Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Floresta de retrocessos

A leitura dos jornais desta quarta-feira, 25, dá a sensação de que o Brasil recuou trinta anos no processo de modernização e consolidação de sua democracia.

A Câmara dos Deputados aprovou o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o projeto de mudanças no Código Florestal, contra as opiniões da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de todos os ex-ministros do Meio Ambiente que ocuparam a pasta nos últimos 38 anos, e contra os compromissos assumidos pelo Brasil nas três últimas décadas nos mais importantes foros internacionais.

O assassinato do casal de militantes ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos por pistoleiros a serviço de madeireiras no estado do Pará, completa o quadro dos retrocessos.

O casal dava seguimento ao trabalho de proteção à floresta na região onde atuou a missionária Dorothy Stang, também morta por pistoleiros no dia 12 de fevereiro de 2005.

Não há como desvincular o assassinato do casal Silva da sensação de impunidade que se oferece aos desmatadores quando o Parlamento aprova a anistia aos autores de crimes ambientais.

Com grande certeza se pode afirmar que os assassinos se sentem mais protegidos: agora que seus patrocinadores se consideram livres para derrubar as árvores, tornou-se ainda mais conveniente e mais seguro eliminar fisicamente aqueles que se opõem ao desmatamento.

O projeto do Código Florestal ainda tem que passar pelo Senado, onde certamente se repetirá o jogo de pressões em troca de cargos e benesses que caracteriza a política nacional.

Dizem os jornais que a presidente da República pretende vetar os artigos considerados mais lesivos ao patrimônio ambiental e que representam riscos diplomáticos diante dos compromissos internacionais firmados pelo Brasil.

De qualquer maneira, os fatos revelam a inoperância ou, no mínimo, a falta de qualificação do Congresso Nacional para identificar os verdadeiros interesses nacionais.

Os jornais desta quarta-feira também noticiam a prisão do jornalista Antonio Pimenta Neves, assassino confesso que ficou quase onze anos impune.

Comemora-se o arremedo de justiça, mas nenhum destaque se dá ao fato de que ele deverá cumprir apenas mais 24 meses de cadeia, e em pouco mais de dois anos poderá gozar do benefício da prisão domiciliar.

O noticiário desta quarta-feira dá a sensação de que o Brasil andou, andou, mas suas instituições fundamentais não saíram do lugar.