Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Helena Celestino

‘A decisão do governo brasileiro de cancelar a expulsão de Larry Rohter foi publicada na edição de ontem do ‘New York Times’ com um pouco mais de destaque do que o jornal normalmente vinha dedicando ao caso durante toda a semana. O ‘Times’ noticiou a carta escrita pelos advogados de seu correspondente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentando os embaraços que sua reportagem possa ter causado. Mas, ao reproduzir a nota oficial que o jornal emitiu sexta-feira à noite, omitiu a parte em que declarava que o ‘NYT’ não pedira desculpas ou fizera uma retratação da reportagem sobre os supostos problemas com bebida de Lula.

Esta afirmação, que contraria a versão divulgada pelo Palácio do Planalto na tarde de sexta-feira, também não está no texto da reportagem, assinada por Warren Hoge, um ex-correspondente do jornal no Brasil. Ao reproduzir a opinião do jornal sobre o caso, ele limita-se a dizer que o jornal continua acreditando na precisão e isenção da reportagem de Rohter e que está contente com a decisão do governo de cancelar a revogação do visto de permanência dele no Brasil.

Jornal noticiou os protestos contra a expulsão de Rohter

Na edição de ontem, pela primeira vez, o jornal noticiou todas as idas e vindas do caso: primeiro, o apoio de jornais e opinião pública a Lula no repúdio à reportagem e depois a unanimidade dos protestos contra a decisão de expulsar o jornalista. O ‘Times’ citou também a reação do Departamento de Estado americano dizendo que a atitude do governo brasileiro não estava em sintonia com o comprometimento do país com a liberdade de imprensa e as críticas da imprensa brasileira ao presidente por usar uma legislação da época da ditadura.’

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‘‘A reportagem é isenta’’, copyright O Globo, 13/05/04

‘O ombudsman do ‘New York Times’, Daniel Okrent, considerou inapropriada a decisão do governo brasileiro de expulsar o correspondente do jornal no Brasil, Larry Rohter. Ele contou que recebeu cartas de leitores brasileiros sobre o assunto mas não sabe avaliar se a credibilidade do jornal ficou abalada por causa da reportagem sobre os supostos problemas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com bebida. Fazendo questão de deixar claro que a sua opinião não é necessariamente a mesma da direção do jornal, ele considerou isenta a reportagem de Rohter mas fez críticas ao fato de o repórter não ter explicado melhor as intenções das fontes ao atacar o presidente Lula.

O que o senhor achou da decisão de expulsar o correspondente do ‘New York Times’ do Brasil?

DANIEL OKRENT: Eu acho que é inapropriada do ponto de vista dos padrões americanos, segundo os quais a imprensa é livre mesmo quando não faz o que o governo acha que ela deveria fazer.

Qual é a sua opinião sobre a reportagem de Larry Rohter?

OKRENT: Minha opinião pessoal – e eu quero ressaltar que é a minha opinião e não a do ‘New York Times’ – é de que a reportagem é isenta. Quando digo isenta, refiro-me ao fato de que ela não é baseada em fontes anônimas, o repórter faz citações diretas do que as pessoas falaram, ele cita um número suficiente de pessoas, o que me faz acreditar que o assunto existe. O que para mim não ficou claro é se este existe uma intenção política por trás do que as pessoas disseram do presidente.

Isso é um dos problemas. Ele cita três fontes: um político de oposição semi-aposentado, um ex-assessor de um presidente deposto por corrupção e um colunista de variedades.

OKRENT: Eu acho que, por isso, a reportagem deveria ter contextualizado melhor porque essas pessoas estavam dando essas opiniões sobre o presidente. Eu não tenho essas informações, de que um é de oposição, o outro estava ligado a um presidente corrupto. Isto deveria ter sido mais bem explicado.

O que o senhor achou da edição da reportagem? No jornal, ao lado de um título dizendo que o consumo de álcool do presidente virou uma preocupação nacional, está publicada uma foto de Lula olhando para um copo de cerveja, numa festa popular…

OKRENT: Acho problemático. Acho que isso só deveria ter sido publicado se o editor estivesse absolutamente convencido de que o presidente tem problemas por causa de bebidas. Se não, se não estava absolutamente convencido, se existiam dúvidas a esse respeito, a foto não deveria ter saído, pois poderia levar os leitores a fazer uma interpretação errada – queria ressaltar o talvez, talvez os leitores pudessem fazer uma interpretação errada.

