


‘Ele não falou comigo em momento algum (…) não olhou para mim e não veio falar comigo. Ela [Anna Jatobá] me viu chegar e deu um abraço indiferente. Disse: você nem ligou para ela no sábado. Achei de uma frieza e não perdi meu tempo em responder’, afirmou.


Ana Carolina disse também que tem dificuldade para conviver com a idéia de que Nardoni é suspeito do assassinato. ‘É muito difícil saber que uma pessoa tenha a capacidade de chegar nesse nível’. Ela contou ainda que enfrentou Nardoni quando ela ameaçou de morte a ela e à sua mãe quando Isabella foi colocada pela primeira vez na escola. Disse também que se tivesse uma segunda chance não teria feito nada diferente em relação a Isabella.


‘Eu fiz tudo por ela, eu não fiquei devendo nada nesta vida para ela. O meu amor de mãe, a minha dedicação, tudo que eu fiz por ela enquanto ela esteve comigo’, afirmou.


Nesta semana, o desembargador Caio Eduardo Canguçu de Almeida, do Tribunal de Justiça, deve decidir se concede ou não liberdade provisória para Nardoni e Anna Jatobá.


O casal foi denunciado por homicídio triplamente qualificado pelo Ministério Público e cumpre prisão preventiva desde o último dia 7 de maio.O desembargador analisa uma liminar que pede não só a liberdade do casal mas também a anulação do despacho do juiz que acolheu a denúncia do Ministério Público. Nardoni está preso na carceragem do 13º Distrito Policial e Anna Jatobá em uma penitenciária em Tremembé.’


 


DOSSIÊ
Kennedy Alencar e Fernanda Odilla


Tarso quer pena leve para vazamento ‘por descuido’


‘O ministro Tarso Genro (Justiça) disse ontem à Folha que, se o vazamento do dossiê anti-FHC ocorreu por ‘descuido’, e não de forma ‘dolosa’, caberia apenas punição por ‘infração disciplinar’ ao responsável por divulgá-lo.


Essa avaliação coincide com o esforço do governo para encontrar um desfecho o menos danoso possível para o episódio de vazamento e confecção de um documento da Casa Civil contra adversários políticos.


‘A investigação da Polícia Federal é orientada pelo tipo penal. Ela tem de averiguar se houve crimes’, afirmou Tarso Genro. Segundo o ministro, ‘a PF faz um trabalho isento, técnico e republicano’.


De acordo com investigação da Polícia Federal e da sindicância interna da Casa Civil, o funcionário do ministério José Aparecido Nunes Pires vazou, por e-mail, o dossiê para André Fernandes, assessor do senador oposicionista Álvaro Dias (PSDB-PR).


Preocupado com eventuais revelações incômodas que Aparecido possa fazer num eventual depoimento na CPI dos Cartões ou à imprensa, o governo tenta mantê-lo sob controle e tranqüilo quanto a eventual punição. O advogado Eduardo Toledo, contratado para defendê-lo, orientou o cliente quanto a falar sobre o assunto. ‘Precisamos separar a parte política da parte jurídica’, disse Toledo, que se encontra hoje com Aparecido para traçar a estratégia de defesa.


O Palácio do Planalto se esforça para preservar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dilma, por sua vez, esforça-se para preservar a secretária-executiva da pasta, Erenice Guerra. Erenice deu a ordem para a confecção do dossiê. Dilma sustenta que o governo fez apenas um banco de dados, sem caráter de tentativa de intimidar a oposição.


O governo já negociou com José Aparecido uma saída da chefia do Controle Interno da Casa Civil, o que deve acontecer nesta semana por iniciativa dele. Funcionário de carreira do TCU (Tribunal de Contas da União), ele retornaria ao posto antigo enquanto o desfecho do caso resultaria na punição por infração disciplinar.


Em conversas reservadas, Aparecido disse a colegas da Casa Civil que não teria vazado o dossiê ‘conscientemente’ -ou seja, de forma dolosa. Aos amigos, ele insiste em negar que mandou a planilha com gastos da ex-primeira dama, Ruth Cardoso, para o tucano.


Por enquanto, a defesa pretende se concentrar no momento anterior ao vazamento dos gastos. O advogado Eduardo Toledo pedirá acesso aos documentos da sindicância na Casa Civil e do inquérito da PF. O primeiro passo será provar que as informações divulgadas já não eram sigilosas.


Toledo também foi contratado para defender Marcelo Netto, que era assessor do então ministro Antônio Palocci e foi acusado de vazar o extrato bancário do caseiro Francenildo Pereira.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Não é a revolução, mas…


‘O espanhol ‘El País’, com certo atraso e exagero, acordou para o Brasil. Começou na semana, com uma longa reportagem sobre o impacto da China e da Índia no país. E ontem virou festa, no título de outro texto, interminável e laudatório: ‘Não é a revolução, mas dá resultados’. No subtítulo: ‘O Brasil conseguiu notável decolagem em sua economia, a confiança do capital internacional e um protagonismo crescente de suas empresas no mundo’. A primeira frase remeteu, uma vez mais, ao ‘país do futuro’ de Stefan Zweig. Outro texto, menor, explicou que o grau de investimento foi ‘doce presente’ para a bolsa de valores da Espanha, com muitos grupos que investem no Brasil.


Tem mais. O editorial ‘Brasil ganha confiança’, de ontem, louvou a economia pelo crescimento e o país por ‘reduzir seus desequilíbrios tradicionais’.


De quebra, o britânico ‘Guardian’ deu na edição de anteontem, em página inteira (abaixo), a reportagem ‘O país do futuro finalmente chegou’.


ADORMECIDO


Num dos enunciados do ‘Guardian’ ontem para a reportagem de Tom Philips, ‘Brasil, o gigante adormecido da América do Sul, acorda’. Relata Tupi, as commodities etc.


SEGUNDO O DEPARTAMENTO DE ESTADO


O gaúcho ‘Zero Hora’ publicou ontem, o blog de Josias de Souza postou e o UOL deu submanchete ao documento ‘sensível’ elaborado pelo Departamento de Estado dos EUA quando Dilma Rousseff se tornou chefe da Casa Civil. Diz que ‘planejou assalto lendário ao cofre de Adhemar’, agüentou ‘22 dias de tortura brutal’, foi a ‘Joana d’Arc da subversão’ -e hoje ‘alguns no Congresso reclamam que Dilma Rousseff não entende de política partidária’


‘WHITE’


Atacada por editorial e colunas do ‘NYT’, a declaração de Hillary Clinton, de que os ‘americanos brancos’ votam nela, gerou revolta que cruzou o final de semana. Em áudio, com legendas, virou até post viral


O SILÊNCIO DA TELEVISÃO


Seis dos ‘analistas’ em ação na TV


O ‘NYT’, três semanas atrás, deu o esquema do Pentágono que selecionava ex-militares, contratados por fornecedoras de armas, para defender suas posições em redes e canais de notícias. A repercussão foi grande na web, abriu investigações, mas nada na TV, fora a pública PBS. Nada por NBC, ABC, CBS, CNN, Fox, que usavam os ex-militares como ‘analistas’. O site Politico descreve como ‘blecaute’ e prevê que vai cair.


