A imprensa, afinal, resolveu preocupar-se com o estado de saúde do bispo dom Luiz Flávio Cappio, em greve de fome há 23 dias. Mas até o décimo dia, a autoflagelação que se impôs o religioso não mereceu muita atenção da nossa imprensa. Agora, vai para as primeiras páginas quando os médicos começam a se preocupar com os efeitos do jejum.
Esta gangorra entre omissão e badalação é uma das mazelas da nossa mídia e revela o quanto ela é dominada pelo espírito de manada. O Mahatma Gandhi (1869-1948), guru da emancipação indiana nos anos 1930 e 40, utilizou inúmeras vezes o recurso da greve de fome para protestar contra o colonialismo inglês, mas raramente chegava ao 21º dia, quando a situação começa a ficar crítica. A repercussão impedia que a mortificação ameaçasse sua vida.
Nossa mídia foi insensível, essa é a verdade. Mesmo discordando das opiniões e opções do bispo de Barra (BA) no tocante às obras de transposição do rio São Francisco, não poderia ignorar os riscos que corria considerando que, nesta sua segunda tentativa, a determinação só poderia aumentar.
Com tanto anúncio e tanto papel para ser preenchido nesta próspera temporada natalina, é uma lástima que o sentimento de solidariedade da nossa imprensa tenha sido tão pífio.
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