Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Catia Seabra

Belluzzo: Tenho medo de unanimidades que vemos na mídia

‘ ‘UM QUARTO CALABRÊS, um quarto veneto e 50% ‘quatrocentão’, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo pretende imprimir à TV pública brasileira o que já parece experimentar: a pluralidade. Hoje filiado ao PPS, Belluzzo é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador José Serra. A convite de Lula, deverá assumir a presidência do conselho curador da nova TV pública. Belluzzo, 65, terá entre suas tarefas a de mitigar a tensão entre a imprensa e o governo federal.

Segundo Belluzzo, Lula está ‘assustado’ com esse acirramento. ‘Ele acha que tem que criar um espaço público que distensione isso. Ele é muito conciliador.’ Ex-secretário dos governos Sarney e Quércia (SP), Belluzzo alerta para os riscos da ‘demonização’: ‘A mídia é isso, a mídia é aquilo. Esse tipo de reação, eu não gosto. Tenho medo. Assim como tenho medo de certas unanimidades que vemos na mídia’, criticou.

FOLHA – Por que não aceitou ser presidente executivo da TV pública?

LUIZ GONZAGA BELLUZZO – Não quero mais aceitar um cargo público que receba uma remuneração do governo. Disse a eles que aceitava ser presidente do conselho, se eleito, que me comprometia com o projeto, desde que não remunerado.

FOLHA – Por quê?

BELLUZZO – Cabe aos profissionais do setor. O papel do conselho é traçar as diretrizes e fiscalizar a execução do projeto de se criar uma TV não estatal, apartidária, plural e, desculpe ser um pouco pedante, mas que sobretudo permita que pouco a pouco o cidadão seja capaz de compreender o mundo onde vive. Precisamos de muita modéstia na formulação. E, paradoxalmente, ambição para não permitir que seja transformado num instrumento de poder como invariavelmente tendem a se transformar as televisões, ou as televisões estatais que não respeitam esses princípios.

FOLHA – Como evitar?

BELLUZZO – Primeiro, o conselho tem que ser muito amplo, plural. Nenhum ponto de vista pode ser excluído. Uma TV pública tem que dar abrigo a todos os pontos de vista.

FOLHA – A que atribui o convite?

BELLUZZO – Estranho que tenha sido a um economista. Acho que foi por conta dessa minha percepção de que é preciso que se dê curso ao debate mesmo que as idéias contrárias não sejam do seu agrado. Pode parecer simplório. Mas não é fácil.

FOLHA – Como o sr. enxerga a decisão do PT de ‘acompanhar’ as renovações de concessões de TVs?

BELLUZZO – Isso é um problema do PT. O PT tem todo direito de pensar como ele pensa. Só que a TV pública não pode se submeter a esse tipo de coisa. Não se pode politizar uma TV pública.

FOLHA – O sr. considera isso um ‘problema’ do PT?

BELLUZZO – Não. Há muitos grupos dos EUA que se preocupam com isso. No livro ‘The Assault of Reason’ (O ataque à razão), o Al Gore, que não é um perigoso esquerdista, faz uma análise de como o poder da mídia causou problemas sérios na decisão do povo americano de apoiar ou não a guerra no Iraque. A mídia insistiu na questão das armas de destruição em massa. Se há movimentos unânimes, não é bom para a democracia.

FOLHA – No Brasil, há esse risco?

BELLUZZO – Às vezes, há certas ondas de unanimidade que não são boas. Por exemplo, no julgamento do Supremo. Como sou amigo de muitos juízes, eles disseram que era difícil suportar aquilo. Quando perguntaram a Hannah Arendt por que estava interessada em compreender o nazismo, ela disse: ‘Se eu não compreender o nazismo vou enlouquecer’. É preciso que se insista nisso. Vejo a TV pública como a antítese da idéia de doutrinação. A idéia de doutrinação é abominável.

FOLHA – O sr. acha a postura do PT e da ‘grande mídia’ doutrinária?

BELLUZZO – Muitas vezes é doutrinária no mau sentido da palavra, porque não permite que vire as vísceras. Muitas vezes é uma coisa propagandista de ambos os lados. É propaganda. Não é informação, nem debate.

FOLHA – O PT diz que o julgamento no STF era desnecessário, pois o governo foi aprovado nas urnas.

BELLUZZO – Aprendi com Ulysses Guimarães que é preciso deixar as instituições funcionarem. A idéia de que os acusados de mensalão não poderiam ser julgados é, para mim, completamente estranha. Era preciso que fossem julgados por um tribunal independente. O relatório foi feito com a maior seriedade, a despeito do clima muito emocionalizado [no STF].

FOLHA – E a imprensa?

BELLUZZO – Simplificou. Ficou uma coisa de bandidos contra mocinhos. O mundo não é assim. Vejo alguns colunistas que têm certezas tão graníticas. Fico muito surpreendido porque não tenho essa certeza.

FOLHA – E a reação ao ‘Cansei’?

BELLUZZO – Vi muita gente ofendida com razão. Por que não podem dar a opinião? Posso ter desprezo intelectual pelo o que estão dizendo, mas eles têm todo direito de dizer o que acham.

FOLHA – Na sua opinião, qual seria o tratamento ideal da mídia no caso do mensalão?

