CULTURA
Economia da cultura
‘O IBGE lançou, em parceria com o Ministério da Cultura, a segunda pesquisa de indicadores da economia da cultura. Os números são expressivos: as 320 mil empresas do setor geram 1,6 milhão de empregos formais e representam 5,7% das empresas do país. A cultura é o setor que melhor remunera -sua média salarial é 47% superior à nacional.
O fomento à economia da cultura é um dos eixos prioritários de ação do MinC. Criado em 2006, o nosso Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura trabalha em três frentes: informação, capacitação e promoção de negócios.
O Brasil tem evidente vocação para tornar a economia da cultura um vetor de desenvolvimento qualificado, em razão de nossa diversidade e alta capacidade criativa. Temos importantes diferenciais competitivos, como a excelência dos produtos, a disponibilidade de profissionais de alto nível e a facilidade de absorção de tecnologias. Temos um mercado interno forte, no qual a produção nacional tem ampla primazia sobre a estrangeira -a música e o conteúdo de TV são exemplos robustos, em que o predomínio chega a 80%. O prestígio do país está em alta, temos a oportunidade de ampliar mercados.
A economia da cultura, que envolve produção, circulação e consumo de produtos e serviços culturais, já responde por 7% do PIB mundial. Os produtos culturais são o principal item da pauta de exportações dos Estados Unidos e representam 8% do PIB da Inglaterra. O setor vem ganhando atenção.
Um de seus fortes ativos é a propriedade intelectual, mas segmentos dinâmicos, como festas e artesanato, não são baseados em patente ou direito autoral. O setor depende pouco de recursos esgotáveis e tem baixo impacto ambiental. Gera produtos com alto valor agregado e é altamente empregador. Seu desenvolvimento econômico vincula-se ao social pelo seu potencial inclusivo e pelo aprimoramento humano inerente à produção e à fruição de cultura.
A tecnologia digital criou novas formas de produzir, distribuir e consumir cultura e, com elas, surgem novos modelos de negócio e de competição por mercados, nos quais a capacidade criativa ganha peso em relação ao porte do capital.
O desenvolvimento da economia da cultura exige mecanismos diversificados de fomento, diferentes da política de fomento via leis de incentivo fiscal. É preciso formular ações integradas e contínuas que enfrentem os gargalos, sobretudo quanto à distribuição de produtos e espetáculos e à democratização do acesso ao rádio e à TV. Implantar uma estratégia para esse setor é um desafio imediato se quisermos aproveitar oportunidades geradas pelas novas tecnologias.
Esse desafio envolve Estado, entidades setoriais e iniciativa privada e requer: (1) implantar agenda para os segmentos dinâmicos; (2) aprofundar o conhecimento sobre eles, para subsidiar o planejamento das políticas públicas e das empresas; (3) capacitar empresas e produtores, sobretudo em gestão de propriedade intelectual; (4) identificar oportunidades de mercado; (5) ampliar a presença no mercado externo; (6) dinamizar o tripé distribuição-circulação-divulgação e, (7) enfrentar a necessidade de regulação e atualização na legislação.
Em 2007, realizamos as primeiras ações diretas de promoção de negócios, como a Feira Música Brasil, a elaboração do programa do artesanato de tradição cultural e o apoio à exportação do audiovisual.
Firmamos parcerias para incluir o setor no escopo de ação dos órgãos de fomento e pesquisa. Com o BNDES, linhas especiais de crédito e inclusão de fornecedores da cultura no cartão BNDES. Com o BNB e o Basa, linhas de microcrédito com mudanças nas garantias. Com o IBGE, coleta de informações e construção de indicadores, que deve culminar no PIB da cultura. Com o Sebrae, formulamos seu programa para o setor. Com o Ipea, contratamos estudos. Banco do Brasil e Caixa estudam produtos específicos. Com o BID, parceria para pesquisas de cadeia produtiva.
Ainda é preciso evoluir muito nas ações de fomento e na capacidade de formulação e planejamento por parte dos realizadores e das organizações do setor, superando a lógica de projetos pontuais.
A diversa e sofisticada produção cultural brasileira, além de sua relevância simbólica e social, deve ser entendida como um dos grandes ativos econômicos do país, capaz de gerar desenvolvimento.
Realizar esse potencial significa produzir riqueza e inclusão social, além da inserção qualificada do país no cenário internacional.