Como foi decidida a publicação da reportagem? O editor discutiu os problemas éticos que poderia ter? Conversou com o correspondente sobre as fontes?

OKRENT: Isso eu não posso responder, não estou envolvido com a decisão de publicar ou não as reportagens, só vejo o jornal pronto. Não sei se houve alguma discussão.

O senhor acha que a credibilidade do ‘New York Times’ foi afetada?

OKRENT: Eu não posso responder a isso, porque não estou no Brasil. Recebi algumas cartas de leitores brasileiros sobre o assunto, mas realmente não consigo avaliar se a credibilidade do jornal foi afetada.

O senhor acha que o jornal publicaria uma matéria deste tipo sobre o presidente de um país desenvolvido, digamos, sobre Jacques Chirac? Ou vê algum tipo de preconceito por ser um presidente de um país em desenvolvimento?

OKRENT: Eu acho que o mesmo artigo sobre Jacques Chirac teria sido publicado, se fosse o caso. Não acredito que tenha havido preconceito.’

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‘‘Os inimigos de Lula devem estar bem contentes’’, copyright O Globo, 13/05/04

‘Anne Nelson, professora da Columbia University e ex-diretora da Associação pela Liberdade de Imprensa, disse ontem que a decisão de cancelar o visto do correspondente Larry Rohter ‘é muito mais prejudicial à imagem do Brasil do que a reportagem publicada pelo ‘New York Times’. Segundo ela, o governo brasileiro teria diversas maneiras de responder à reportagem mas tomou a pior decisão, porque a expulsão do jornalista é um claro ataque à liberdade de imprensa.

– Os inimigos de Lula devem estar bem contentes agora – disse Anne, também integrante do júri do Prêmio Maria Moors Cabbot que recompensa os autores dos melhores trabalhos publicados em jornais latino-americanos.

Professora diz entender sentimento de Lula

Para Anne, que já foi correspondente na Argentina e conhece Larry Rohter, é compreensível que o presidente tenha se sentido atacado pela reportagens, pois as imprecisões dos jornais podem fazer muito mal. Mas a decisão tomada é injustificável.

– Nós todos sabemos como os jornais podem ser imprecisos. Mas o governo brasileiro poderia ter procurado o ombudsman do ‘New York Times’, já que uma declaração dele teria um peso enorme na opinião pública. Ou publicado um anúncio. Existem dezenas de maneiras de responder a uma reportagem considerada errada – afirmou.

Expulsão do jornalista pode provocar retaliações

A professora evitou dar opinião sobre o trabalho de Rohter ou especificamente sobre a reportagem publicada domingo passado. Ela acredita que o cancelamento do visto pode provocar retaliações por parte do governo dos EUA, numa atitude parecida com a que o Brasil assumiu ao invocar o principio da reciprocidade para passar a tirar as impressões digitais dos turistas americanos que desembarcam nos aeroportos brasileiros.

– O governo americano pode fazer a mesma coisa com os jornalistas brasileiros aqui. Seria lamentável esta escalada de arbitrariedades, mas temo por isso – disse Anne.’



Fernanda Medeiros

‘‘Foi um recuo feliz. O assunto foi encerrado’’, copyright O Globo, 16/05/04

‘ ‘Do ponto de vista de imagem pública, este foi o pior ato de Lula desde a posse. O governo tentou matar um pardal com um míssil’. Essa é a avaliação que o jornalista e advogado Carlos Alberto Di Franco fez do episódio envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o jornalista Larry Rohter, do ‘The New York Times’. Di Franco é diretor da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade de Navarra, na Espanha, colunista de diversos jornais e professor de ética no jornalismo. Durante a semana passada, ele gastou boa parte de seu tempo respondendo a perguntas sobre a crise do governo que envolveu o presidente Lula e o jornalista americano.