BELLUZZO – Seria a evolução do caso. O que não posso é me colocar na posição de juiz. Existe uma instituição encarregada de julgar. Ficamos espantados que esteja funcionando no país. O Brasil é o país onde os de cima nunca eram afetados pela polícia, pela Justiça. É um choque do avanço da democracia. Um choque, às vezes, é dolorido e exaspera reações antidemocráticas. As instituições, de certa forma, estão funcionando. Inclusive a imprensa está se comportando de uma maneira em que é obrigada a se submeter à crítica. Tem um autor francês Paul Virilio que diz a mídia é a única instituição que cria suas próprias leis.

FOLHA – O sr. concorda?

BELLUZZO – Um pouco. Não tem coisa mais sagrada que a liberdade de expressão. Ela não pode ser monopolizada por ninguém. Você não pode se colocar na posição de que é inatacável.

FOLHA – O sr. acha que a reação da mídia é ao choque democrático?

BELLUZZO – Esse terremoto democrático, que se acentuou com a chegada do operário ao poder, suscitou uma reação de ambos os lados. O que não se pode permitir é que isso provoque transgressão à liberdade de opinião recíproca. O que eu temo é isso. ‘A mídia é isso’, ‘a mídia é aquilo’, é uma coisa acrítica. Esse tipo de reação, eu não gosto. Tenho medo. Assim como tenho medo de certas unanimidades que vemos em certos momentos na mídia.

FOLHA – Essa relação, sob tensão, é perigosa?

BELLUZZO – Não é boa para o país. Pode ser conflituosa, mas não desrespeitar regras da sociedade democrática.

FOLHA – Lula está preocupado?

BELLUZZO – Ele acha que tem que criar um espaço público que distensione isso. Ele é muito conciliador, o Lula. Ele fica muito assustado.

FOLHA – O sr. concorda que a imprensa seja tratada como um bloco?

BELLUZZO – É simplista. Há matizes. Criou-se um embate que não é bom para o Brasil. O governo tornar a mídia num bloco monolítico. E a mídia diz ‘o governo quer censurar’.

FOLHA – O que o sr. acha dessa postura mais agressiva?

BELLUZZO – Se você acua um gato num quarto escuro, dizem, não tem uma forma de expressão. Em ‘Origens do Totalitarismo’, quando você lê os relatos que a Hannah Arendt faz do fascismo, é claramente de um povo que se sentia acuado, economicamente, social e politicamente. O totalitarismo não permite que o indivíduo se exprima. Gera a violência. Isso é muito perigoso. Fico assustado quando vejo esse tipo de reação. A reação correta é construir um ambiente de diversidade. Não é um demônio adversário, em cima do qual você joga toda responsabilidade.

FOLHA – A demonização vem dos dois lados?

BELLUZZO – Bastante. É o ápice da irracionalidade. O PT demoniza a imprensa e a resposta não tem sido adequada.

FOLHA – O sr. assusta quando fala do animal acuado como semente do fascismo…

BELLUZZO – Uma sociedade em que os processos de sociabilidade se destruíram completamente. Não há mais referências a não ser o füher. O populismo latino americano é uma pálida idéia do que foi aquilo. Vocês dizem que o Lula é populista. Ele é uma figura popular. É muito democrático. Não acho que tenhamos as condições históricas do fascismo. O que digo é que a sociedade está sempre ameaçada pelo risco de salvacionismo, que, volta e meia, volta. Se você forma um consenso que não é passível de ser contraditado, corre um risco enorme.

FOLHA – A democracia brasileira está sob ameaça?

BELLUZZO – Acho que está permanentemente ameaçada pelos poderes privados e pela idéia de que você pode ter um salvador da pátria e que o Estado pode, na verdade, controlar a vida dos cidadãos. O processo democrático envolve, necessariamente, o risco de você perder. Necessariamente perder o controle e caminhar na direção, por exemplo, de situações de monopólio de informação. Um dia li uma entrevista na Folha, do Ruy Fausto, com a qual concordo quase inteiramente em que ele diz que às vezes a esquerda não se deu conta de que o socialismo real fracassou completamente. Ele diz que a esquerda não conseguiu se reabilitar. De vez em quando você tem frêmitos controlistas. Não vai dar certo. Os pais da idéia pensaram na democracia radicalizada. É autonomia dos indivíduos produtores. É claro que é uma coisa do século 19. A sociedade ficou muito mais complexa. Mas as idéias de autonomia do indivíduo são as que deveriam guiar a nossa luta política. Isso está permanentemente em risco.

FOLHA – O sr. é um conselheiro do Lula e apoiou o Serra em 2002. Gostaria de entender essa relação.

BELLUZZO – Conheço o Lula desde os anos 70, quando começou ser um líder sindical. Tenho uma relação afetiva com ele. Gosto muito dele. Não obstante, por que apoiei o Serra? Não porque sou amigo do Serra, mas porque achei que fosse capaz de exercer uma política econômica melhor. Exerci meu direito de divergir. Era uma disputa entre duas pessoas que acho importantes para o Brasil.

FOLHA – Como evitar a influência do governo na TV Pública?

BELLUZZO – O recado que recebi do presidente foi que levasse com a maior autonomia possível.

folha – Deve haver um fundo?