GILBERTO PASSOS GIL MOREIRA , o Gilberto Gil, 65, músico, é o ministro da Cultura. PAULA PORTA , historiadora, doutora pela USP, é assessora especial do ministro da Cultura e e coordenadora do Prodec (Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura.’
FRANÇA
Folha de S. Paulo
Sarkozy e Carla Bruni se casam em Paris
‘O presidente da França, Nicolas Sarkozy, 53, casou-se ontem com a ex-modelo e cantora franco-italiana Carla Bruni, 40. A cerimônia não havia sido previamente anunciada. Ocorreu nas dependências do palácio presidencial do Elysée e foi oficiada pelo prefeito do 8º Distrito de Paris, François Lebel.
Sarkozy e Bruni conheceram-se em novembro, um mês depois de o presidente se divorciar de Cécilia Ciganer, sua segunda mulher. Em dezembro, Sarkozy, por razões que seus adversários apontam como marketing pessoal, assumiu o relacionamento em público, passeando abraçado com a cantora na Disneylândia francesa.
O casal viajou em férias de fim de ano ao Egito. Duas viagens presidenciais em janeiro, à Arábia Saudita e à Índia, criaram desconforto, porque os países anfitriões, conservadores em questões conjugais, não receberiam um chefe de Estado acompanhado de uma mulher com quem não era casado.
Presidente e celebridade
Os franceses não apreciaram ter o presidente, eleito em maio, rebaixado à condição de celebridade. Especialistas em pesquisas admitem que o namoro gerou uma percepção de vulgaridade e foi responsável pelas quedas nos índices de confiança do presidente.
A notícia do casamento foi divulgada às 13h30 locais (10h30, em Brasília) pelo site da emissora RTL. Foi de início recebida com precaução, porque, embora atribuída a um dos fotógrafos que registrou o casamento, em duas ocasiões anteriores circularam rumores infundados sobre a cerimônia.
Na França não há juiz de paz. Os casamentos civis são celebrados pelos prefeitos ou por um adjunto por ele designado. François Lebel, que oficiou a união, confirmou à rádio Europa-1 que fizera o ‘casamento de um casal residente no número 55 da rua do Faubourg Saint-Honoré’, que é o endereço do palácio presidencial.
Carla Bruni, nascida em Turim, já foi namorada do cantor e guitarrista Eric Clapton, do vocalista Mick Jagger e do ator Kevin Costner. Namorou na França o advogado Arno Klasfeld e nega ter tido uma relação com o ex-premiê socialista Laurent Fabius. Tem um filho de 7 anos com o professor de filosofia Raphaël Endhoven, depois de namorar o pai dele, o editor Jean-Paul Endhoven.
Com agências internacionais’
TELEVISÃO
‘Caminhos’, a novela dos mutantes, terá dinossauro
‘A novela ‘Caminhos do Coração’, da Record, está cada vez mais inacreditável. Os inofensivos mutantes do começo cederam espaço a um ‘freak show’ de lobisomens, vampiros e novos mutantes, todos do mal. Quando se pensava que a fábrica de seres surreais de Tiago Santiago ficaria repetitiva, eis que o autor surpreende: sua novela terá, em breve, um dinossauro e um sapo gigante.
Assim como os lobisomens e o batráquio, o primeiro dinossauro da teledramaturgia nacional será produzido em computação gráfica, em uma parafernália chamada Inferno.
‘O dinossauro será um velociraptor, um carnívoro bípede do período cretáceo’, conta Santiago. ‘Será mais uma experiência genética da doutora Júlia [Ítala Nandi, que também criou os mutantes]. Ela conseguiu o código genético do dinossauro e o reproduziu na ilha onde estão os mutantes. Ele vai atacar as pessoas da ilha. Qualquer semelhança com [o filme] ‘Jurassic Park’ [1993] não será mera coincidência’, brinca.
O sapo gigante, que deve aparecer na novela no meio desta semana, também irá atacar a população da exótica ilha. Igualmente cria da maluca doutora Júlia, o monstrengo tem um veneno letal na língua.
‘Caminhos do Coração’ tem esse nome, digamos, excêntrico, porque poderia enveredar para uma história romântica. Mas os mutantes emplacaram e mudaram o mapa.