ANDRÉ…


Na sexta, André Aguiar, da Jovem Pan, entrevistou Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, que declarou que ‘a Justiça foi feita’ e respondeu até pergunta sobre ‘o ciúme’ de Anna Carolina Jatobá, a madrasta presa pela morte.


AGUIAR


Ontem, o ‘Fantástico’ deu ‘entrevista exclusiva’, assim descrita por quem a fez -e chegando ao detalhe de dizer que ‘foi uma entrevista muito difícil’. Era também com a mãe, não faltando sequer a pergunta sobre ‘o ciúme’.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo fará novo ‘O Clone’ para TV hispânica dos EUA


‘A TV Globo e a Telemundo Networks anunciam hoje em Nova York a realização em conjunto de uma nova versão da novela ‘O Clone’, desta vez voltada ao público hispânico dos EUA, que representa 13% da população do país. A produção terá verba de US$ 20 milhões.


Será a segunda produção internacional da Globo. A emissora e a Telemundo já foram parceiras em 2002, quando co-produziram, sob liderança da Globo, uma versão de ‘Vale Tudo’, gravada no Rio com atores de língua espanhola. Mas a novela foi rejeitada nos EUA. Desde então a Globo sonha voltar a produzir para o exterior.


A nova parceria será diferente. A produção será liderada pela Telemundo Studios -empresa da Telemundo Networks, segunda maior rede hispânica dos EUA, pertencente ao grupo General Electric. As gravações ocorrerão na Colômbia, provavelmente a partir do início de 2009, com elenco latino.


A Globo entrará com os capítulos originais de ‘O Clone’, consultoria de Glória Perez (autora) e Jayme Monjardim (diretor-geral) e acompanhamento sistemático de Flávio Rocha (diretor-artístico internacional) e Guilherme Bokel (diretor de produção internacional). Bokel foi diretor de produção da novela original.


‘A nova versão vai respeitar a sinopse e as premissas originais. Terá, por exemplo, os dois irmãos [um é clone do outro] e o núcleo de muçulmanos, mas a ambientação não será necessariamente no Marrocos. Há características do mercado hispânico diferentes das do Brasil. As novelas são mais curtas e com elenco menor’, afirma Ricardo Scalamandré, diretor de negócios internacionais da Globo. ‘Eles querem nossa expertise.’


Segundo Scalamandré, Globo e Telemundo serão sócias. A Globo será remunerada conforme sua participação nos custos, ainda não finalizados. O executivo acredita que a parte da Globo ficará entre 30% e 50%. As duas TVs apostam no sucesso da nova ‘El Clon’ também em outros países, principalmente latinos. ‘O Clone’, de 2001, foi vendida para 90 países. Só perde para ‘Terra Nostra’ entre as mais exportadas.


SEM TRAVAS


Ronaldo, o Fenômeno, vai bater um papo amanhã com Ana Maria Braga, no ‘Mais Você’ (Globo). Mas sem falar em travestis. O veto ao assunto foi uma das condições para sua participação no programa.


MUTAÇÃO


O ex-’Malhação’ Rômulo Arantes Neto, que também se meteu em confusão com travestis em um motel do Rio, está mudando. Entrará em ‘Mutantes’, a nova fase de ‘Caminhos do Coração’ (Record), como Draco, um ser que cospe fogo.


ATÉ MAIS


Aguinaldo Silva, autor de ‘Duas Caras’, relata em seu blog o vazio que sente sempre que termina de escrever uma novela. Ele se despede de Branca, mas já convoca Suzana Vieira para sua próxima novela.’


 


Folha de S. Paulo


‘Água na Boca’ traz Rosanne Mulholland


‘Depois da novela musical ‘Dance Dance Dance’, a Bandeirantes retorna ao formato tradicional de folhetim hoje, com a estréia de ‘Água na Boca’. ‘Comédia romântica contemporânea’, segundo o canal, a novela bebe na fonte de ‘Romeu e Julieta’, mas com um cenário gastronômico.


Escrita por Marcos Lazarini e com direção geral de Del Rangel, ‘Água na Boca’ conta a história de Danielle Cassoulet (interpretada por Rosanne Mulholland) e Luca Bellini (Caetano O’Maihlan), que se apaixonam, apesar de pertencerem a famílias rivais, como manda o romance shakespeariano.


Uma antiga disputa amorosa entre as matriarcas dos clãs dá início à rixa, alimentada ainda pela concorrência entre os restaurantes das duas famílias -os Bellini são donos de uma popular pizzaria e os Cassoulet, de um sofisticado bistrô.


A novela traz outros restaurantes como cenário, que reforçam a ambientação gastronômica. ‘Água na Boca’ toca também em outros temas, como o mal de Alzheimer, do qual a avó de Luca sofre.


Após passagem pela dramaturgia da TV Globo em ‘JK’ e ‘Sete Pecados’, Mulholland faz sua estréia como protagonista de novela. A atriz ficou conhecida no cinema por filmes como ‘O Magnata’ e ‘Falsa Loura’.


ÁGUA NA BOCA


Quando: hoje, às 20h15


Onde: Bandeirantes’


 


PARA COLORIR
Álvaro Pereira Júnior


Baterista escritor faz a crônica brasileira do rock


‘INAUGURADO UM novo gênero literário: o da crônica brasileira rock and roll. O responsável é um baterista baiano, de Salvador, que lançou, por conta própria, um livro com deliciosas histórias roqueiras. O autor é Ricardo Cury, e o nome do livro é ‘Para Colorir’.


Li com imenso prazer, apesar de ter recebido o volume sem entusiasmo. É que não gosto de crônicas. Acho que quase sempre ficam entre entre o moralista/indignado, o saudosista e o piegas. Isso quando não são tudo isso junto. Desses ‘grandes’ cronistas brasileiros, aqueles que todo mundo admira, não posso nem ouvir falar.


Mas ‘Para Colorir’ é outra coisa. É crônica do século 21. Nos textos de Ricardo Cury, as situações mais banais servem como partida para narrativas envolventes, com gosto pelos detalhes e muita autoparódia.