BELLUZZO – O financiamento é fundamental. Uma TV pública, dada a missão que tem que cumprir, tem que ter regularidade na fluência dos recursos. Senão a qualidade do serviço cai. Sem falar na autonomia.

FOLHA – E a publicidade?

BELLUZZO – A TV pública não pode disputar publicidade. Se for presidente do conselho, não vou admitir.’

MÍDIA & RELIGIÃO
Italo Nogueira

Universal distribui carnê para ampliar rede de rádios

‘A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) distribuiu anteontem, durante ‘a maior sessão de descarrego do mundo’, segundo a organização, carnês bancários para que seus fiéis contribuam na ampliação da rede de rádio da igreja no país. O valor mínimo proposto a ser pago mensalmente é de R$ 20.

O evento, na praia de Botafogo, zona sul do Rio, contou com a presença de 650 mil pessoas, disse a PM. O carnê -com 12 boletos, além da capa e contracapa- traz uma explicação aos fiéis sobre a importância do papel do rádio na evangelização.

‘A mídia é um canal valioso que a Iurd tem usado na propagação da Palavra de Deus, e o rádio é a principal ferramenta capaz de alcançar aqueles que moram nas mais distantes regiões’, diz o texto na contra-capa do ‘carnê dos Auxiliares’.

A Iurd já controla uma rede nacional de rádios em FM, a Rede Aleluia, além de várias emissoras locais, em AM e FM.

A recompensa pela colaboração seria a inclusão do nome do contribuinte à ‘lista dos auxiliares do bispo Edir Macedo’. ‘Logo após você pagar, e entregar o comprovante na igreja, seu nome chega aos nossos computadores. Aí estaremos orando por você toda a madrugada. (…) Então tem de ser feito mensalmente’, disse Macedo.

O valor proposto é de R$ 20. Macedo, fundador da igreja, pediu valores maiores. ‘Quem puder doar R$ 50 doe R$ 50, R$ 100.’ Antes, havia ocorrido a contribuição de dízimo.

Macedo, que foi preso em 1992, sob acusação de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, começou a erguer o império de comunicação da Universal no final dos anos 80, quando comprou as três emissoras de TV da Record de São Paulo. O grande salto de expansão neste setor se deu nos anos 90. Até 94, a Record tinha seis geradoras próprias de TV. Em 95, foram acrescidas mais oito. Ainda nos anos 90, a Universal investiu em duas novas redes de TV -Rede Mulher e Rede Família. Neste ano, foram compradas a TV e rádios Guaíba.’

TELECOMUNICAÇÕES
Elvira Lobato

Sócios tentam reduzir estrangeiros na Telemar

‘O bloco de acionistas controladores da Telemar (Oi) tenta, numa das maiores operações já realizadas no mercado de capitais, aumentar sua fatia no capital total da empresa, recomprando ações que estão em mãos de investidores estrangeiros. Calcula-se que os estrangeiros tenham pelo menos 45% do capital total da companhia, em ações sem direito a voto, enquanto o bloco controlador tem 17,48% do capital total.

A gestão da Telemar está nas mãos de três sócios privados -GP Investimentos, La Fonte e Andrade Gutierrez, que somam perto de 6% do capital total- e pelo BNDES, que tem 4,6% do capital total. Três sócios do bloco de controle foram afastados da gestão pela Anatel, por serem também acionistas da Brasil Telecom.

A recompra das ações pode custar R$ 12,7 bilhões, e será financiada por um pool de bancos do qual fazem parte ABN, Citibank, JP Morgan, Banco do Brasil e UBS. A crise de liquidez do mercado financeiro internacional, gerada pelo risco de perdas no mercado imobiliário dos EUA, estourou no meio da negociação dos acionistas com os bancos, o que levou ao adiamento do leilão de recompra por duas vezes. A nova data prevista é 25 de setembro, mas empresários e bancos ainda não chegaram a acordo sobre as condições do empréstimo.

O leilão só acontecerá com garantia de compra de pelo menos dois terços das ações preferenciais da Tele Norte Participações (holding da cadeia societária do grupo Telemar, que controla a tele) existentes no mercado. Nessa hipótese, a operação custaria R$ 9,5 bilhões. Os R$ 12,7 bilhões referem-se à recompra de 100% das preferenciais, pelo valor proposto de R$ 45 por ação.

Fusão

A recompra das ações seria o primeiro passo para a comentada fusão com a Brasil Telecom. Na seqüência, se o leilão for bem-sucedido, a Telemar Participações faria uma emissão de ações na Bolsa e o controle acionário da companhia seria pulverizado, o que, na avaliação dos acionistas, favoreceria a fusão.

Na BrT, também há uma movimentação entre os acionistas controladores. O Citigroup e os fundos de pensão estatais (liderados pela Previ, do Banco do Brasil) pediram autorização da Anatel para comprar a participação acionária da Telecom Itália no capital da companhia, por US$ 515 milhões. A aquisição será feita pela holding Techold, da cadeia societária da BrT, e não apenas pelos fundos de pensão, como havia sido anunciado em julho.