A VOLTA DA EX-PAQUITA
Ex-paquita, Monique Alfradique, 21, ganhou seu primeiro papel de destaque há três anos, em ‘A Lua Me Disse’. Neste mês, ela retorna à faixa das 19h da Globo, em ‘Beleza Pura’, no ar a partir do dia 18. Para viver Fernanda, identificada na sinopse da autora Andrea Maltarolli como moderna, Monique clareou os cabelos e ganhou uma franja da moda. Fernanda irá rivalizar com Luiza (Bianca Comparato). Ela acha a colega de escola um bicho-do-mato, mas terá que disputar com ela o mesmo garoto, Klaus (Rafael Cardoso).
SUPERCHIC
Promessa de se tornar uma nova ‘Sex and the City’, a série ‘Lipstick Jungle’, a estrear nesta sexta na NBC, terá um toque brasileiro. São do estilista Carlos Miele (M.Officer) vestidos do figurino de Brooke Shields, uma das protagonistas.
MULHER ATUAL
A jornalista, radialista, humorista, blogueira e mestra em física nuclear Rosana Hermann, 50, foi nos últimos três anos uma das cabeças por trás do ‘Pânico’. Estava feliz, mas um convite da Band a abalou. ‘O que pesou foi a possibilidade de voltar ao ar. Eu adoro apresentar’, diz, negando que seja uma ‘Robert’ (pessoa que faz de tudo para aparecer). A partir de 3 de março, Rosana apresentará e será editora-chefe do vespertino ‘Atualíssima’. ‘Eu também sei desbloquear iPhone, faço tricô e crochê e cozinho muito bem’, brinca.
BELDADES
Depois de uma ponta em ‘Paraíso Tropical’, Deborah Secco volta às novelas das oito em ‘Juízo Final’. A atriz foi confirmada na semana passada no elenco da substituta de ‘Duas Caras’, ao lado de Juliana Paes e Mariana Ximenes.
Pergunta indiscreta
FOLHA – A sua relação com Patrícia Poeta é melhor do que com Glória Maria, com quem você não falava?
RENATA CERIBELLI (repórter e apresentadora eventual do ‘Fantástico’) – A minha relação com a Patrícia Poeta é ótima. Não havia relação com a Glória. Adoro a Patrícia, dou o maior apoio. [Patrícia] foi uma ótima escolha para o programa. Nunca me foi dito [que seria a substituta da Glória]. E a Patrícia já revezava comigo na apresentação do ‘Fantástico’. Ela começou a apresentar o programa em Nova York.’
Lucas Neves
Comédia ‘The Office’ finalmente chega à TV aberta
‘É Carnaval, mas o gerente regional da distribuidora de papel Dunder Mifflin, Michael Scott (Steve Carell), e seus subordinados na série cômica ‘The Office’ não querem saber de botar o bloco na rua. Ao contrário: a turma dá expediente na Record a partir desta terça, em plena folia momesca.
Adaptação do programa inglês homônimo, o seriado norte-americano narra o cotidiano de um escritório em que as jornadas de trabalho não passam imunes às excentricidades do chefe. Seus comentários sobre o desempenho da equipe e explanações acerca das ‘metas de produtividade’ sempre roçam no sexismo ou na canalhice.
Ao lado de Michael estão o bajulador nerd Dwight (o ótimo Rainn Wilson), o ‘joão-sem-braço’ Jim (John Krasinski) e a secretária Pam (Jenna Fischer), entre outros. Na história, as dependências da Dunder Mifflin recebem a visita de documentaristas que pretendem registrar o dia-a-dia corporativo; por isso, os personagens a toda hora gesticulam ou se dirigem à câmera. Não há claque ou platéia (como em ‘Friends’) nem um ritmo cadenciado de piadas. Desde a sua estréia nos EUA, em março de 2005, ‘The Office’ teve boa acolhida da crítica.
Já o público levou mais tempo para se familiarizar com a egolatria de Michael. A comédia, hoje em sua quarta temporada, é vista semanalmente por cerca de 8,5 milhões de pessoas -o que, se não a coloca no patamar de títulos como ‘Two and a Half Men’, é o suficiente para lhe dar estabilidade na programação da rede NBC.
Em novembro de 2007, as gravações da nova safra foram interrompidas por causa da greve dos roteiristas de Hollywood. Oito episódios (de uma encomenda de 25) foram produzidos antes da paralisação.
