É flagrante a intensa e rápida mobilização da Central Globo de Jornalismo para defender os interesses do Rio de Janeiro na questão dos royalties do petróleo, em detrimento dos interesses legítimos dos demais estados.
Apesar da esmagadora aprovação da proposta verdadeiramente republicana do Deputado Ibsen Pinheiro pela Câmara dos Deputados, nos telejornais da Globo o espaço concedido às opiniões contrárias é sempre bem maior que o das opinião favoráveis.
Em todas as oportunidades, em todos os telejornais, do repórter ao comentarista político, todos os jornalistas ‘carioquíssimos’ da Rede Globo se esforçam para impor sua visão bairrista e convencer a opinião pública brasileira de que certas unidades da federação (entre essas, por coincidência, aquela na qual está sediada a Rede Globo de Televisão) merecem uma maior fatia da riqueza do país.
Opiniões contrárias
Alguns jornalistas e comentaristas da Globo até mesmo se transformaram em doutores em direito constitucional, afirmando com toda convicção a inconstitucionalidade da nova proposta de distribuição dos royalties do petróleo (deveriam ser todos promovidos a ministros do STF).
Ouvindo opiniões dos jornalistas e comentaristas da Rede Globo, todos devidamente orquestrados na defesa dos interesses do estado do Rio de Janeiro, tenho a clara sensação de que alguns ainda acham que o Brasil está limitado às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. É impressionante como jornalistas e comentaristas tão experientes e renomados ficam tão subitamente cegos quando se trata de defender os interesses locais da cidade ou do estado do Rio.
Somente aos governadores do Rio e do Espírito Santo foi concedido espaço para manifestar suas opiniões. Para cada manifestação favorável eventualmente exibida na Globo, eram apresentadas, logo em seguida, outras três ou quatro contrárias.
Isso é jornalismo com ‘isenção e credibilidade’?
Afinal, o que somos nós cearenses, pernambucanos, baianos, amazonenses, gaúchos, paranaenses, mineiros?
Bem finito
Somos cidadãos de uma República Federativa, na qual há uma imprensa livre e isenta? Ou ainda somos súditos de um Império sediado às margens da Baía da Guanabara, defendido com intransigência pelos cronistas da Corte?
Onde vivemos nós paraenses, catarinenses, goianos, tocantinienses, acreanos, potiguares, sergipanos, alagoanos, maranhenses? Vivemos em estados federativos autônomos e iguais perante uma União? Ou ainda vivemos em territórios subordinados à Corte fluminense, que detém privilégios na apropriação das riquezas do Império?
O que queremos nós mato-grossenses, piauienses, capixabas, paulistas, rondonienses, amapaenses, roraimenses?
Ver as riquezas nacionais serem partilhadas de forma justa e empregadas em projetos estratégicos da nação, em prol do desenvolvimento de todos estados? Ou continuar assistindo a riqueza do petróleo, um bem finito, ser usada para custear as despesas correntes de alguns poucos municípios e estados?
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Engenheiro civil, Brasília, DF