A retirada da Telecom Italia, na visão de um acionista da Telemar, seria precondição para a fusão entre as duas teles. O grupo espanhol Telefónica tornou-se importante acionista da Telecom Italia na Europa, em abril. Como a Telefónica concorre com a BrT e a Telemar no Brasil, a presunção é a de que o grupo espanhol tentaria impedir a fusão de suas concorrentes.

Estrangeiros

Em entrevista publicada pela Folha, em agosto, o empresário Carlos Jereissati, presidente do conselho de administração da Telemar Participações, admitiu que há fragilidade no controle acionário tanto da Telemar quanto da BrT, porque os controladores têm pequena participação no capital total.

No final do ano passado, os controladores da Telemar foram impedidos pelos investidores estrangeiros de fazerem uma reestruturação societária na companhia. A operação envolvia troca de ações preferencias por ordinárias. Essa é uma das raras situações que dependem de aprovação dos preferencialistas em assembléia, e eles rejeitaram a oferta dos controladores.

A Tele Norte Leste Participações, que controla as operadoras de telefonia fixa, telefonia celular e de internet do grupo, tem 1,2 milhão de acionistas preferencialistas. Eles não têm direito a voto, não são identificados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nem pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Do total de preferenciais, (incluindo as ADRs, negociadas na Bolsa de Nova York), 89% pertencem a 160 investidores, e 40% estão concentrados nas mãos de sete.

Os maiores são os fundos de investimento norte-americanos Brandes e Templeton -o primeiro com 15% do capital sem direito a voto da Tele Norte Leste e o segundo com 11,78%- e o britânico Genesys, com 5,6%.

A holding Telemar Participações -pertencente aos grupos La Fonte, Andrade Gutierrez, GP Investimento, Alutrens (seguradoras privadas e BB), Lexpart (Citi, Opportunity e fundos de pensão), Fiago (fundos de pensão) e BNDES- controla a concessionária com 52,45% das ações com direito a voto da Tele Norte Leste. Como o capital total das companhias é composto por um terço de ações com direito a voto e dois terços de preferenciais, a fatia dos controladores no capital total representa 17,48%.

A legislação limita a atuação de um mesmo acionista em empresas de telefonia fixa e celular. A Telecom Italia também foi afastada da gestão da Brasil Telecom por ser dona da TIM, e suas ações na BrT, objetos da negociação com o Citi e com os fundos, estão sob a guarda de um banco.

Telemar, Brasil Telecom, Telefônica e Embratel foram privatizadas pela União em julho de 1998. Na ocasião, a União já não possuía ações preferenciais. A grande pulverização do capital das teles é fruto da política de financiamento dos planos de expansão do passado, em que o assinante pagava antecipadamente para implantação da rede e recebia ações ordinárias e preferenciais. Em 1992, ainda no período estatal, a Telebrás foi registrada na Bolsa de Nova York.

Depois da privatização, o grupo Telefônica ofereceu aos acionistas minoritários trocar suas ações da Telesp por títulos da Telefónica Internacional. Hoje, a matriz espanhola detém, direta e indiretamente, quase 90% do capital da Telesp. O mesmo processo ocorreu na Embratel: o grupo Telmex recomprou ações dos minoritários e detém quase a totalidade do capital.’

TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo discute queda no Ibope e falta de criatividade artística

‘É grande a expectativa em torno do sétimo ‘Encontro Globo de Criação’, que será realizado durante três dias da semana que vem, em um hotel de Angra dos Reis (RJ), e reunirá toda a cúpula artística da emissora, autores, roteiristas e diretores de programas.

O evento anual tradicionalmente discute novos programas, que são testados como especiais de fim de ano. Desta vez, no entanto, as discussões irão além. O assunto principal será a queda de audiência que a Globo vem sofrendo neste ano. Não chega a ser uma crise, mas já é algo que preocupa a rede líder.

Na média acumulada de 2007, a Globo já perdeu 2,2 pontos no Ibope nacional. Parece pouco, mas é mais do que a audiência diária da Band, a quarta maior rede do país. Equivale ao dobro do crescimento da Record neste ano. Ou seja, a Globo não está necessariamente perdendo público só para a Record, mas, principalmente, para outras mídias (como a TV paga e o DVD) e para o botão ‘off’ do controle remoto -o telespectador que desliga a TV e vai fazer outra coisa.

A Globo registra atualmente audiências insatisfatórias (para o seu padrão) em ‘Malhação’, nas novelas das seis e das sete, na chamada segunda linha de shows (‘Toma Lá, Dá Cá’, ‘Linha Direta’), no ‘Fantástico’, ‘Esporte Espetacular’, programação matinal e futebol.

Todos esses problemas estão na pauta do encontro de criação. E a falta de criatividade também. Dos 57 projetos de novos programas apresentados para discussão em Angra, quase todos são de seriados de humor. E nenhum entusiasmou a cúpula artística.

O que salva a Globo é que -por ‘inércia’, comodismo do mercado ou incompetência da concorrência- ela ainda detém mais de 70% das receitas publicitárias da TV, embora sua audiência seja de ‘apenas’ 43% do país -há sete anos, era de mais de 50%.