Em 2006, a série recebeu o Emmy de melhor comédia. Há uma semana, o elenco foi agraciado com o prêmio do sindicato dos atores. O currículo de ‘The Office’ também tem indicações ao Globo de Ouro.
THE OFFICE
Quando: terça, dia 5, à 0h
Onde: Record’
Bia Abramo
Pérolas, porcos e patetas
‘‘GRAÇAS A Deus, nunca fui de ler livro.’ A frase, definitiva, é de uma das ilustres celebridades criadas no laboratório do ‘BBB’, um tal de Fernando. É má política ficar indignado com aquilo que já sabemos não ser digno de atenção, mas, ainda assim, por vezes a estupidez dá tais sustos na gente que é difícil ficar impassível.
Neste caso, o mais intrigante não é, evidentemente, o fato de o moço não ser de ‘ler livros’. A cultura escrita não goza lá de muito prestígio entre nós, brasileiros, falando de maneira bem genérica. Se consideramos o microcosmo do ‘BBB’ -gente jovem, considerada bonita, com pendores exibicionistas, ambição de se tornar celebridade e propensa a ganhar dinheiro fácil-, o índice deve tender a quase zero.
O mais revelador é o alívio com que ele se expressa, como a dizer: ‘Graças a Deus não fui amaldiçoado com essa estranhíssima vontade, esse gosto bizarro, esse defeito de caráter’. Qual é, exatamente, a ameaça que se pensa haver nos livros, ficamos sem saber, mas o temor de pertencer ao esquisito grupo daqueles que ‘são de ler livro’ fala por si só.
Por outro lado, é nesses momentos de espontaneidade real que o ‘BBB’ tem algum interesse. Embora aqueles que chegaram ao programa não sejam, a rigor, representativos de nada, nessas brechas escapa o que vai na cabeça dessas moças e rapazes, de certa forma parecidos com os que estão do lado de fora.
O desprestígio do conhecimento letrado é marca funda da sociedade brasileira -e quando é formulado com tanta veemência e clareza, é preciso prestar atenção.
Enquanto isso, na universidade de Aguinaldo Silva, o pau come. Na novela ‘Duas Caras’, a instituição de ensino é palco de uma luta renhida entre aqueles que ‘querem estudar’ -para vencer na vida, não mais do que isso; estudar aqui tem um valor de troca muito claro- e o bando de baderneiros e oportunistas, identificados como ‘de esquerda’, que querem tumultuar o projeto ‘eficiente’ do reitor, um ex-militante convertido ao ensino privado.
Todos estudam lá -as mulatas sestrosas da favela, as patricinhas do condomínio, a mulher adulta que volta à sala de aula. Só não se sabe, ao certo, o que se estuda -embora haja gente empunhando livros e cadernos, não há uma indicação sequer (nem nos diálogos, nem nas trajetórias dos personagens) de que, em uma universidade, ao contrário dos shoppings do ensino, deva se produzir conhecimento e que o conhecimento de verdade é transformador. Justamente o que deve temer o ‘brother’ Fernando.’
CINEMA
Uma câmera na mão e um monstro na cabeça
‘É o filme de monstro da geração YouTube. É uma catarse diretamente ligada aos sentimentos do 11 de Setembro. É ‘Godzilla’ filmado ao estilo de ‘A Bruxa de Blair’.
É ‘Cloverfield – Monstro’, o blockbuster produzido por J.J. Abrams (de ‘Lost’) que chega aos cinemas nacionais na próxima sexta, depois de estabelecer o recorde de bilheteria de janeiro nos EUA (US$ 41 milhões no primeiro fim de semana, para um custo de US$ 30 milhões, fora o marketing).
É também o mais bem-sucedido caso de propaganda viral já visto na web, uma campanha cheia de mistérios e desdobramentos que deixou os blogs em polvorosa desde que os primeiros sinais do filme surgiram, na forma de um trailer pouco elucidativo, divulgado na estréia do filme ‘Transformers’, em julho.
‘A idéia era fazer material complementar que parecesse real, como se fosse criado por outras pessoas, porque no filme a informação é limitada pelo ponto de vista restrito’, diz Matt Reeves, diretor do filme, à Folha, por telefone.