Impossível não morrer de rir com as desventuras de Cury por São Paulo, visitando jornais, editoras, estúdios e rádios para entregar o CD de sua então banda, ZecaCuryDamm. Numa cidade cuja geografia ele descreve como o próprio inferno, Cury é esnobado em diversos lugares onde aparece sem avisar (inclusive a Folha).


Há encontros formidáveis, como um com Caetano Veloso no aeroporto (‘um cara de calça branca, camisa branca, casaco branco, cabelo branco’) e outro com Chico Buarque em Ipanema (aproximou-se e disse que os ‘Saltimbancos’ tinham mudado a vida dele). Para não ficar só nos elogios, diga-se que ‘Para Colorir’ ganharia muito passando pelo crivo de um editor. Alguns textos poderiam ser enxugados, e histórias triviais (passeio pela Europa, acampamento na Chapada Diamantina etc.) não fariam falta. Também ajudaria se a capa trouxesse os nomes do autor e do livro, já que, à moda da lendária gravadora Factory, a capa não informa nada. Mas isso não apaga o brilho desse livro atento, fluente, jovem e, é claro, visceralmente roqueiro. Cury tem um blog: www.ricardocury.blogspot.com. Fale com ele.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de maio de 2008


 


MERCADO
Renato Cruz


A empresa que se reinventou três vezes


‘A Videolar, fabricante de CDs e DVDs, busca se reinventar. A crise da indústria do disco faz com que a empresa tenha de diversificar suas atividades. A empresa vai investir US$ 100 milhões em uma fábrica de polipropileno biorientado (Bopp), plástico usado em embalagens flexíveis, em Manaus. Esse plástico é usado, por exemplo, pela indústria alimentícia e para embalar os produtos da própria Videolar.


‘A queda nas vendas da mídia gravada está nos prejudicando na carne’, afirmou o presidente da Videolar, Phillip Wojdylawski . ‘Um terço de nossos negócios está nesse mercado.’ O ano passado foi o único, em 20 anos de história, em que a companhia diminuiu. A receita líquida da Videolar caiu 11,8%, para R$ 1,016 bilhão. O lucro líquido diminuiu 73,1% , para R$ 23,6 milhões.


‘Se estivéssemos endividados, teríamos quebrado’, disse Lirio Parisotto, fundador da empresa e presidente do conselho. Em janeiro, ele deixou o comando da companhia, afastando-se das decisões do dia-a-dia. ‘Eu estava com pressão alta’, explicou o executivo, de 54 anos. ‘Quando deixei a presidência, minha pressão voltou ao normal, sem precisar de remédio.’


Parisotto criou a Videolar em 1988, em Caxias do Sul (RS). Antes disso, tinha uma loja de eletrônicos e videolocadora, chamada Audiolar. A Videolar foi pioneira em oferecer fabricação, gravação, tradução e legendagem de fitas VHS. Antes dela, esses serviços costumavam ser oferecidos por empresas diferentes. Seu primeiro cliente foi a CIC Vídeo, uma joint venture entre Paramount e Universal, que não existe mais.


A empresa conduziu bem a transição da mídia magnética (fitas cassete, VHS e disquetes) para a mídia óptica (CDs e DVDs). A fábrica de Bopp será instalada no lugar das linhas de produção de mídia magnética. ‘Vamos abastecer o estoque durante os próximos três meses e comercializaremos esses produtos enquanto alguém quiser comprar’, disse Wojdyslawski. ‘Com certeza, o estoque vai durar até o fim do ano.’ Hoje, a linha de produtos magnéticos responde por menos de 1% do faturamento da empresa.


A necessidade de se reinventar, ante as incertezas da indústria do audiovisual, não é exclusividade da Videolar. A concorrente Microservice anunciou recentemente que vai fabricar motocicletas. A saída da Videolar foi encontrar uma atividade mais próxima de casa: produzir insumos que ela utiliza em seus produtos, o que garante escala inicial para começar a fornecer para terceiros.


A estratégia não vem de hoje. Desde 2002 ela fabrica, em Manaus, o poliestireno, matéria-prima usada nas caixinhas dos CDs. A companhia também produz CDs e DVDs graváveis e tem uma loja virtual chamada Videolar.com, em que vende produtos de clientes dela e de outros fabricantes. ‘O mercado de mídias graváveis vai ter uma vida mais prolongada’, afirmou o presidente da Videolar. ‘Ele não é ligado diretamente ao entretenimento, mas ao armazenamento de dados como um todo. Por mais que caiam os preços dos memory sticks e dos pen drives, nada é mais barato do que uma bolacha de policarbonato’, completou, referindo-se aos CDs e aos DVDs.


A queda de faturamento da companhia no ano passado foi grande, mas ficou bem abaixo dos 31,2% de receita perdidos pela indústria brasileira da música. ‘São novos tempos’, disse Parisotto. ‘A pirataria física atrapalha menos que a eletrônica, porque a eletrônica mexe com quem tem dinheiro.’ Ou seja, são justamente as pessoas que compram CDs e DVDs que passaram a baixar áudio e vídeo pela internet. ‘Ninguém mais quer pagar por música.’


O fundador da empresa conta que, desde 2002, é assediado por bancos para abrir o capital. ‘Mas não dava para abrir o capital num mercado assim’, explicou o executivo. ‘Minha sensibilidade dizia que ia dar no que deu.’ Ele disse que percebeu que o mercado iria trilhar caminhos incertos desde que começou a pirataria de CDs. ‘Nos meios magnéticos, havia perda de qualidade nas cópias. Hoje, com conteúdo digital, a cópia é bit a bit, fica igual ao original.’


Com inauguração prevista para o segundo semestre do ano que vem, a fábrica de Bopp vai gerar 160 empregos diretos e indiretos. Ela terá duas linhas de produção, com capacidade de 75 mil toneladas por ano. O mercado brasileiro consome 130 mil toneladas por ano.’


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Grupo de Nizan entre os maiores do mundo


‘O publicitário Nizan Guanaes comemorou seus 50 anos, completados na semana passada, com um presente especial: o grupo que comanda, o ABC de Comunicação, apareceu na 21ª posição no ranking dos maiores grupos globais de comunicação. O ranking é elaborado anualmente pela publicação americana Advertising Age. Essa é a melhor posição já alcançada por uma empresa brasileira no ranking. As agências DPZ, Talent e W/Brasil já apareceram nessa listagem, mas sempre com posições abaixo do 40º lugar.


