Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Faroeste no Senado, mídia intimidada

Os escândalos no Senado tornaram-se quase diários, talvez por isso tenha sumido do noticiário uma das maiores violências ocorridas naquela casa legislativa. Foi na última segunda-feira (25/4), quando um repórter da rádio Bandeirantes perguntou ao senador Roberto Requião (PDMB-Paraná) por que não abria mão da aposentadoria de ex-governador. Requião teve um surto de fúria, ameaçou bater no repórter, tomou-lhe o gravador e só o devolveu horas depois com a entrevista apagada. Tripla truculência: apossar-se de objeto alheio, intimidar um cidadão impedindo-o de trabalhar e obstruir o livre exercício do jornalismo.


Diante da repercussão do caso, no dia seguinte Requião subiu à tribuna para justificar-se e, inspirado no paranóico de Realengo, acusou a imprensa de submetê-lo a um bullying. O Senado não tem policiamento interno, não tem segurança, não tem corregedor e sua comissão de ética é composta majoritariamente por um bando de parlamentares sem qualquer compromisso com a decência ou o decoro. Acontece que Requião é um truculento histórico: já foi chamado de ‘Maria Louca’ pelo falecido correligionário Orestes Quércia e num levantamento da sua vida pregressa realizado em 1997 constatou-se que, dos quatros mandatos para os quais fora eleito, dois haviam sido interrompidos pela justiça por prevaricação. Nomeado por José Sarney como relator da CPI dos Precatórios, aceitou a indicação sem o menor escrúpulo até a Gazeta Mercantil desmascará-lo, revelando que estava sub-judice – era réu, não tinha credibilidade para julgar. José Sarney gosta de Requião e gosto não se discute, tanto assim que, ao saber do episódio do seqüestro do gravador, desculpou o colega, classificando-o como ‘um cavalheiro’.


O desempenho de Requião na CPI dos Precatórios foi tão nauseante que Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, declarou ao Estado de S. Paulo que, no lugar de relator, Requião deveria ser réu de uma CPI. (Dom Paulo conhecia-o muito bem: embora nascido em S. Catarina, viveu no Paraná junto com os irmãos e a irmã, Zilda Arns). Figura manjada, a folha corrida de Requião é conhecida tanto pela imprensa paranaense como pela grande imprensa nacional (e agora também a internacional porque o caso do gravador foi comentadíssimo pelo Twitter). Ninguém o encara ou o enfrenta, a rádio Band enfiou o rabo entre as pernas – deveria processá-lo por furto. Amarelou. Há momentos em que o adjetivo que melhor qualifica nossa imprensa é ‘pusilânime’.


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Este Observatório já enfrentou Roberto Requião. Clique aqui e reveja toda a história.