Como o senhor viu a decisão do governo Lula de revogar a expulsão do jornalista?

CARLOS ALBERTO DI FRANCO: Foi um recuo feliz. O governo aceitou o pedido de desculpas do jornalista e encerrou o assunto. O ‘New York Times’ é que teve uma posição arrogante, ao não reconhecer o que todos reconheceram: que a matéria era pouco fundamentada e jornalisticamente insustentável. Além disso, o ‘New York Times’ não aceitou o óbvio: a carta do jornalista, enviada por seus advogados, era sim uma retratação, onde o jornalista admitia que respeitava as instituições brasileiras e o presidente do Brasil. Isso demonstra claramente a crise vivida pelo ‘New York Times’.

Voltar atrás e não expulsar Rohter foi a melhor decisão?

DI FRANCO: Ficou claro o seguinte: a matéria é ruim, foi ofensiva, mas a dose do remédio foi desproporcional. Acho que o governo ganha com isso. É uma lição explícita de humildade, que é a virtude que mais falta na vida pública.

O senhor acredita que o governo fez tudo errado nesse caso?

DI FRANCO: O governo lançou um míssil para matar um pardal. É inacreditável. Do ponto de vista político, é um espanto. Em 24 horas, o presidente passou de vítima acariciada pela sociedade a vilão. O governo poderia ter publicado uma nota firme e serena e pensado na hipótese de entrar com uma ação judicial contra o ‘NYT’, mas optou por um procedimento atípico numa democracia. O incoerente é que o PT é um partido que sempre pregou a liberdade de imprensa. Do ponto de vista de trabalho de imagem institucional do presidente, foi uma catástrofe.

O que o senhor acha da atitude do ‘New York Times’ de não fazer uma retratação?

DI FRANCO: Acho preocupante por uma razão: os correspondentes são pessoas importantes num jornal, são as pessoas que representam o jornal numa praça internacional. E o texto do Larry Rohter não tem qualquer base jornalística, está todo baseado em rumores e em fontes não confiáveis e de boa qualificação no jornalismo. É uma matéria da pior espécie. E o que me deixa preocupado é que ela tenha sido publicada no ‘NYT’ porque é o jornal de maior prestígio, o mais lido no mundo. O ‘NYT’ passou há pouco tempo por uma crise por causa daquelas matérias inventadas, e agora vem com essa matéria sobre o Lula. Isso indica, a meu ver, uma falta de controle editorial. Ninguém pode dizer que a cúpula do jornal tenha aprovado o texto. E o que está ocorrendo lá é uma crescente confusão entre entretenimento e espetáculo. Essa matéria, por exemplo, está muito mais para espetáculo que para informação.

No Brasil, esse tipo de matéria seria publicada?

DI FRANCO Não sairia nos jornais da grande imprensa. O que se publicou é suficientemente grave e pouco sustentável para imaginar que isso sairia em algum jornal que tem tradição de bom jornalismo.

A diretoria da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira divulgou nota dizendo temer que a atitude drástica seja um aviso no sentido de que para trabalhar no Brasil os jornalistas devem escrever reportagem que agradem ao governo. O senhor considera isso um exagero?

DI FRANCO: Considero. O que aconteceu foi mesmo, como disseram, uma reação do fígado do presidente. Só, só isso. Daí a deduzirmos que isso pode se transformar numa ação permanente nessa direção vai uma distância muito grande.

E a matéria, é um ato contra a soberania do país?

DI FRANCO: Não, de maneira alguma. Entender isso como um ato contra o Brasil e a sociedade brasileira é cair no ridículo. Foi uma ação imprópria contra o presidente da República e só. Veja por exemplo a Inglaterra: a cada 15 dias a família real inglesa tem uma surpresa. E o que acontece? Ora, o Palácio de Buckingham faz uma nota formal, protestando, e ponto final. O que se fez no Brasil foi a demonstração de imaturidade democrática, uma manifestação espantosa. Em qualquer lugar do mundo, mesmo que fosse uma coisa muita grave, caberia um processo judicial. Agora, nunca sair para uma arena, dando declarações desse estilo do chanceler brasileiro, criando conflitos. Parece tudo tão imaturo, tão desproporcional. Isso só mostra que temos um longo caminho para consolidar a democracia no Brasil.

