Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo italiano criticado por ceder ao Talibã

As negociações entre a Itália e o Afeganistão para a libertação do jornalista italiano Daniele Mastrogiacomo foram criticadas pelos EUA, Reino Unido e Holanda, noticiam a AFP [22/3/07] e Declan Walsh [The Guardian, 22/3/07]. Os países, que têm tropas no Afeganistão, não aprovaram a decisão de libertar extremistas do Talibã em troca da soltura de Mastrogiacomo no início desta semana.


Os governos dos três países se pronunciaram contra as condições aceitas pelas autoridades italianas. ‘O Reino Unido tem sérias preocupações sobre as implicações de se libertar membros do Talibã em troca de reféns’, afirmou uma porta-voz do Escritório de Relações Exteriores do Reino Unido. ‘Isto manda um sinal errado para os potenciais seqüestradores’.


Em Washington, um funcionário do governo, em condição de anonimato, disse que isto aumenta o risco de seqüestros com tropas afegãs e da Otan. ‘Embora estejamos felizes com a libertação do jornalista italiano, nos preocupamos com as condições que proporcionaram a soltura. É política americana tomar todas as medidas para garantir a volta segura de reféns, mas não devem ser feitas concessões a indivíduos ou grupos de seqüestradores’, explicou.


O ministro do Exterior da Holanda, Maxime Verhagen, em visita a Cabul, disse que os governos não devem ceder à pressão de seqüestradores. ‘Quando criamos uma situação onde se pode comprar a liberdade de membros do Talibã se jornalistas forem seqüestrados, não teremos mais jornalistas no país’, desabafou. ‘O governo holandês não vai apoiar tal situação’.


Momentos difíceis


Mastrogiacomo foi capturado na província de Helmand no dia 4/3, com dois afegãos que o acompanhavam em uma viagem – um tradutor e um motorista. O jornalista revelou que viu o motorista Sayed Agha ser morto por insurgentes talibãs na sua frente. O tradutor Ajmal Naskhbandi ainda estaria em poder dos seqüestradores.


O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, agradeceu à agência humanitária italiana Emergency pelos esforços para obter a libertação do repórter. Já o ministro da Defesa da Itália, Arturo Parisi, estava furioso pelo modo como tudo foi negociado, conforme informou o Corriere della Sera. ‘Deixar as negociações serem feitas por Gino Strada [fundador da Emergency] foi um grande erro’, teria dito ele. ‘O preço político que pagamos pode ser alto no futuro’. A Itália tem quase 2.000 soldados em missão no Afeganistão.


Incentivo para seqüestradores


Mullah Dadullah, um dos principais líderes do Talibã, prometeu, após a soltura de seu irmão e de outros quatro militantes em troca da libertação de Mastrogiacomo, que mais jornalistas estrangeiros seriam seqüestrados no país. ‘Ele afirmou que estava tão feliz que descansaria e deixaria seu irmão assumir a liderança por um tempo’, disse Rahimullah Yusufzai, repórter do diário paquistanês Peshawar que entrevistou Dadullah por telefone.