‘Nossa história pretendia recriar as sensações das pessoas ao passar por um evento desses, do ponto de vista restrito que elas têm, sem informação. Os outros pedaços do quebra-cabeça foram espalhados como uma rede de informações, formando uma metahistória.’
Ponto de vista ‘real’
Como em ‘A Bruxa de Blair’ (1999), o que se vê é uma história contada em retrospecto, a partir do material de uma câmera de vídeo resgatada pelos militares após o desastre.
Na gravação que está na câmera, o espectador é apresentado a Rob Hawkins, um jovem que está de partida para um emprego no Japão e que ganha uma festa de despedida secreta.
As imagens da festa vão sendo registradas por Hud, um amigo de Rob, e é do ponto de vista dele que o espectador acompanha os incidentes que se sucedem a partir de uma série de explosões à distância.
Os jovens saem à rua sem muita noção do que está acontecendo, até que a cabeça da Estátua da Liberdade chega voando, arrancada por algo não identificado, mas que faz grunhidos apavorantes.
Daí em diante, estabelecem-se o caos e a correria, e o público vai a reboque da câmera amadora conduzida por Hud (em várias ocasiões literalmente, já que o ator T.J. Miller empunhou o equipamento).
‘Assisti a muitos vídeos do YouTube para ver como as pessoas gravam suas vidas. Tanto do que acontece hoje é colocado na internet porque é o modo como a nova geração processa o mundo, e o estilo do filme é baseado nisso’, diz Reeves.
Mas fazer um filme profissional parecer algo amador não é tão simples quanto parece.
‘O desafio foi que eu queria que a filmagem parecesse acidental, mas que tivesse uma narrativa cinematográfica, e precisava juntar isso de modo sutil. A maioria das cenas teve mais de 40 tomadas, porque era uma busca pela tomada certa, que parecesse acidental.’
O resultado ficou tão realista e frenético que alguns espectadores sentiram-se mal, nos EUA, com tonturas e enjôos.
‘Está vivo!’
Para somar ao realismo desejado, um elenco de desconhecidos era ‘crucial’, diz o diretor.
‘A idéia era fazer um filme que parecesse uma filmagem caseira que o próprio público pudesse ter feito, então colocar Will Smith quebraria a ilusão.’
Diferentemente de ‘A Bruxa de Blair’, que não mostra seu personagem-título, ‘Cloverfield’ nunca considerou ficar apenas no suspense.
‘A graça desse filme é que, depois de usar um estilo realista e gerar toda a expectativa, que é uma referência aos climas de ‘Alien’ e ‘Tubarão’, nós mostramos o monstro.’
De fato, o bicho aparece -e é difícil dizer qualquer coisa sobre ele, além de que é bem alto (tem mais de 105 metros, segundo o diretor, ultrapassando a altura dos prédios, na tela) e de que não, não se parece em nada com o Godzilla.
‘É um bebê, recém-nascido. Ele está confuso, desorientado e irritável. E estava submerso nas águas há milhares e milhares de anos’, diz o produtor Abrams nas notas da produção.
Pesadelo coletivo
Ver Nova York sob ataque, com prédios caindo, poeira subindo e gente correndo, remete imediatamente ao 11/9/2001.
‘Assim como o ‘Godzilla’ original era uma metáfora para a ansiedade daquela era nuclear, e isso era parte de sua atração, queríamos criar nosso monstro americano remetendo ao pesadelo coletivo que tivemos, e suas raízes estão definitivamente no 11/9’, diz Reeves.
A crítica estrangeira não foi unânime em sua análise do filme -e pelo menos parte do público parece ter concordado com os detratores do longa, porque ele sofreu um espetacular tombo de 68% nas bilheterias em seu segundo fim de semana nos EUA.’
Mônica Bergamo
Laranjinha & Acerola
‘Amigos como os personagens de ‘Cidade dos Homens’, Quico e Pedro, filhos dos diretores Fernando Meirelles e Paulo Morelli, ensaiam carreira no cinema.
No primeiro dia de seu curso de cinema na USP, ele se apresentou apenas como Francisco. Não mencionou o sobrenome Meirelles, igual ao de seu pai, Fernando Meirelles, o cineasta brasileiro que dispensa apresentações aqui e lá fora, desde o sucesso mundial que alcançou com ‘Cidade de Deus’ (2002).