Embalado pela divulgação do ranking – que atribui crescimento de 42,1%do Grupo ABC e receita auditada de US$ 228 milhões -, Guanaes também anunciou seu futuro substituto. Será o publicitário Sérgio Valente, que hoje preside a agência DM9DDB, que pertence ao ABC em sociedade com a rede americana DDB Worldwide. Valente deverá se desligar da atual posição até o final do ano. Em seu lugar assumirá Paulo Queiroz, atual vice-presidente de mídia.


Trabalhando com Nizan praticamente desde o começo de sua vida profissional, Valente é visto por alguns profissionais do meio publicitário como o sucessor natural para o cargo. Para outros, entretanto, o fato de ele ser guindado à posição significaria que o Grupo ABC não deve passar por grandes mudanças. Seria apenas uma forma de Nizan se afastar dos encargos operacionais do dia-a-dia, seguindo no comando estratégico do grupo. Valente prefere não fazer comentários. Nizan, por seu lado, garante que não tem problemas em delegar.


Nizan Guanaes garante que, agora que atingiu a 21ª posição no ranking da Advertising Age, sua meta é chegar entre os dez primeiros lugares em quatro anos. Para cumprir esse objetivo, a receita do grupo teria de dobrar nesse espaço de tempo. A forma de cumprir essa rota seria por meio de aquisições e abertura de novos negócios.


O publicitário diz ter dinheiro em caixa para fazer as duas coisas, pelo menos em um primeiro momento. A médio prazo, de acordo com ele, está de pé o plano de abertura de capital na Bolsa de Valores. A oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) está programada para o próximo ano.


Entre os projetos mais imediatos do Grupo ABC está a compra de uma agência de publicidade na Argentina, além da abertura de mais uma agência de consultoria e comunicação em São Paulo, que será batizada de Asia (sem acento, assim como já acontece com a agência Africa). ‘Os clientes estão aumentando e não posso mais abrigá-los na Africa’, diz.


Hoje, a Africa tem 14 clientes. Quando a abriu, Nizan dizia que nunca ultrapassaria os dez para não perder o atendimento no espírito taylor made (sob medida). ‘Ainda vou ter agências com nomes de todos os continentes no meu grupo’, diz.


OS ELEITOS


No ranking da AdAge, as sete primeiras posições são ocupadas por grupos que faturaram mais de US$ 2 bilhões. As cinco primeiras posições permanecem inalteradas: Omnicom Group, com sede em Nova York e receita de US$ 12,7 bilhões; WPP Group, de Londres e receita de US$ 12,4 bilhões; Interpublic Group, de Nova York, com receita de US$ 6,5 bilhões; Publicis Groupe, sediada em Paris e com receita de US$ 6,4 bilhões; e Dentsu, de Tóquio, com receita de US$ 2,9 bilhões.


Entre as 25 primeiras estão nove americanas, três inglesas, três australianas, três japonesas e duas francesas. Brasil, Alemanha, Coréia, Canadá e Suécia têm uma na lista.


AS MAIORES DO RANKING


1. Omnicom Group ( Nova York; receita de US$ 12,7 bilhões)


2. WPP Group (Londres; US$ 12,4 bilhões)


3. Interpublic Group of Cos. (Nova York; US$ 6,5 bilhões)


4. Publicis Groupe (Paris; US$ 6,4 bilhões)


5. Dentsu (Tóquio; US$ 2,9 bilhões)


6. Aegis Group (Londres; US$ 2,2 bilhões)


7. Havas (Suresne, França; US$ 2,1 bilhões)


8. Hakuhodo DY Holdings (Tóquio; US$ 1,4 bilhão)


9. MDC Partners (Toronto/Nova York; US$ 547 milhões)


10. Alliance Data System – Epsilon (Dallas; US$ 469 milhões)


11. Asatsu DK (Tóquio; US$ 454 milhões)


12. Media Consulta (Berlim; US$ 415 milhões)’


 


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Mercado publicitário define novo modelo de negociação


‘As agências de publicidade, os veículos de comunicação e os anunciantes chegaram a um acordo em relação ao modelo de negociação no setor. Com a finalidade de tornar transparentes as regras do sistema de Bonificação por Volume (BV) na compra de mídia, as organizações produziram dois documentos que entram em vigor a partir de junho. O BV é um porcentual dado pelos veículos de comunicação às agências de publicidade sobre as verbas pagas pelos anunciantes para a veiculação de anúncios.


‘O BV era tido como um assunto intramuros’, diz Petrônio Corrêa, presidente do Conselho Executivo de Normas-Padrão (Cenp), que lidera o processo de discussões. ‘Agora fica claro que o BV é um direito das agências, produto de uma combinação com os veículos e aceito pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA)’, acrescenta ele. A referência à ABA se dá porque foram os anunciantes que mais resistiram ao acordo, tanto que vinham questionado a prática do BV desde ano passado. As negociações duraram quase sete meses.


‘Havia pontos polêmicos’, admite Rafael Sampaio, vice-presidente executivo da ABA. ‘Mas todos cederam um pouco e se chegou a bom termo. Foi um trabalho de busca de soluções técnicas que pudessem atender a todos. Nesse momento, o documento está nas mãos dos advogados para a revisão final. Um procedimento habitual em acordos desse porte.’


Com a denominação de ‘plano de incentivo’, o BV continua em cartaz com a mesma configuração. Os valores aplicados seguem sem parâmetro único. Cada veículo adota seu modelo.


Os anunciantes ganharam, porém, o comprometimento, por parte das agências, de que elas vão prestar maiores esclarecimentos sobre a forma com que são feitos os investimentos em mídia.


INCENTIVO


Os novos procedimentos que esclarecem o funcionamento do ‘plano de incentivo’ vão integrar o recém-criado Anexo C às normas-padrão do Cenp. Sãos essas normas que regulam o mercado publicitário desde 1998, quando o Cenp foi criado.


Pelo acordo, fica definido, por exemplo, que ‘o plano de incentivo vincula tão-somente o veículo instituidor e a agência por ele habilitada, sem que dessa relação empresarial resulte ônus para os clientes-anunciantes, os quais, por definição, não são parte dela’. Ou ainda que ‘os frutos proporcionados pelo incentivo constituem receita operacional da agência a ser regularmente escriturada’.


O outro documento que resultou das reuniões contempla uma preocupação do Cenp em qualificar o desenvolvimento dos profissionais que respondem pela área de mídia nas agências. São eles que fazem o planejamento de onde e como os anúncios devem sair nos veículos.


‘Nas grandes agências, esse profissional sempre foi valorizado’, comenta Corrêa. ‘Mas, nas pequenas, houve, nos últimos anos, por uma questão de corte de custos, um enfraquecimento da atividade. Queremos incentivar, com ações concretas, como trazer grandes figuras do segmento para palestras, um novo olhar sobre essa área.’