Os Estados Unidos proibiram a Al Jazeera de fazer matérias sobre a guerra do Iraque ou cobrir conflitos no Afeganistão. Isso pode ser comparado à atitude do governo brasileiro?

DI FRANCO: A postura do governo americano é controlar a informação. No Brasil não há isso. O que houve aqui é um fato isolado. Nos Estados Unidos, ao contrário, o presidente controla e cria obstáculos para a circulação da informação, até por questões de segurança.

O que deveriam fazer integrantes do governo que se opuseram à atitude do presidente Lula?

DI FRANCO: Eu não posso entrar na consciência de nenhum deles. Os que eu conheço bem, o Kotscho e o André Singer, são pessoas dignas. Se passarem a ser uma voz dissonante, se quiserem dizer o que pensam, não terão alternativa, têm de se demitir.

O senhor concorda com os que dizem que este foi o pior ato do governo até agora?

DI FRANCO: Do ponto de vista de imagem pública, não tenho dúvida que sim. Nós sabemos que um governo é o que é, mas também o que aparenta. No momento que você transmite à sociedade mundial uma imagem autoritária, causa um dano não só à imagem do governo, mas à imagem do país. Este foi maior que o dano à imagem do presidente. Também não concordo com a oposição, que está dizendo que esse ato lembra a ditadura. É um exagero, temos uma democracia, felizmente, consolidada. Se Lula fizer besteira, o que vai acontecer é que não será reeleito, mas isso não abala a democracia. Muito pelo contrário.’



Fernando Duarte

‘‘O presidente Lula fez um gol contra’’, copyright O Globo, 16/05/04

‘Especialista em assuntos políticos latino-americanos da London School of Economics, o professor uruguaio Francesco Panizza afirma que a crise provocada pela reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às insinuações de alcoolismo, feitas na reportagem de Larry Rohter, correspondente do ‘New York Times’, não terá graves conseqüências se o governo desistir de criar mais polêmica. Ele critica o comportamento de Lula no episódio.

Como o senhor avalia a reação do governo brasileiro à reportagem?

FRANCESCO PANIZZA: Na linguagem popular, que o presidente Lula tanto gosta de usar, ele fez um gol contra. A decisão de expulsar Rohter do país feriu a liberdade de imprensa e provocou danos à reputação do Brasil como um país democrático. Foi também a pior medida possível sob o ponto de vista das relações públicas. Até o episódio do cancelamento do visto, a repercussão da reportagem era mínima e mesmo alguns parlamentares da oposição tinham saído em defesa do presidente. A reação de Lula reforça o preconceito que muita gente, mesmo no Brasil, tem de políticos oriundos da classe trabalhadora. Aquela coisa de pegar no pé em erros gramaticais e criticar a tal falta de preparo para cargos.

É possível avaliar os desdobramentos da crise?

PANIZZA: O problema por si só não deverá ter conseqüências a longo prazo, mas certamente minou um pouco o capital político e moral do presidente. No entanto, a percepção internacional do governo brasileiro, sobretudo na Europa, ainda é favorável, por mais que haja uma certa decepção com a velocidade das transformações sociais e políticas. Ele ainda é um líder popular, cuja postura de liderar os países do Terceiro Mundo nas negociações políticas e econômicas com as nações mais poderosas é vista de forma muito positiva internacionalmente.

O fato de Lula já ter posado com copo de cerveja mão é visto como um problema?

PANIZZA: Não há motivo para constrangimentos. Lula tem um grande senso de comunicação com o povo, maior do que qualquer outro político brasileiro da História. Fala-se muito em Getúlio Vargas no Brasil, mas ele era um proprietário de terras, ao passo que Lula é um ex-operário com quem o povo de identifica. Aprecio também a maneira como ele aborda questões complexas com uma linguagem simples e acessível. Algo que mesmo na América Latina não há muitos casos paralelos. Essa é uma de suas grandes qualidades.

Como consertar a situação causada pela tentativa de cancelar o visto de Rohter?

