Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Guerra de informação

À meia-noite (hora local de São Paulo), a CNN, utilizando filmagens da al-Jazira, afirmava estar entrando em Trípoli. No site que suporta o regime do ditador, aparece o discurso de Muamar Kadafi, datado do dia 21/8 e apresentado com texto escrito em fundo preto. Monótono e impessoal. Não há ninguém falando. Nenhuma cena de estúdio ou externa. Apenas um texto escrito é apresentado ao leitor.

O coronel, outrora nasserista, que governou a Líbia por 42 anos, procura agarrar-se ao poder identificando os rebeldes como agentes da al-Qaida e ameaçando as capitais europeias ao dizer que serão bombardeadas por terroristas da organização, que estão a estabelecer-se, segundo seu próprio “discurso”, no topo de montanhas perto da capital.

No Twitter, direto de Trípoli, Al Fatah69 retuítapara Quoriana, foco de discípulos dos fanáticos de Louis Farrakhan, de dez em dez minutos. Promove artigos do radialista conservador e famoso teórico de todas as conspirações Alex Jones, um ex-candidato derrotado do Partido Republicano do Texas que abriga em seu blog um artigo informando que Obama vai derrubar a Líbia para garantir sua reeleição. Kadafi não vai encontrar a brecha que precisa desesperadamente tentando cooptar opositores desacreditados do governo americano, radicais esquecidos e membros da mídia de baixa credibilidade.

Muita comemoração, mas nada decidido

A BBC e a CNN, por outro lado, erraram e cederam à espetacularização da cena midiática. Apresentaram as comemorações em Bengazi do dia anterior como se fossem a vitória final, na madrugada de 21 para 22 de agosto. Havia gente comemorando e pulando nas ruas. Muito movimento de carros pela cidade, mas nenhum marco edificado (ou resto dele…) que permitisse a identificação positiva da queda do regime de Kadafi. Keith Urban, chefe de pessoal do secretário de Defesa do governo Bush, informou corretamente que “na ‘twitteresfera’, os rumores circulam por horas, mesmo depois de terem sido desmentidos”. De fato, é grande a inconsistência do Twitter. Ele mesmo já havia postado, no meio do dia, que Kadafi havia sido capturado…

Urban acertou na morte de Bin Laden. Foi o primeiro alto funcionário do governo americano a fazer uma confirmação positiva da morte do terrorista. Mas errou feio aqui. Este é o problema do Twitter: a ausência de um compromisso absoluto e obrigatório com a verdade e a impossibilidade de se confirmar qualquer informação postada ali se não for corroborada por outras fontes.

Mais um site apareceu, vindo de AlFatah69, do Twitter. É o blog Pandoras’s Box (“caixa de pandora”, a que liberou os males no mundo), que defende a visão de mundo distorcida de Kadafi. O provedor é líbio. O ditador está desaparecido. A situação ainda está indefinida.

A Noruega prometeu retirar seus seis F-16 gradualmente, informou o Norway News (8/8). Serão substituídos por aviões de ataque ingleses. Apenas oito dos 28 membros da Otan participam da campanha aérea de bombardeio às forças do ditador: Noruega, Inglaterra, França, Canadá, Bélgica, Dinamarca, Itália e Estados Unidos. A campanha aérea favoreceu bastante os opositores do regime.

O dia é 22 de agosto. Explosões foram ouvidas nos subúrbios de Trípoli. Os rebeldes no momento cercam as tropas do regime, estimadas em 65 mil homens. Muita gente foi filmada a comemorar. Mas nada está decidido, ainda. Não por esta noite.

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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]