Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Hillary Clinton e o preconceito contra mulheres

A campanha presidencial norte-americana está prestando um bom serviço à causa feminina na imprensa. Pela primeira vez se discute, com clareza e sem meias-palavras, o quanto o fato de ser mulher ajuda ou atrapalha na política. Um bom exemplo são as matérias do caderno Alíás, do jornal O Estado de São Paulo de domingo (11/5/08).

Em O desmanche de Hillary Clinton a colunista norte-americana Anne Apllebaum, diz que o problema da candidata não é ser mulher, mas ‘que’ mulher: ‘As pessoas não a vêem como alguém que construiu uma carreira pelo esforço próprio. Se era hora de ter a primeira presidente, esperava-se que fosse um tipo diferente de mulher. Não a esposa de um ex-presidente’.

Applebaum diz: ‘Sem dúvida, há machismo nos Estados Unidos, mas não foi isso que tirou Hillary da corrida. Transformar a derrota de Hillary numa questão de gênero é simplismo. Ser mulher é o seu aspecto menos interessante. Ela própria tentou conquistar apoios alegando ser um bom momento para ter uma presidente na Casa Branca. Mas é uma argumentação que a maioria do eleitorado feminino não gosta. Mulheres querem escolher uma presidente não pelo fato de ser mulher, mas por ser melhor’.

No artigo O teto de vidro blindado, a jornalista Lúcia Guimarães chega a uma conclusão diferente: ‘o machismo contemporâneo, bem mais sutil, transforma poderosas como Hillary em vítimas do sucesso’. Uma das entrevistadas, a escritora Leslie Bennetts (autora do livro The Feminine Mistake) diz que sente, na mídia, antagonismo contra a sessentona Hillary: ‘O fato é que poucos teriam coragem de afirmar que não votariam num candidato por ser negro. O politicamente correto blindou, para o bem e para o mal, vários grupos. Mas é possível falar das mulheres em posição de poder com termos ofensivos. O mesmo sujeito que grita para Hillary ‘passe as minhas camisas’, não vai gritar para Obana ‘engraxe meus sapatos’’.

Lúcia Guimarães termina o artigo dizendo: ‘É provável que Hillary Clinton desça do Olimpo que reservou para si mesma com arrogância e calculismo. Mas sua derrota contém múltiplas derrotas. E algumas voltarão para assombrar suas inimigas’.

Hillary e Dilma: dá para comparar?

O terceiro artigo sobre tema é do jornalista Sérgio Augusto: traz a discussão para o Brasil, ao comparar Hillary Clinton e a ministra Dilma Roussef. Começa dizendo: ‘Uma é sagitário; a outra, escorpião. Poderosas, ambiciosas, arrogantes, têm a mesma idade (60 anos) e querem chegar à presidência da República. Quando jovens, peitaram o establishment, cada uma do jeito que dava e a correlação de forças permitia… No início da semana, ambas passaram por uma prova de fogo. Uma perdeu, outra ganhou. Que ninguém se surpreenda se a sagitariana Dilma Rousseff eleger-se presidente antes de Hillary. Ou melhor, se Dilma chegar à presidência e Hillary encerrar sua carreira política no Senado.’

Só há, aparentemente, uma falha na previsão de Sérgio Augusto: ele não considerou o fator sexo, na hora de votar. Será que os mesmos brasileiros que elegem prefeitas, vereadoras, deputadas e senadoras, estão preparados para votar numa mulher para presidente da República?

É um prato cheio para a imprensa discutir nos próximos dois anos. Isto sem falar em confirmar ou não, com pesquisas e reportagens, o argumento usado pela jornalista americana ao analisar a derrota de Hillary: ‘as mulheres não querem escolher uma presidente por ser mulher, mas por ser a melhor’.

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Jornalista