O Cenp é uma entidade sem fins lucrativos mantida por associados e que monitora o bom funcionamento das agências de publicidade, certificando as que operam dentro das normas. Atualmente, o Cenp contabiliza um total de 3,8 mil agências em todo o Brasil.’


 


CINEMA ONLINE
Stuart Elliot, The New York Times


O internauta pode terminar o filme que a Microsoft começou a fazer


‘Estão sendo convocados todos os candidatos a Judd Apatows, Martin Scorseses e irmãos Coen. Suas ambições cinematográficas podem ser apoiadas por um padrinho improvável, baseado não em Hollywood, mas a mais de mil milhas ao norte, em Redmond, no Estado de Washington.


Essa dica geográfica entrega quem é o patrocinador: a Microsoft, que está realizando um concurso de filmes online, num esforço para estimular as vendas e melhorar a reputação do seu sistema operacional Windows Vista. O produto encontrou reações díspares desde seu lançamento no ano passado.


O concurso é mais um exemplo de uma tendência de marketing popular em que o conteúdo é gerado pelos consumidores. Seu objetivo é promover uma versão de topo de linha do Windows Vista – Windows Vista Ultimate – entre amantes de vídeos, apaixonados por tecnologia e diretores de cinema.


O concurso, que começará na quinta-feira, já tem seu próprio site na internet (ultimatevideorelay.com), uma divisão do site do Windows Vista Ultimate (ultimatepc.com).


A referência vem do convite aos usuários de computador para completar a história intitulada ‘O cubo’ em vários estágios. A história, um cruzamento bem humorado de ‘Matrix’ e ‘The Office’ começa com um clipe de seis minutos que pode ser visto no site. O clipe é dirigido por Kyle Newman, diretor do ‘Fanboys’, um filme para aficionados de ‘Star Wars’, que está para ser lançado.


O clipe online é chamado Ato I de ‘O Cubo’ e termina abruptamente. Concorrentes devem terminar a história fornecendo em primeiro lugar o meio (Ato II) e, em seguida, o fim (Ato III) da história. Os vídeos serão julgados por visitantes do ultimatevideorelay.com.


A Microsoft está organizando o concurso com a TriggerStreet.com, um site de uma produtora que pertence ao ator Kevin Spacey e é destinada a aspirantes de diretores e roteiristas.Quem aproximou a TriggerStreet.com e a Microsoft foi uma companhia de Los Angeles que trabalha com propaganda, entretenimento e projetos de marcas com profissionais de marketing. Além da Microsoft, eles trabalham também com a Anheuser-Busch, a NBC Universal e a Toyota.’


 


TELEVISÃO
Márlio Vilela Nunes


Voyeurismo na sala de psicoterapia


‘A série Em Terapia (inTreatment, no título original em inglês), estréia hoje, às 20h30, no canal HBO, trazendo o ator Gabriel Byrne no papel do angustiado psicoterapeuta Paul Weston. A cada dia, de hoje a quinta, poderemos acompanhar uma sessão de terapia conduzida por ele. Seus pacientes, nesta primeira fase da série, são, respectivamente, uma mulher apaixonada por ele, um ex-combatente que voltou traumatizado do Iraque, uma ginasta acidentada e um casal em crise. Na sexta, veremos o terapeuta ocupando a posição inversa em sua própria terapia: é o dia em que ele discutirá seus problemas com sua analista, vivida pela atriz Diane Wiest. A série tem 43 episódios que serão exibidos ao longo de nove semanas, de hoje até metade de julho.


Em um formato ousado para os padrões de uma série televisiva, toda a ação de Em Terapia se passa dentro do consultório: a atenção é mantida apenas pelos diálogos precisos entre pacientes e terapeuta. Ao apresentar personagens com perfis psicológicos bem definidos, a série mostra-se fidedigna ao que imaginamos encontrar em um ambiente de psicoterapia na vida real. Byrne se esforça na gesticulação, nos silêncios e no controle emocional que associamos a um profissional dessa área. Os dramas, as dúvidas e as culpas dos pacientes são bem próximos aos vivenciados no dia-a-dia dos consultórios, mesmo que não tenhamos como desencadeante uma experiência traumática na Guerra do Iraque. O tratamento oferecido pelo psiquiatra da série, que se limita basicamente em associar um problema atual com um trauma inconsciente, é o padrão psicanalítico incorporado pela imensa maioria dos profissionais. Esta correspondência imaginária pode ser sinal de competência e de uma rigorosa pesquisa na construção da série, mas é, também, a sua principal limitação.


O que se passava no interior de um consultório de psicoterapia era um dos últimos segredos que ainda escapavam ao voyeurismo da sociedade atual. No mundo big brother, buscamos desesperadamente saber o que existe por trás das aparências da vida social, enxergar a verdade que cada um esconde em sua vida particular. Só que, a cada edição do Big Brother, descobrimos que as pessoas ‘reais’ que participam do programa não são muito diferentes dos personagens das novelas. Seus romances, suas intrigas e traições são os mesmos. Atrás da aparência, só encontramos uma outra aparência.


Ainda que seja uma ficção, Em Terapia nos oferece um duplo voyeurismo. Em primeiro lugar, temos a oportunidade de vislumbrar o que ocorre dentro de uma sessão de psicoterapia e, depois, o que se esconde no inconsciente dos personagens. Mas o que encontramos, assim como em todas as edições do Big Brother, é o que já imaginávamos. Não existe surpresa ou engano. A série confirma nossa convicção e entretém (e talvez nem pudesse ser diferente), mas não traz um novo olhar sobre os outros ou sobre nós. Portanto, ela não nos modifica, não nos trata, apesar de percebermos as semelhanças entre as dificuldades e angústias que vivemos e as relatadas pelos personagens. O que não compreendemos, ao assistir ao programa, é a razão pela qual o tratamento ocorre. Provavelmente um paciente real não alteraria seu comportamento se fosse submetido ao tratamento oferecido por Weston. Na prática clínica, sabemos que localizar um sentido inconsciente para um problema não é suficiente para modificar uma pessoa. Em uma análise, o que trata, o que permite a mudança está além da cena (consciente ou inconsciente), além do que o olhar televisivo pode mostrar. É algo que se descobre apenas pela experiência pessoal em ser analisado.


Em Terapia é mais um ótimo programa de televisão. Mas seu voyeurismo nada nos esclarece sobre o enigma que é uma análise.


