Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fernando Duarte

‘Uma rede de jornais comunitários de Londres decidiu fazer censura. De más notícias. Desde dezembro, as publicações da Independent London Local Newspapers, que circulam na região central e oeste da cidade, têm sistematicamente ignorado problemas e publicado apenas reportagens consideradas positivas para os bairros e as comunidades que atinge. A idéia é do dono da rede, John Mappin, para quem uma dieta de boas notícias faz bem aos leitores.

Mappin adaptou o lema do ‘New York Times’, que se orgulha de publicar todos os fatos que são notícia. Nas publicações da Independent Local Newspapers, há sempre espaço para histórias de otimismo e de vitória contra adversidades. Crimes e barbeiragens políticas deram espaço para reportagens sobre o sucesso de distritos policiais locais na luta contra o crime. A rigor, más notícias até podem encontrar espaço, mas desde que dêem origem a mudanças positivas.

– Os leitores estão cansados de ver notícias sobre alguém sendo atropelado ou assaltado. Nossas pesquisas mostraram que pessoas e negócios não são ajudados em nada pela propagação de más novas – diz Mappin.

– Mappin afirma que seu projeto é comercialmente viável. Segundo ele, o número de anunciantes nos jornais da rede tem aumentado desde a mudança editorial.

— É simples: fica muito mais fácil vender um produto que provoque reações positivas no público-alvo. Leitores têm escrito elogiando as mudanças.

Um dos principais trunfos de Mappin é publicar reportagens que agradem às diferentes comunidades e grupos religiosos de Londres. Não é por acaso que seus jornais enfocam judeus, muçulmanos e sikhs. Ele próprio contou aos leitores detalhes de seu casamento muçulmano com a mulher, que é do Cazaquistão, em Londres, no dia 11 de setembro, duas horas antes dos atentados ao World Trade Center.’



O Globo


‘Controladores do ‘Daily Telegraph’ tiram Conrad Black da presidência’, copyright O Globo, 9/03/04


O conglomerado de mídia britânico Telegraph Group demitiu o magnata Conrad Black do cargo de presidente, disse ontem um porta-voz da Hollinger International Inc., que controla o grupo. As publicações do conglomerado incluem o inglês ‘Daily Telegraph’, o americano ‘Chicago Sun-Times’ e o ‘Jerusalem Post’. Black não quis comentar a decisão.


Com isso, Black não tem mais vínculos empregatícios com a Hollinger International, com a qual ele está envolvido em uma disputa judicial relativa à venda de alguns jornais. A empresa se queixa de que Black recebeu pagamentos extras para não lançar veículos que concorressem com aqueles jornais. A Hollinger diz que o dinheiro deveria ter ido para a empresa e não ficado com o executivo.


Mas Black continuará fazendo parte do Conselho de Administração e ainda é o maior acionista do grupo, explicou o porta-voz da empresa, Jeremy Fielding.


Mês passado, a Corte de Delaware determinara que Black havia rompido um acordo de confiança com a Hollinger International, cuja sede é nos EUA. O juiz Leo Strine concluiu que a tentativa de Black de se desfazer de suas ações violava um acordo de reestruturação que ele havia assinado em novembro passado, quando renunciou ao cargo de diretor-executivo do conglomerado.


Black renunciou devido à pressão para que devolvesse o dinheiro alvo da disputa judicial. Black foi impedido de vender sua participação acionária na Hollinger para David e Frederick Barclay, donos do Hotel Ritz de Londres.’




GOVERNO SCHARZENEGGER
Jornal do Brasil

‘Califórnia apóia Arnold’, copyright Jornal do Brasil, 4/03/04

‘O ator e governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, passou em sua primeira grande prova política ontem depois que os californianos aprovaram seu polêmico plano de emitir bônus no total de US$ 15 bilhões para amenizar a crise fiscal do estado.

– Esta é a noite da vitória do povo, que envia sua mensagem de forma muito clara: quer que os republicanos e os democratas trabalhem juntos – disse.

Com 58% dos votos contados no fim da noite passada, 61,7% dos californianos decidiram aprovar a Proposição 57 para solucionar o déficit fiscal do estado.

Outro forte apoio a Schwarzenegger foi a aprovação por 70% da Proposição 58, medida que impede líderes do Estado de solicitar mais empréstimos estatais.

Nas últimas semanas, Schwarzenegger conduziu uma ativa campanha, com muitas reuniões públicas e as intervenções televisivas para mostrar que ou se obtinha o crédito ou o Estado quebraria em junho, o que significaria cortes drásticos para programas sociais.’



DISNEY MUDA COMANDO
O Globo

‘Eisner repartirá o comando da Walt Disney’, copyright O Globo / New York Times, 5/03/04

‘Em uma extraordinária reviravolta na cúpula de uma das mais tradicionais indústrias de entretenimento do mundo, os acionistas da Walt Disney Company rejeitaram ontem a reeleição de Michael Eisner como presidente da empresa. Em seu lugar assume o diretor da empresa e ex-senador George Mitchell, mas Eisner manterá o cargo de diretor-executivo, que acumulava com a presidência.

Segundo fontes que participaram do processo, a crescente disputa interna na empresa foi a principal razão para a decisão do conselho de acionistas de dividir o poder de Eisner. Com isso, eles esperam atenuar as reclamações de investidores com respeito ao mau desempenho das ações da companhia e ao estilo autocrático de gerenciamento de Eisner.

Mas os analistas acreditam que, em vez de mostrar a independência do conselho, a medida deverá ser questionada pelos investidores, já que Mitchell é amigo de Eisner e tem sido um fiel aliado do ex-presidente da Disney.