PANIZZA: Acho que, antes de ter se irritado publicamente, Lula deveria ter convidado o jornalista para uma conversa, ou mesmo ir à Justiça brasileira ou americana. Poderia mesmo ter ignorado a história. Agora, não vejo melhor solução do que deixar o assunto morrer. Notícias têm vida curta, ainda mais as relatadas de forma irresponsável, como fez Rohter. O mais importante é esse caso não se transformar numa questão Brasil versus EUA, pois trata-se de uma briga entre o ‘New York Times’ e o presidente Lula.

O senhor acredita nas teorias levantadas por aliados do governo de que essa história teria sido uma tentativa de desestabilizar o presidente?

PANIZZA: Não acredito em teorias da conspiração. Essa é uma questão menor no relacionamento entre Brasil e EUA e está muito mais ligada à mágoa do presidente. Lula corre o risco de parecer ingênuo se tentar fazer da reportagem de Rohter algo mais do que um caso de mau jornalismo, em que o repórter no mínimo tinha que ter ouvido mais opiniões sobre o consumo de álcool por parte do presidente.’



Edson Luiz

‘Thomaz Bastos, o bombeiro de todas as horas’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/05/04

‘Quando assumiu o Ministério da Justiça, o criminalista Márcio Thomaz Bastos brincou: ‘Assumo uma área que vai da tanga à toga.’ Ele se referia à abrangência de sua pasta, que inclui questões sobre índios, polícia, segurança, defesa do consumidor, sistema penitenciário e até problemas jurídicos. Mas, em um ano e meio de trabalho, acabou sendo chamado pelo presidente Lula também para socorrer o governo em emergências.

Como bombeiro do Planalto, Bastos foi responsável por tarefas espinhosas. E em crises como as do caso Waldomiro, do fechamento dos bingos e da cassação do visto do repórter Larry Rohter, operou com habilidade para reduzir o desgaste do governo.

Na semana passada, mesmo fora do Brasil – estava na Suíça – teve atuação decisiva para conter a repercussão do cancelamento do visto de Rohter. Uma crise que, se dependesse dele, não aconteceria. O ministro não estava quando assessores apoiaram Lula contra Rohter e nem foi consultado. Mas começou a apagar o fogo antes até de voltar ao País.

De Berna, ligou para Lula e para o New York Times e foi decidido que Rohter faria um pedido de retratação. Bastos não aceitou os primeiros esboços e só às 15h15 de sexta-feira, um dia depois de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) dar salvo-conduto ao jornalista, os advogados contratados pelo NYT entregaram no Ministério da Justiça a versão final. ‘Ele (Bastos) virou o jogo’, avaliou um ministro do STJ. ‘O governo teria uma derrota’, disse, referindo-se ao julgamento do pedido de habeas-corpus de Rohter.

Também foi ele quem conteve o impacto das denúncias contra o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz, praticamente desqualificando o depoimento que integrantes do Ministério Público Federal tomaram do bicheiro Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Na gravação do depoimento, os procuradores pediam a Cachoeira que falasse logo pois já era madrugada e se o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, aparecesse, poderia achar que aquilo era uma ação para derrubar o governo. Foi o bastante para Bastos: ele passou a apontar o interrogatório como ‘uma conspiração contra o governo’, atitude que nem políticos mais experientes se atreveram a tomar.

Ainda no caso Waldomiro, enquanto o governo batia cabeça discutindo como diminuir o impacto das denúncias, partiu dele propor a Lula a edição de uma medida provisória proibindo os bingos. Sua idéia, aceita de imediato, não só afastou temporariamente os holofotes do Planalto, como até rendeu discursos inflamados para o presidente.

Considerado ministro da cota pessoal de Lula, de quem foi advogado, e que evitou o envolvimento do então candidato a presidente com o falso dossiê Cayman – papéis sobre supostas contas de ministros e do ex-presidente Fernando Henrique -, Bastos também teve momentos de autoridade no governo.

Mesmo criticado, manteve a intenção de não negociar com policiais federais em greve, e pôs fim ao movimento, na semana passada, sem vitória para os grevistas.’