Márlio Vilela Nunes é psiquiatra e autor do blog Psicanálise Presente (www.psicanalisepresente.blogspot.com)’


 


Keila Jimenez


‘Brasileiro gosta de ver brasileiro’


‘Em uma parede de sua produtora, a Lereby – como a Let it Be dos Beatles – pôsteres de blockbusters da Globo Filmes, que ele dirige. Em outra, espelhos se intercalam com dezenas de fotos de musas do cinema nacional e da TV. ‘O Daniel Filho conquistou metade dessas mulheres’, comenta a reportagem, ao fitar a composição. ‘Mais da metade’, alguém corrige. Daniel surge dando ordens, abrindo pacotes. Comprou um livro e dois DVDs durante o almoço. Quer logo começar a entrevista. Odeia posar para fotos, avisa.


Abre a conversa sem esperar por pergunta alguma, empolgado com sua volta, à TV (ainda fechada; para a aberta, ele prevê retornar em breve, mas ‘não para a Globo’, antecipa). Com Mudando de Conversa , (sábado, às 20h), programa de entrevistas que estreou recentemente no Canal Brasil, quebra um jejum de oito anos da TV. Atração que ele criou, produziu e em que dá toques de direção ao lado da amiga Maria Lúcia Rangel.


Em foco, personalidades de ponta, sempre em dupla, conversam sobre os mais variados assuntos. ‘ É um papo sincero entre pensadores modernos’, define Daniel, já justificando que não há um comandante na atração. Mas apresentador para que? Para mediar encontros como o de Zuenir Ventura e Luis Fernando Verissimo, José Wilker e Sonia Braga, Ana Botafogo e Isaac Karabtchevsky, Bibi Ferreira e Antunes Filho?


Fama de mau, de conquistador, de trator… Tudo isso desaparece no terceiro minuto de conversa. Como bom diretor, Daniel Filho é divertido e gentil ao tentar conduzir um papo que muito lhe interessa.


O diretor reclama da falta de grana para a produção independente e da vontade de sair da ‘geladeira’ da TV Globo. ‘Deixaram de publicar uma entrevista grande minha em uma revista importante porque eu não disse nada bombástico. Não dei o lide que o repórter queria’, diz ele. E precisa?


Como surgiu a idéia do Mudando de Conversa?


A culpa é minha. Fui fazer um piloto nos extras do DVD do Primo Basílio e pensei em fazer algo diferente. Como eu e Glorinha (Pires) tínhamos trabalhado muito tempo juntos, me ocorreu que havia várias histórias que a gente nunca resolveu direito. Aí pensei em um papo entre nós em que cada um levasse oito perguntas. Sem um saber o que o outro iria perguntar, claro. Ficou legal e pensei: ‘Isso daqui dá um programa’. Fiz também o mesmo com o Wilker e a Sonia Braga para testar. Saiu uma coisa mais engraçada ainda. Pronto, temos um programa.


E você dirige sozinho o programa?


Não, a idéia é minha, sou responsável pela narrativa visual, faço as ‘cabeças’ das entrevistas, mas chamei a Maria Lúcia Rangel para dirigir. Precisava de alguém com experiência jornalística para saber como tirar de um papo quase furado, que não tem ninguém ativando, algo bacana. O que torna o programa legal é que ninguém está tentando arrancar nada bombástico. O camarada não é obrigado a dizer nada que vá mudar o mundo, nem que será citado em sua lápide (risos ). São pessoas com muito conteúdo, o que elas têm a dizer sempre interessa.


Como vocês chegam a essas combinações de personalidades que formam as duplas?


Há sugestões de toda a equipe, amigos da Maria Lúcia, meus… Muitos deles são amigos de verdade, outros nunca se encontraram para conversar. É um formato interessante. Bom, Max Nunes dizia que você só é original por sete dias. Passa uma semana alguém copia, vira um melê… Daqui a uns dias aparece um Sérgio Malandro entrevistando um ex-BBB e as pessoas vão falar: ‘Olha aí, o formato do Daniel Filho (risos) ‘.


E o que muda, diante das câmeras, na conversa entre pessoas que são amigas na vida real? No caso seu e da Glória, por exemplo….


Comigo e a Glória foi diferente. Glória me perguntou coisas que não me ocorriam. Toda hora a gente brinca com o assunto de eu ter reprovado ela quando tinha apenas 6 anos de idade, em um dos primeiros testes dela na TV. Só que eu nunca tinha perguntado para a Glória o que ela realmente tinha sentido naquela ocasião. Sabia que ela não tinha passado em um teste, que eu tinha optado pela Rosana Garcia para a novela Meu Primeiro Amor . E me dei conta pela primeira vez de coisas que eu não imaginava, como a importância que esse ‘não’ tinha tido para ela, e de como isso mudou muita coisa na carreira dela, de como ela se preparou para o outro teste comigo em Dancin’ Days. Já tínhamos conversado, mas não tínhamos ido tão longe. Confesso que fiquei sem graça.


Mas você nunca sabe o que vai rolar nas conversas?


Nunca. Um exemplo: o Luis Fernando Verissimo perguntou como tinha sido a base literária do Zuenir Ventura na infância. E ele começou a citar nomes de milhares de autores… Epa, pára aí.. Assim fica difícil. Ia ficar um papo de entendidos… Mas como era muito interessante o que estavam falando, coloquei uma dança das capas dos livros que ele foi citando. Quase uma legenda do que eles conversavam (risos ).


E foi encomenda do Canal Brasil?


Não, nós que fomos bater na porta deles. Mas o Canal Brasil sofre de um problema: ele pertence a um pacote mais restrito da Net. Para você ter a Net é uma coisa, para se ter o Canal Brasil, se paga mais ainda. Para bancar um programa em um canal segmentado do segmentado é mais do que complicado. Até consegui um patrocinador, mas se eu tivesse mais um, o programa poderia ter mais fôlego. É um projeto que eu adoro e gosto também do canal.


Você já viu algum filme seu lá?


A gente brinca que o Canal Brasil é ‘o meu passado me condena’, porque passa uns filmes muito velhos, coisas horrorosas (risos) . Mas todos nós temos filmes horrorosos e temos filmes bons. Também passam os meus filmes bons lá. Passam todos. A sua vida é o que você fez, vale a média. Se você só fez filmes ruins, desculpe (risos ).


O programa tem um número de episódio fechados?


Surgiu com 16 episódios e não deve passar disso, porque tenho um problema grave: as minhas frustrações com a produção independente do Brasil.


Quais são?


A primeira vez eu quebrei a cara, e não quebrei violentamente por pura sorte. Quando saí da Globo pela primeira vez, em 1990, acreditava em tudo o que diziam sobre mim: ‘Daniel Filho, precursor na TV, o das novelas, o cara da Globo’. Eu, babaca, acreditava nisso (risos ). Tive uma idéia (a adaptação do Confissões de Adolescente ) e filmei o piloto. Levei a fita e exibi primeiro para a Globo. Resposta na época: o Buzzoni (Roberto, diretor de Programação) disse que só tinha assistido a três minutos do piloto, achou uma ‘merda’ (risos ). Tentei mostrar para outras emissoras e ninguém assistiu. Então fiz uma exibição em um cineminha e as pessoas curtiram. Eu não conseguia entender.