Reunião de acionistas atrai manifestantes

A decisão de ontem, dizem os analistas, pode intensificar a campanha contra Eisner e atingir seus quase 20 anos de titular da Disney.

Em frente à sede onde foi realizada a convenção com cerca de três mil acionistas da Disney, manifestantes, alguns fantasiados, e curiosos formaram um agitado grupo. Do lado de dentro, Eisner defendia no plenário, com a voz embargada, sua administração financeira.

– Eu amo essa empresa – disse ele ao plenário. – O conselho ama essa empresa. Sua empresa tem um gerenciamento talentoso e criativo.

Dois ex-diretores, que assumiram a oposição a Eisner – Roy Disney, sobrinho do fundador Walt Disney, e Stanley Gold – tiveram 15 minutos para falar.

– Basicamente vocês comprometeram suas almas e perderam a integridade – disse Gold para Eisner e demais diretores.

Eisner respondeu, dizendo que as conclusões de Gold eram essencialmente equivocadas.’





Jornal do Brasil

‘Disney tem novo presidente’, copyright Jornal do Brasil, 5/03/04

‘Pressionado pela abstenção de 43% dos acionistas em votação de proposta para manter Michael Eisner na sua direção, o Conselho de Administração da Walt Disney Company decidiu, na madrugada de ontem, separar os postos de presidente do conselho e principal executivo da empresa. Eisner, que até a assembléia anual de quarta-feira acumulava os dois cargos, acabou perdendo a presidência do conselho para o ex-senador americano George Mitchell. Ele, no entanto, manteve a posição de principal executivo, para desgosto de Roy Disney, que lidera batalha para tirar Eisner do comando da compahia fundada por seu tio.

– Esse conselho simplesmente não entende. Mais uma vez, vemos medidas tomadas pela metade, mudanças cosméticas e más escolhas. Renovamos nosso pedido de mudanças significativas, a começar com a procura de um novo principal executivo e a seleção de um presidente do conselho verdadeiramente independente – reclamou o herdeiro, acrescentando que os acionistas da empresa foram ‘traídos’ pelo conselho.’



FRANÇA
Deborah Berlinck

‘Outdoors viram alvo em Paris’, copyright O Globo, 5/03/04

‘ ‘On est parti (Está dada a partida)!’ Place de Nations, sábado de sol, 14h, no centro de Paris. O termômetro marca quase zero grau, mas isso não detém Antoine, professor de filosofia; Alexandre, vendedor de CDs; Andrea, fotógrafa independente; seu namorado Samuel, desempregado, e alguns outros de se aventurar pelas ruas da cidade com vassoura na mão, balde, cola, caneta, cartazes feitos em casa e spray colorido. Missão: desfigurar os cartazes publicitários, em protesto contra a ‘mercantilização da vida, da cultura’.

– Não agüentamos mais tanta publicidade – queixa-se Alexandre Baret, que convida um pedestre a expressar suas idéias num cartaz em branco.

O filho de Alexandre, Artur, de quatro anos, corre em direção a um outdoor com uma caneta na mão. A mãe, Noel, do Senegal, também participa, inconformada com a imagem da mulher nas propagandas de Paris.

– Mulher nua para vender alguma coisa! Não tem isso no Senegal – diz.

Destruir propaganda virou uma rotina na família. Alexandre pede para o filho recuar um pouco – ‘Artur, sai daí, isso cheira mal’ – joga cola num enorme cartaz publicitário de carros e bota um outro por cima, que diz: ‘Sejamos livres para agir. A vida não é um espetáculo’.

Alexandre é veterano de um movimento espontâneo na França que não pára de crescer: o Stopub, que reúne várias organizações ‘antipub’ (antipublicidade). O movimento denuncia o ‘totalitarismo’ da propaganda na vida das pessoas e propõe a retomada pacífica e bem-humorada do espaço. Ninguém sabe exatamente quem começou, mas os adeptos proliferam com a ajuda da internet. Os grupos também: já existem Resistência à Agressão Publicitária, A Matilha e Paisagens da França. Através da rede, eles marcam encontros, decidem ações. De um dia para o outro, no metrô parisiense, a manequim loura de pernas longas da propaganda de uma grande loja sai desfigurada, dizendo coisas geralmente irônicas como ‘é mentira’, ‘não compre’. Como não há violência, o público geralmente gosta.

– Nós só queremos lembrar que a humanidade existe. Tem muita publicidade que veicula mensagens perversas que tocam nossa consciência – explica Andrea, de 22 anos, sem domicílio fixo (dorme em casa de amigos), depois de colar sobre uma propaganda um outro cartaz convidando a população a usar o espaço para ‘informações sobre a vida associativa’.

Professor de filosofia de um colégio no subúrbio de Paris, Antoine é um dos novos adepto do movimento. Em dezembro, diante da enorme propaganda de uma loja em Paris que mostrava duas mulheres se olhando como se estivessem numa relação sexual, ele achou que ‘era demais’ e resolveu participar de uma ação em dezembro. Saiu encantado:

– Poder escrever sonhos e poemas me deu um enorme prazer.

Hoje Antoine, Alexandre, Samuel, Andrea estão entre as 62 pessoas processadas pelas empresas de transporte público – Metrobus e Ratp – por estragos avaliados em 1 milhão de euros. No dia 28 de novembro, convocados para uma ação nas estações de metrô de Paris, vários militantes foram surpreendidos pela polícia. Ainda assim, conseguiram fazer um estrago em 800 cartazes. O movimento agora se mobiliza para recolher dinheiro para pagar advogados.

– Dizem que é degradação. Eu digo que é nossa liberdade de expressão. É um problema de terminologia – ironiza Samuel.

Apesar de processado, Samuel e os outros continuam as ações. Ao final de duas horas, mais de dez outdoors estavam completamente mudados.’