O FUTURO DO ‘ESTRELAS’

A atriz Ana Furtado foi escolhida pela Globo para comandar o ‘Estrelas’ durante a licença-maternidade de Angélica, que deve dar à luz um bebê até novembro. Ana começa a gravar já no final deste mês e deverá ficar no ar até março. Será supervisionada pelo pelo próprio marido, J.B. de Oliveira, o Boninho, diretor-geral do programa sobre celebridades. A atriz, que fez ‘Páginas da Vida’ e foi repórter do ‘Vídeo Show’, gravará as reportagens e entrevistas do ‘Estrelas’, mas não substituirá totalmente Angélica. Ana e Angélica aparecerão juntas no início de cada programa, fazendo uma espécie de ‘diário da mamãe’ e apresentando as principais atrações. Assim, a senhora Luciano Huck não sairá do ar. No ‘Video Game’, quadro que apresenta no ‘Video Show’, Angélica passará o bastão (completamente) para Fernanda Lima.

Pergunta indiscreta

FOLHA – Na sua opinião, até quando programas que exploram dramas pessoais alheios terão espaço e audiência na TV?

MÁRCIA GOLDSCHMIDT (apresentadora do ‘Márcia’, da Band) – Enquanto existirem os seres humanos, existirão os dramas e, portanto, a necessidade de catarse, de apoio externo para a solução de conflitos pessoais, seja no consultório ou na TV. Não me vejo explorando, mas mostrando lições de vida.

TRAPÉZIO

Silvio Santos grava nesta semana o piloto da versão de ‘Você É Mais Esperto do que um Aluno de 5ª Série?’, sucesso da Fox (EUA) que consiste em mostrar adultos errando respostas de perguntas que compõem material do ensino fundamental.

DAMA

Laura Cardoso será a estrela de ‘Hoje Eu me Chamo Dinorá’, adaptação para o teatro de texto de Janete Clair feita por Maria Carmem Barbosa. A peça, que estréia dia 20 no teatro Imprensa (SP), abre as homenagens dos 25 anos da morte da maior novelista do país.

O BOFE DO ANO

Intérprete do vilão Olavo de ‘Paraíso Tropical’, Wagner Moura foi homenageado pela equipe da novela na última quarta. O diretor Dennis Carvalho mobilizou atores e técnicos para receberem Moura, na porta do estúdio, com uma salva de palmas. O ator é muito querido pela produção. Foi o primeiro a ganhar o ‘troféu bofe do mês’ -depois, vieram Fábio Assunção e Bruno Gagliasso.’

Luiz Fernando Vianna

De cafetão a literato

‘Ele é uma das caras mais representativas do atual cinema brasileiro. Mas precisou de 48 anos de vida e 30 de carreira para fazer na TV um personagem de grande popularidade. O que seria, para muitos, motivo de amargura é, para Chico Diaz, satisfação garantida.

‘Intuí um caminho artístico que só se confirmou depois. Manter uma linha, uma coerência tem seu preço. Recusei o culto ao personalismo, o ser famoso antes da hora’, avalia.

Com o sucesso em ‘Paraíso Tropical’, parte da conta chegou. Há três semanas, na estréia da peça ‘Um Dia, no Verão’, em que atua sua mulher, Sílvia Buarque, ele pediu aos fotógrafos que o esperassem acomodar sua mãe para então posar. Uma coluna de jornal publicou que ele mostrara seu estilo Jáder, o cafetão da novela. E confirmou que o ator não entende o que chama de ‘ramo das celebridades’.

‘São pirilampos em torno de uma luz inócua, efêmera. Já vêem o final da história, mas não têm história nenhuma’, incomoda-se.

A história de Diaz tem sua trilha mais visível no cinema. No fim deste mês, ele acabará de rodar seu 54º filme, ‘Saens Peña’, de Vinícius Reis (diretor do documentário ‘A Cobra Fumou’). O título é o nome da principal praça da Tijuca, tradicional bairro de classe média da zona norte carioca.

Paulo, personagem de Diaz, é um pacato professor de literatura casado com Teresa (Maria Padilha), dona de uma loja de pães de queijo. Ele é convidado a escrever um livro sobre a história da Tijuca, e seu maior desejo é conhecer o compositor Aldir Blanc, artista mais famoso do bairro.

‘Fico lendo aquilo que o personagem leria para escrever o livro e fico fascinado’, conta ele, que tem outros quatro longas prontos, à espera da estréia.

Cinema ‘espontâneo’

‘Saens Peña’ tem uma produção modesta, o que não é novidade para Diaz. Seu currículo inclui produções alternativas na Amazônia e, principalmente, no Nordeste.

‘O cinema, mas não o oficial, o espontâneo, cuidou de mim, me alimentou. Ele me tirou de Rio e São Paulo e me fez conhecer o país inteiro. Sem ‘Corisco e Dadá’, ‘Baile Perfumado’, ‘Amarelo Manga’, eu não poderia fazer Jáder’, afirma, citando trabalhos nordestinos que ganharam projeção nacional.

A experiência nesses filmes, somada ao tipo físico, fez do ator a encarnação de um ‘homem brasileiro’, como ele enxerga. Seria um homem miscigenado, um tanto bronco e pobre -ou remediado por algum tipo de expediente marginal. Por um lado, o perfil lhe agrada: ‘Há um heroísmo que me interessa, uma fibra que está em todas as regiões. E as histórias desse país, não só a história com ‘h’ maiúsculo, são muito mal contadas. Não foi um caminho procurado racionalmente no início, mas depois eu botei o foco nesses personagens’.

