Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Herzog, uma nova perspectiva

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Você talvez não tenha conseguido ver este programa quando foi apresentado a primeira vez, há duas semanas. Foi exibido às 11 e meia da noite como parte da programação especial da Rede Pública de TV para lembrar os 30 anos da morte de Vladimir Herzog. Este programa ganha agora uma nova perspectiva, a partir da decisão anunciada pelo governo de reunir a documentação sobre os anos de chumbo no Arquivo Nacional. Mesmo que o acesso a esta documentação fique restrito, é de suma importância saber que a nossa memória não permanecerá trancada nas mãos daqueles que não estão interessados em revelá-la .


Passadas três décadas, há muita coisa ainda obscura na prisão, tortura e morte do diretor de Jornalismo da TV Cultura, em 25 de outubro de 1975. Vladimir Herzog não foi o único jornalista preso nos meses de setembro e outubro daquele ano. Não foi o único da equipe da TV Cultura, também não foi o único torturado, mas Vladimir Herzog foi o único assassinado.


Por quê? Mesmo sem acesso à documentação, é possível formular novas perguntas e com elas procurar novas pistas. Jornalistas têm um compromisso com a busca da verdade, e aquele assassinato está impregnado de enigmas e também de símbolos: a família Herzog que fugiu do terror nazista no Velho Mundo, acabou vitimada aqui, no Novo Mundo, por um tipo de terror com estreitas vinculações ao nazi-fascismo.


Convém recordar também que a primeira reação pública ao assassinato de Herzog deu-se cinco dias depois, sob a forma de um culto ecumênico. O primeiro protesto contra a violência política desde o AI-5 manifestou-se pacificamente, numa inédita exibição de convivência e tolerância. E foi por causa do assassinato de um jornalista que os brasileiros despertaram para a resistência.


Herzog foi o protagonista de uma tragédia, mas também simboliza um pacto entre imprensa e sociedade para acabar com a tirania do silêncio e da mentira. Lembrar a ditadura enquanto gozamos dos benefícios da democracia é salutar, positivo, edificante.


O reencontro persistente com o passado é o melhor remédio para impedir funestas repetições.