E como foi parar na TV Cultura?


O Armando Nogueira me arranjou um encontro com o Roberto Muylaert, diretor da TV Cultura na época, e de onde eu menos esperava veio a proposta. Aí quis fazer algo além dos meus pés. A TV Cultura não podia ter patrocinador, tinha de ser um apoio. Aí veio o apoio, mas ficou apertado demais. Então resolvi bancar, fazer toda a produção em filme. Resultado: perdi um dinheirão. Dois terços do que eu tinha recebido dos meus 25 anos de Globo foram embora naquela hora. Eu estava vendo a coisa toda dançando quando a TF1 (canal francês) me procurou querendo comprar o programa. E comprou um segundo ano para fazer. Até hoje não sei se o Confissões de Adolescente rendeu ou me pagou o prejuízo.


E você resolveu insistir novamente em produção independente agora?


É, mas resolvi dar um passo menor. Dessa vez conversei com as TVs fechadas e vi que só tinha dinheiro para fazer um programa de entrevista. Mais barato que isso, só eu falando sozinho para uma câmera (risos) .


Mas falta dinheiro para produção independente na TV brasileira?


Falta. Antes de colocar o programa no ar, consegui uma liberação de ICMS para a produção. Posso receber um dinheiro de pessoas que pagam ICMS e que queiram investir no programa. Mas ninguém declara que paga isso (risos) . Fui então bater na porta dos canais. O Multishow não tinha o perfil, e a verba era pouca. Prefiro não aceitar quando é assim. Eu mesmo banco. Tanto é que estou retirando meus filmes, Cazuza, A Partilha, de circulação, os contratos (com as emissoras de TV) estão vencendo e não estou renovando. Não compensa. Vou ver no que dá. As coisas estão mudando tanto, quem sabe eu vendo melhor para a turma do telefone que vem por aí ? (risos)


Você ofereceu a outros canais?


O GNT não quis. A Letícia (Muhana, diretor do GNT) disse que queria diminuir esse negócio de talk-show. Mas acabou colocando mais, não entendi. Acho que ela não viu direito o programa. A maioria dos diretores de TV padece de uma doença que chamo de José Silva.


O que é isso?


Casas José Silva, você já compra o terno pronto (risos). O cara não consegue prever o que aquilo pode se tornar. Quer tudo mastigadinho, sempre.


Você nunca sofreu desse mal?


Nunca , ainda bem. O segredo está em olhar uma coisinha pequenina e ver todas as possibilidades que aquilo tem. É assim que você deve fazer para procurar um ator, um autor, um roteiro. Pronto é fácil. ‘Vamos comprar Cidade de Deus ?’ (Dá uma sonora gargalhada) Queria ver comprar Cidade de Deus lá atrás, só no papel…


Mas mesmo assim continua acreditando na produção independente?


Sou um apaixonando por produção, por cinema, por televisão. Eu deveria ficar afastado da TV, até tento, mas não quero. Quero ainda fazer uma segunda fase do Confissões de Adolescente , mas tudo depende de como o projeto será aceito pelo mercado, patrocinadores…


E o cinema, fica de lado?


Não… Nunca. Vou filmar este ano Se Fosse Você 2, Tempos de Paz e um longa sobre C hico Xavier. Mas não tem por que a minha produtora, a Lereby, não fazer coisas para a TV.


Como vê essa audiência cada vez mais fragmentada na TV?


Não tem como não conviver com essa realidade.


Acha a missão dos diretores atuais mais ingrata do que a da sua geração, que participou do início da TV no Brasil?


Não… As batalhas e os obstáculos são diferentes, mas sempre existiram. Tínhamos que tornar interessante programas que as pessoas odiavam.Tínhamos que fazer o que a classe C, D e E gostavam e ainda conquistar a classe A e B. Os desafios eram muitos. Como seria a narrativa da TV? Seria um rádio televisionado ou um teatro televisionado? A gente imitaria o rádio, ou imitaria o cinema? Existia o cinema, o futebol, a falta de profissionais especializados. Até chegarmos a atingir a audiência englobando todos os públicos, como foi em Irmãos Coragem , demorou…


Mas a TV hoje enfrenta concorrência de fortes mídias modernas?


Ah, sim. A internet, a facilidade para obtermos informações de todos os lados… Ontem mesmo comprei um DVD que já vem DVD digital para colocar no iPod, no celular. O iTunes está ai. Eu, por exemplo, só ando assistindo coisas no iTunes.


O que você gosta de ver no iTunes?


Ah, é bem mais fácil ver TV assim. Você vai lá e digita: Maurice Chevalier, aí depois chamo vídeos de Edith Piaf. Vejo esquetes de Jerry Lewis. Mas eu não considero isso uma competição com a TV. É um ‘‘novo ver televisão’. Quando a gente faz um filme tem de estar atento ao que está sendo feito, porque se não você pode estar batalhando por algo que não dá mais, que já passou. Quando fiz Se Fosse Você enfrentei um King Kong pela frente. Pensei ‘vamos apanhar feito doidos’, e não foi assim. Me lembro que até brinquei com o Tony Ramos: ‘O macaquinho está ganhando do macacão’ (risos) .


Você acha desleal a concorrência das séries norte-americanas e enlatados com a produção nacional?


Elas sempre existiram.Quando a gente fez Malu Mulher , Plantão de Polícia, Carga Pesada , quem estava no auge era o Kojak , o Hawaii 5.0 , eram o 24 Horas da época. Agora só vejo as pessoas falarem de Sexy and the City … Não acho uma competição forte. As pessoas de TV estão entregando o jogo. Brasileiro gosta de ver brasileiro na TV, programas em português. Se for bem feito, dá certo. Não quer dizer que você não queira ver Piratas do Caribe . Mas se for produção nacional bem feita, ganha, ganha e ganha (bate com a mão na mesa ).


Você é a favor de cota de produção nacional da TV paga?


Para os estrangeiros sim. É canal fechado, utilizando dinheiro daqui . Eles têm de deixar algum dinheiro aqui. Tomara que haja pessoas competentes para essa abertura de mercado. Gosto dos franceses. Eles não deixam a grana sair de lá por nada. Nem dizem o nome do camarada direito, é em francês e ponto (risos) .


Por que você ficou fora da TV por tanto tempo?