Por outro lado, sua ampla galeria de vilões é algo que preocupa: ‘É a visão que se tem do povo brasileiro: tem cara de pobre, põe perto da violência. Eu me preocupo com o estereótipo, sim, e evito esse tipo de personagem. Mas as conversas sofisticadas e elegantes com o Gilberto [Braga] me convenceram de que eu teria uma interlocução na novela’.

Seu primeiro objetivo, diz, foi evitar uma ‘truculência’ que aproximaria Jáder do feitor Clemente, vilãozão que fez em outra trama de Gilberto Braga, ‘Força de um Desejo’ (1999). Em conseqüência, o segundo foi injetar ‘gaiatice e humor’ no personagem e no ambiente que o cerca -é criação de Diaz a expressão ‘catiguria’, usada por Bebel (Camila Pitanga).

‘O Jáder cria subterfúgios para sobreviver, para se achar um herói. Não vou generalizar para o Brasil, mas ele tem muito do carioca, que se acha dono do pedaço’, diz ele, que nasceu no México, filho de pai paraguaio e mãe paulista, e se radicou no Rio aos 9 anos.

Depois do estouro inicial, quando dominou a novela ao lado de Camila Pitanga e Wagner Moura, Diaz está agora no lado baixo do que classifica de ‘flutuação de personagens’. Como o epicentro da novela é a pergunta ‘quem matou Taís?’, e Jáder ainda não está entre os suspeitos, sua participação anda secundária. Mas existe a possibilidade de ele ir para a cadeia na condição de herói, assumindo a culpa por um assassinato cometido pela filha, Joana (Fernanda Machado).

‘Eu não imaginava que um personagem como esse seria querido como está sendo. Acho que o país mudou. É um bom sinal’, diz ele, reduzindo um pouco do ceticismo de seu ‘homem brasileiro’.’

***

Diaz trocou arquitetura e ativismo político por teatro

‘A postura anticelebridade de Chico Diaz é parte de um discurso firme, de quem acredita que um artista deve olhar ‘além da própria carreira’.

Se a genética fosse fatalista, o discurso seria mais explicitamente político. O pai do ator é um agrônomo socialista, que morou em vários países trabalhando para a OEA (Organização dos Estados Americanos). ‘Meu pai é um utópico ferrenho’, diz.

O irmão mais velho, João, foi militante do movimento estudantil e precisou se esconder durante a ditadura militar. Chico Diaz, o segundo na fileira de seis irmãos, não teve vocação para seguir o mesmo caminho. ‘Eu ia no diretório acadêmico, via aquelas assembléias, votações, não agüentava. Passava um grupo cantando e dançando, eu ia atrás’, lembra.

Foi assim nos colégios de classe média alta Souza Leão e Santo Inácio. Eram os anos 70, e ser ator ainda não era o horizonte mais sonhado pelas famílias de boa renda. Diaz foi fazer arquitetura, formou-se, estagiou dois anos no escritório de Hélio Pellegrino, atuou em projetos pré-computador, desenhando a nanquim, mas o teatro o seduziu. Embarcou na trupe Manhas e Manias e não parou mais. Ainda influenciou os irmãos Verônica e Enrique, caçula que se tornou um talentoso ator e diretor teatral.

‘Eu o ajudei com meu risco, pois o caminho já estava preparado quando ele chegou. Mas a qualidade do trabalho dele contribuiu para que o meu fosse reconhecido. Eu me sinto protegido por ele’, afirma Diaz.’

Thiago Ney

Fenômeno ‘High School’ se expande

‘Eles vão às aulas todos os dias, estudam direitinho, praticam esportes e ainda arrumam tempo para participar de um musical na escola. No mundo desses adolescentes, o romance é apenas sugerido, nunca escancarado. Não há violência, não se ouvem palavrões. Parece careta demais? Bem, as crianças adoram, os pais dessas crianças aprovam e a Disney dança em cima dos números.

A companhia norte-americana que criou o Mickey Mouse em 1928 comemora seu grande sucesso recente: a franquia ‘High School Musical’. Franquia porque ‘HSM’ estreou como filme de televisão que deu origem a trilha sonora, espetáculo musical, livros, karaokê…

O primeiro telefilme ‘HSM’ estreou no Disney Channel dos EUA em janeiro de 2006. Foi visto por 7,7 milhões de espectadores (no Brasil, foi exibido pelo Disney Channel e pela Globo).

Já ‘HSM 2’ estreou nos EUA em 17 de agosto passado. Foi visto por 17,2 milhões, o filme de maior audiência da história da TV paga norte-americana. No Brasil, chega em 7 de outubro, pelo Disney Channel.

Os números impressionam? Pois tem mais. A trilha sonora do primeiro ‘HSM’ foi o disco mais vendido de 2006 -alcançou 5,8 milhões de cópias (no Brasil, foram 120 mil).

A trilha sonora do ‘HSM 2’ segue o mesmo caminho. Foi lançada em CD há três semanas nos EUA. Estreou no topo da parada da Billboard e ainda está estacionada ali -já vendeu quase 1,2 milhão de cópias.

A Disney trata a franquia ‘HSM’ como um ‘fenômeno’, segundo Diego Lerner, presidente da Walt Disney Company para a América Latina.

