Imensas pilhas de dinheiro em caixa das grandes companhias de mídia dos Estados Unidos estimularam uma onda de recompras de ações que geraram um retorno aos acionistas de mais de US$ 14 bilhões neste ano. Lideradas pelos grupos de televisão, incluindo Time Warner, Time Warner Cable e Disney, as companhias de mídia têm feito a terceira maior recompra de ações dos 67 grupos do setor, de acordo com a empresa de pesquisas Birinyi Associates. De modo geral, as companhias dos Estados Unidos fazem a recompra de suas ações em um ritmo mais veloz do que em 2007.
Os programas de recompra de ações dão indícios de que os grupos de mídia têm dinheiro em caixa, mas relutam em investir internamente após anos de dispêndios de capital e desconfiam de um mercado de fusões e aquisições atualmente fraco. “As despesas de capital estão diminuindo e as receitas ainda estão aumentando, por isso as companhias possuem tanto dinheiro”, afirmou Craig Moffett, analista sênior da empresa americana de pesquisas Bernstein Research. “Enquanto a ação está barata, a recompra de papéis é uma estratégia muito atrativa para os acionistas.”
Os programas de recompra estão tornando os grupos de mídia mais atrativos para analistas que procuram ações rentáveis para investidores. Anthony DiClemente, analista do Barclays Capital, disse que a recompra de ações da Viacom influenciou na elevação do preço alvo das ações na sexta-feira. A Viacom, que é dona da MTV e da Paramount Pictures, fez recompras de ações num total de US$ 1,2 bilhão, incluindo US$ 700 milhões gastos no terceiro trimestre. “A Viacom está na melhor situação financeira de sua história e ampliou o seu compromisso de gerar retorno em dinheiro aos acionistas com o aumento recente nos nossos dividendos e com a aceleração do nosso programa de recompra de ações”, afirmou Philippe Dauman, presidente-executivo da Viacom, em entrevista na sexta-feira (12/8).
Acionistas expressarão frustração
A Time Warner Cable, segunda maior operadora de TV por assinatura nos Estados Unidos, fez uma recompra de US$ 1,69 bilhão ao longo desse ano. No segundo trimestre, a companhia recomprou ações no total de US$ 863 milhões, quase o dobro das expectativas de David Joyce, diretor-geral de pesquisas de investimentos em mídia da Miller Tabak. A tendência parece ser de continuidade desse processo, já que grupos de mídia autorizaram um total de US$ 37 bilhões em recompras neste ano, o terceiro maior realizado pelo setor, de acordo com a Birinyi Associates.
A Disney, dona da ESPN e da ABC, assumiu a postura mais agressiva do setor, ao autorizar uma recompra de US $ 16 bilhões, equivalente a 19,3% de suas ações em circulação. No entanto, com índices das ações bem abaixo do que foi registrado na semana passada e com mais incertezas sobre o mercado futuro, os programas de recompra agressiva poderiam ser uma decisão ruim se as ações continuarem com preços deprimidos por um período prolongado de tempo.
“Daqui a um ano, se os mercados tiverem encolhido, os acionistas expressarão frustração pelo fato de as companhias terem usado seu dinheiro para recomprar ações que valem menos do que o registrado há um ano atrás”, disse Moffett.
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[David Gelles é do Financial Times, em Nova York]