Fiquei porque estava em um período de geladeira, o tempo que eu não podia fazer TV. Parece que esse período acaba em junho.


Seu contrato prevê que não pode fazer TV?


Sou contratado para ser diretor da Globo Filmes, então não posso fazer nem dirigir programas em TV alguma.


E essa cláusula acaba em junho?


Não, a cláusula acaba em 2009, quando acaba meu contrato; em junho acaba a pessoa que me pôs na geladeira (risos) .


E quem é?


A pessoa (não revela) sai do poder e a geladeira abre. Mas não volto para a TV Globo…


Em junho então volto para fazer uma matéria sobre seu retorno como diretor na TV aberta?


Aí você volta e me pergunta: ‘É realmente obsceno o dinheiro que estão te pagando na TV?’ E eu direi: ‘Sim, mas não estarei declarando no imposto de renda’ (risos).’


 


Julia Contier


Cocoricó: pelo social


‘A TV Cultura prepara uma série de programetes especiais sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em julho comemora 18 anos, com os personagens do programa infantil Cocoricó.


‘Esta iniciativa segue a mesma idéia do programete que estréia hoje durante a programação infantil, na qual a turma do Cocoricó entra na luta de combate à dengue’, conta a Coordenadora do Núcleo Infanto-Juvenil da Fundação Padre Anchieta, Ambar de Barros.


Os principais personagens da série, como o Júlio, o cavalo Alípio, a galinha Lilica, João (primo do Júlio, que veio da cidade grande) e o avô de Júlio ensinarão às crianças, de forma lúdica, as várias maneiras de prevenção da doença, como colocar areia em vaso de planta, lavar a tigela de água do animal, fechar o lixo e não deixar água no pneu.


Segundo Ambar, a idéia surgiu do núcleo infantil da emissora. ‘Percebemos que as crianças estavam alarmadas, com medo de qualquer mosquito. Queríamos um programete divertido que falasse de prevenção.’ Inédito, o esquete tem duração de 40 segundos, direção de Fernando Gomes e roteiro de Fernando Salém.’


 


CINEMA
O Estado de S. Paulo


Mais um filme brasileiro em Cannes


‘A organização do 61º Festival de Cinema de Cannes, que começa na quarta-feira e vai até o dia 25, anunciou a participação de outro filme brasileiro: O Mistério do Samba, documentário dirigido por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda. O longa, que será exibido no último dia do festival, encerrando a Mostra Cinéma de la Plage, mostra a história, as músicas, o cotidiano dos integrantes da Velha Guarda da Portela e a pesquisa feita por Marisa Monte para recuperar composições esquecidas. O documentário, que estréia no Brasil no segundo semestre, conta ainda com as participações de Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho.’


 


TECNOLOGIA
Matthew Shirts


Inteligência artificial


‘Sorrio ainda hoje ao lembrar do título de um artigo do meu saudoso mestre Richard M. Morse. Chama-se ‘Desliguem os computadores que eu quero descer!’ Aborda a história dos estudos acadêmicos nos Estados Unidos voltados para o Brasil e seus autores, os brasilianistas. Morse critica um certo fordismo na produção americana do saber sobre a América Latina depois da revolução cubana. O artigo foi escrito em uma máquina Olivetti 22 na década de 1970, antes da invenção do computador pessoal. Espirituoso, Morse pensava em grandes ‘mainframes’ eletrônicos acoplados a esteiras, em que corriam cientistas sociais.


A imagem me veio à cabeça na semana passada, ao tentar desligar meu próprio laptop. É novo. Estamos nos conhecendo um ao outro. Percebo alguns atritos ou fragilidades na relação. Tento desligá-lo, mas ele não obedece. Fica aí, na mesa, meio dormindo, fingindo-se de morto. Mas, pelos meus critérios, está funcionando. Percebo sinais de consciência, mesmo com a tampa fechada.


O problema não é do computador, mas meu. Só pode ser meu. Vem se repetindo com diversos aparelhos eletrônicos há algum tempo. Sou do tempo do claque-claque. É o barulhinho que faziam os botões de ligar e desligar. On e off. Claque. Claque. Funcionava. Era simples e direto. Não sei por que mudou.


O mais problemático talvez seja o videogame do meu filho caçula, Samuel. É um Play Station 2. Não sou analfabeto em jogos eletrônicos. Mas meus conhecimentos são de outra geração de aparelhos. No início da década de 1990, cheguei a editar diversas revistas de videogames. Não me lembro de ter enfrentado dificuldades para desligar o Mega Drive ou o Super Nintendo, por exemplo.


Já o Play Station 2, que roda DVDs, é outra história. Para começo de conversa, o botão é disfarçado, integrado sem marcas distintas ao painel da frente. Cheguei a pensar que foi feito assim para que nunca fosse desligado pelos pais. Mas concluí que era paranóia. Mesmo depois de ter localizado o botão, no entanto, tenho dificuldades para acioná-lo. Ele não faz barulho nenhum. Claque, então, nem pensar. O objetivo, pelo que entendi, é passar da luz verde à vermelha que, depois de um tempo, se apaga.


Pensei ter conseguido na noite de quinta-feira. Apareceu a luz vermelha, o DVD parou de rodar; fez-se o silêncio. Ufa. Subi da sala, onde fica o aparelho, até o quarto, para ler meu livro. É um romance ótimo, de David Lodge. Chama-se Thinks… e, pelo que vejo na internet, foi lançado no Brasil em português pela editora Best Seller com o título Pense… Discutindo o politicamente correto, Lodge especula que, no futuro, vamos inventar a desculpa de ter um encontro com a amante para poder sair e comer, escondido, um bifão. Dei uma boa risada e desci a escada para pegar um copo d’água. A sala estava escura. Aparecia, apenas, ali do lado da televisão, a luz verde do Play Station 2. Orgulhoso, tirava sarro da minha cara.


Se eu escrever que desliguei de novo o aparelho e que, uma hora mais tarde, repetiu-se a cena, você não vai acreditar. Dirá que é ‘passarinho’. É esse o nome que Mario Prata dá aos pequenos artifícios utilizados na crônica para avançar a narrativa. Uma mentirinha, digamos assim. Mas aconteceu. Juro. Depois, dormi.


Quando acordei no dia seguinte e abri a tampa do laptop para escrever estas mal traçadas, o bicho acendeu-se por inteiro. Luzes piscaram em seqüência, como os caça-níqueis de Las Vegas, a tela se iluminou, apareceu meu nome e o pedido de uma senha. Ele não estava desligado. Dormia, apenas, como eu. Começa assim, pensei. Depois, as máquinas tomam conta de tudo.’


 


 


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