‘Seria arrogância afirmar que sabíamos que viraria um sucesso’, disse Lerner à Folha, por telefone. ‘Hoje, podemos considerar um fenômeno. E com fenômenos não estamos interessados em analisar os porquês. Quando se tem um fenômeno, senta-se nele e desfruta-se o resultado. Depois, passa-se a trabalhar na expansão desse fenômeno.’

‘Antes e depois’

A expansão da franquia segue incessante. Além dos discos, a história de Troy Bolton (interpretado por Zac Efron) e Gabriella Montez (Vanessa Anne Hudgens) -ele, jogador de basquete na escola; ela, estudante CDF- foi cantada em musical no estádio do Morumbi, para 40 mil pessoas, em maio.

A versão cinematográfica de ‘HSM’ está em preparação. Uma série de livros sobre os personagens vendeu mais de 4 milhões de exemplares apenas nos Estados Unidos.

Essa expansão não corre o risco de se tornar opressora demais? De o povo enjoar?

‘Você enjoa das modas. Um produto clássico não é como um produto que é apenas uma moda. A moda tem seu minuto de esplendor, mas logo acaba. ‘HSM’ mostrou não ser assim. É um fenômeno que estourou no mundo todo’, diz. ‘Temos um antes e um depois [de ‘HSM’]. Não estou sendo arrogante, mas o produto não se comporta como uma moda.’

O sucesso de ‘HSM’ refletiu em todo o mecanismo de produção da Disney. Segundo Lerner, novos programas criados pela companhia têm de servir como alavanca para negócios adicionais, como merchandising, DVDs e outros conteúdos. Isso ocorre com outras atrações do canal, como ‘Hanna Montana’ e ‘Cheetah Girls’.

‘É importante para a Disney adicionar ao conteúdo original [do programa] elementos que potencializem essa franquia.’

A criatividade, assim, não acaba mecanizada? Lerner, novamente, discorda. ‘Há um segmento de público que tem uma clara aceitação desse tipo de produto. A linha de produção é clara, e temos equipes competentes trabalhando com isso.’

Sobre a temática politicamente correta de ‘HSM’, Lerner afirma: ‘O programa mostra que dá para ter sucesso sem tocar canções que falem de drogas e de temas polêmicos, sem dar golpes baixos’.’

Lucas Neves

NOVIDADE, ‘HSM’ NO GELO VIRÁ AO BRASIL EM 2008

‘A franquia HSM vai ao gelo. A Disney estréia neste fim de semana, em duas cidades da Flórida, o espetáculo ‘High School Musical: The Ice Tour’. Em cada lugar, 40 patinadores profissionais encenam um pot-pourri dos dois primeiros filmes, com coreografias mais elaboradas e menos diálogos. Um terceiro elenco ensaia atualmente em Santiago (Chile). Esse grupo, segundo o diretor do filme e dos espetáculos, Kenny Ortega, virá ao Brasil em janeiro de 2008.’

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Bom moço, ator de ‘HSM’ é comparado a Tom Cruise

‘‘Quem é esse cara e por que suas crianças o amam?’, pergunta a revista americana ‘Time’ na introdução de um longo perfil de Zac Efron, que interpreta o estudante e jogador de basquete Troy Bolton em ‘HSM’.

Aos 19 anos, rosto de bom moço, criado na Califórnia, Efron estampa páginas de todas as revistas teens e vem sendo comparado a Tom Cruise. Nas filmagens do filme ‘Hairspray’, adolescentes montaram acampamento na porta de seu hotel.

Outros atores de ‘HSM’, como Vanessa Anne Hudgens (que estaria namorando Efron), Ashley Tisdale e Corbin Bleu investem na carreira musical. Efron não teria voz para tanto; assim, foca no cinema.

Além de ‘Hairspray’, ele negocia papel principal num remake de ‘Footloose’, o clássico trash dos anos 80.

E a Disney já anuncia a produção de ‘High School Musical 3’.’

Cássio Starling Carlos

Nova série da HBO confunde gêneros em história de surfista paranormal

‘JC eram as iniciais de um tipo estranho que se tornou famoso há mais de 2.000 anos como fazedor de milagres e outras façanhas. As letras agora retornam na pele do personagem que dá título a ‘John from Cincinnati’, nova série da HBO que estréia hoje.

A produção foi lançada sob grande expectativa nos EUA em junho. Primeiro, porque era a aposta da HBO para ocupar o lugar deixado por ‘Família Soprano’. Depois, porque traz a assinatura de David Milch, que participou da série ‘Chumbo Grosso’, pioneira da renovação do formato nos anos 80, e que tem no currículo grandes produções, como ‘Nova York Contra o Crime’ e ‘Deadwood’.

Mas a combinação de elementos estranhos testada por Milch não emplacou, e a série já foi cancelada pela HBO.

‘John from Cincinnati’ narra a aparição de John Monad (referência à mônada do filósofo Leibniz) nas areias da californiana Imperial Beach. John é um idiota que se aproxima das três gerações de surfistas (Mitch, Butch e Shaun) de uma família disfuncional. Sua chegada provoca fenômenos paranormais e milagres.

