Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Hillary Clinton e o polêmico decote

A ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, começa sua coluna de domingo [29/7/07] explicando a escolha do tema do artigo da semana: o decote de Hillary Clinton. O Post recebeu milhares de telefonemas e cartas de leitores furiosos – em sua maioria, mulheres – por causa de uma coluna da editora de moda Robin Givhan, publicada no dia 20/7. O texto comentava um decote usado pela senadora e pré-candidata à presidência da República na tribuna do Senado. ‘A coluna de Robin é totalmente sexista’, reclamou a leitora Ann Stingle. Ann Lewis, assessora de Hillary, desaprovou o texto e o considerou inapropriado. ‘Ela insultou todas as mulheres que tentam ser levadas a sério em um ambiente de trabalho’, afirmou.

Robin ganhou um prêmio Pulitzer em 2006 por suas colunas, com observações detalhadas que transformam a crítica de moda em crítica cultural. Ela informou que foi alertada sobre o visual de Hillary, no dia 17/7, pela equipe da seção nacional do jornal, que assistia a um discurso da senadora na televisão. O fato chamou atenção não apenas por aquele não ser o estilo habitual de Hillary, mas também porque o código de vestimenta do Senado era, até pouco tempo atrás, bastante rígido; até 1993, mulheres não podiam sequer usar calças compridas.

É candidato, é notícia

Para muitos leitores, o decote de Hillary não é notícia, e não deve ser discutido. Robin discorda. ‘É notícia porque é fora do comum e diz algo sobre a sexualidade e o modo de vestir em nossa cultura, o modo que nós vemos os outros e como as pessoas querem que sejamos vistos’. Além disso, para aqueles que afirmam que só as mulheres são criticadas, a colunista relata que escreve com freqüência sobre políticos homens. Na campanha presidencial de 2004, um artigo sobre os candidatos democratas John Kerry e John Edwards dizia: ‘O cabelo se tornou uma questão central nesta corrida pela presidência’. Kerry exibe uma vasta cabeleira, enquanto Edwards é conhecidamente vaidoso com seu cabelo.

Para Deborah, qualquer questão – seja financeira, política ou social – que envolva os pré-candidatos à presidência é passível de comentário e atrai o interesse do público; a coluna de Robin foi a mais acessada do dia no sítio do Post. O que irrita grande parcela do público feminino e gera polêmica, entretanto, é o fato de as mulheres terem levado muito tempo para conseguir ser julgadas por critérios além da aparência. ‘Este respeito foi difícil de ser conquistado e não deve ser perdido’, opina. A ombudsman acrescenta que gostaria de ter tido algumas questões respondidas na coluna de Robin, entre elas se o decote foi proposital, ou como as mulheres de mais idade devem se vestir em diferentes ocasiões.