‘Não saio falando [que é filho de Fernando Meirelles], mas, se me perguntam, não tenho problema em dizer’, conta Francisco Meirelles, 19, que é chamado pelo apelido de Quico por todos que o conhecem.
Quico ficou bastante tempo longe da faculdade no segundo semestre do curso, no ano passado. Foi aprender a fazer cinema na prática, ao lado do pai.
Ele andou pelo Canadá, pelo Uruguai e pelo centro de São Paulo, locais onde Fernando Meirelles filmou ‘Cegueira’, longa adaptado do romance ‘Ensaio sobre a Cegueira’, de José Saramago, cujo título internacional é ‘Blindness’.
Por sugestão de Quico e pelo sim, pelo não, Fernando chegou a repetir cenas. ‘Muitas vezes, Quico veio me soprar no ouvido que um determinado ‘take’ não estava bom ou que o ator não estava convincente. Eu sempre pedia mas um ‘take’ quando ele vinha com essa’, contou o cineasta, quando pôs um ponto final às filmagens, em outubro passado.
Foi no set de ‘Cegueira’ que Quico se aproximou de Pedro Morelli, 21, que, assim como ele, é estudante de cinema na USP, carrega o sobrenome do pai cineasta (Paulo Morelli) e representa o futuro da O2 Filmes. Fundada em 1991 por Fernando Meirelles e Paulo Morelli, a empresa é hoje uma gigante na produção de comerciais, séries de TV e filmes de cinema.
Em ‘Cegueira’, Pedro cuidou da preparação dos figurantes. Cerca de 300 pessoas, que tiveram de aprender a se locomover sem enxergar, já que na história criada por Saramago uma epidemia de cegueira atinge uma população inteira, exceto a mulher do médico (a atriz Julianne Moore, no filme).
O desafio de Pedro era fazer com que os figurantes adotassem movimentos convincentes na tela. A função de Quico era se certificar de que toda a engrenagem em volta do diretor -a maquiagem dos atores, a preparação do cenário, das câmeras, etc- estivesse funcionando na hora do ‘ação’.
A seriedade do trabalho em ‘Blindness’, que é provável concorrente à Palma de Ouro no próximo Festival de Cannes, não impediu que Quico e Pedro se divertissem nos intervalos, rodando ‘Blondness’, um curta-piada de cinco minutos.
Eles explicam a ‘trama’ de ‘Blondness’, idéia original de uma morena canadense que trabalhou na produção de ‘Blindness’: ‘Subitamente, as pessoas vão ficando louras e burras. Tem uma cena muito engraçada com o roteirista Don McKellar, que interpreta o ladrão no filme. Ele está deitado. Quando acorda e vê que está louro, tem um chilique: ‘Preciso ter idéias. Não posso ser louro. Mas me deu uma vontade incrível de usar roupas cor-de-rosa e comprar um poodle’.
De volta ao Brasil, o trabalho dos rapazes em ‘Cegueira’ foi além das filmagens. Em dezembro passado, eles foram até Belo Horizonte, para registrar o processo de composição da trilha sonora de ‘Blindness’ pelo músico mineiro Marco Antônio Guimarães, do Uakti.
O material deve estar no futuro DVD de ‘Cegueira’. Por isso, os rapazes decidiram seguir a mesma estética do filme, ‘em que as imagens incorporam muitos reflexos e espelhos’, explica Pedro, gerando o efeito de tornar indefinida a localização espacial dos personagens.
No quinto ano da faculdade, Pedro filma neste mês o curta de conclusão de curso ‘Mais Uma Noite’, que ‘trata a balada de forma crítica’, diz ele, e pretende discutir convenções como a dos ‘papéis que se esperam de um homem e de uma mulher na noite’.
Com a assinatura de diretor se avizinhando do currículo, Pedro sente nos ombros a pressão da expectativa alheia. ‘Para o meu curta, tive muito apoio da O2. Sei que a cobrança vai ser grande. Meu curta não pode ficar uma merda.’ Paulo Morelli trata a situação com humor: ‘Não pode ficar ruim mesmo, senão apanha em casa.’
Quico não dá bola para o que possam dizer de seu ‘DNA’ de diretor. ‘Convenhamos, gente ruim não chega lá. Podem falar o que quiserem. Quando o cara é bom, é bom. Se eu não for bom nisso, vou fazer matemática ou história.’’
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