A trama inclui também um marqueteiro mau-caráter, um policial aposentado, um gay neurótico e uma dupla cômica de traficantes havaianos.

A implosão de gêneros vem funcionando, desde ‘Twin Peaks’, como motor de renovação das séries americanas. Mas em ‘John from Cincinnati’, a indefinição de códigos mais atrapalha do que ajuda.

É difícil saber se a série é um drama familiar, um retrato realista da vida de surfistas ou uma farsa que mistura realismo mágico e denúncia social.

A série apenas confirma a política de riscos da HBO, que não por acaso levou as séries de TV ao patamar de hoje.

JOHN FROM CINCINNATI

Quando: hoje, às 23h

Onde: HBO’

Bia Abramo

O caráter traiçoeiro das dublagens

‘DUAS NOTÍCIAS recentes chamam a atenção para certa ta imprevisibilidade do gosto do público, no qual esta coluna costuma insistir e para o qual a sensibilidade dos executivos da TV parece estar embotada.

Na semana passada, a coluna de Daniel Castro revelou que os primeiros números divulgados pelo Ibope indicam que a decisão de exibir séries dubladas pode ter sido equivocada para a Fox. Como o instituto não divulga audiência da TV paga, trata-se do alcance, ou seja, do número de televisores ligados pelo menos um minuto naquele canal: em julho, mês em que a Fox passou a exibir todas as suas séries dubladas, o alcance diário do canal caiu 10% em relação ao mês anterior.

No caso da versão brasileira de ‘Desperate Housewives’, da Rede TV!, a coisa é ainda mais dramática: em três semanas de exibição, a audiência caiu 40%. Saiu de um patamar de cinco pontos, considerado razoável dada a emissora e o horário, e caiu para três.

A opção da Fox pela dublagem parece ser uma simples tentativa de atingir uma audiência maior, que seria, nessa concepção, menos afeita a ler legendas. Legítimo, claro, mas talvez pouco perspicaz em relação ao que constitui um dos maiores apelos das séries. As séries são atraentes pelas tramas e pelos personagens, claro, mas quem gosta de séries também quer estar o mais próximo possível daquele universo ali delineado -e isso inclui a língua.

A rejeição à dublagem não se deve apenas às perdas eventuais da graça de certas expressões (que fatalmente ocorrem), por melhor que ela seja feita. O problema é que ela se interpõe, lembrando constantemente ao espectador que ele está excluído daquele universo, daquele modo de vida, daquilo que as séries sugerem como modelos de consumo e atitude.

Na língua original, mesmo com as legendas, fica mais fácil para o espectador se sentir parte de uma espécie de uma certa comunidade global imaginária, sintonizada nas mesmas questões e em maneiras semelhantes de expressá-las.

Se a proximidade do espectador com a série fica, digamos, relativamente comprometida com a dublagem, o que dizer de uma versão que faz uma espécie de dublagem de corpos e objetos de cena, como em ‘Donas de Casa Desesperadas’? A produção argentino-brasileira seguiu todas as instruções ao pé da letra, mas isso não conseguiu transformá-la exatamente numa série.

Nos dois casos, parece que as apostas em direção a uma certa facilitação -dublagem, versão com atores brasileiros- não têm relação direta com um maior apelo de público.’

MEMÓRIA / LUCIANO PAVAROTTI
Folha de S. Paulo

Fãs, celebridades e políticos dão adeus a Luciano Pavarotti

‘O tenor Luciano Pavarotti, um dos cantores de ópera mais populares do mundo, foi enterrado ontem à tarde na Itália. Ele morreu na última quinta em Modena, onde nasceu. Tinha 71 anos e sofria de câncer no pâncreas.

Entre 40 mil e 50 mil pessoas acompanharam o funeral, segundo estimativas oficiais, por meio de telões instalados na Piazza Grande, em frente à catedral da cidade, onde o corpo foi velado. Desde quinta, 100 mil passaram pelo local.

O caixão deixou a catedral às 14h30 locais (11h30 em Brasília) e seguiu para o cemitério de Montale Rangone, onde foi enterrado em cerimônia privada. Na saída da catedral, dez aviões coloriram o céu com fumaça nas cores da bandeira da Itália.

Antes, foi realizada uma cerimônia fechada, para cerca de 800 pessoas, na catedral. A cerimônia começou com ‘Ave Maria’, de Verdi. A missa foi comandada pelo arcebispo de Modena, Benito Cocchi. Políticos e celebridades mundiais acompanharam a cerimônia.

O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, disse que Pavarotti ‘foi um mensageiro da paz’. O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan também foi dar adeus a Pavarotti, que fez concertos em prol de campanhas humanitárias.

O cantor Bono, da banda U2, com quem Pavarotti dividiu concertos, liderava o time de celebridades, ao lado dos tenores Plácido Domingo e José Carreras, de Andrea Bocelli, que cantou, e do cineasta Franco Zeffirelli. Um dos pontos altos do funeral ocorreu quando Pavarotti foi aplaudido ao som de ‘Panis Angelicus’, que o tenor gravou com seu pai, em 1978, na mesma catedral.

O papa Bento 16, em telegrama, expressou seu pesar. Disse que o tenor foi ‘um grande artista, que, com seu extraordinário talento interpretativo, hon- rou o dom divino da música’.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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