Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imagem é manipulada para poupar leitores

Uma imagem de vítimas das explosões que assolaram Madri na semana passada causou polêmica nas redações mundo afora. Não tanto por seu conteúdo impactante quanto pela manipulação da imagem feita por alguns jornais. Originalmente, a fotografia, tirada por Pablo Torres Guerrero, do espanhol El País, e comercializada pela Reuters, exibia um pedaço de carne disforme, aparentemente uma perna humana ensangüentada, em meio aos feridos que jaziam sobre os trilhos de uma das estações. Muitos jornais que compraram a foto para estampar as capas de suas edições de 12/3/04, porém, preferiram apagar a perna da imagem, fingindo que nada havia ali, a fim de não ofender os leitores.

Segundo reportagem de Claire Cozens [The Guardian, 12/3/04], entre os jornais britânicos, o Times, o Daily Telegraph, o Sun e o Daily Mail retiraram a ‘ofensa’, recortando da imagem os punhados de pedra ao lado que camuflariam perfeitamente o pedaço de carne. O próprio Guardian interveio na foto, embora de forma mais branda: modificou a cor do membro ensangüentado de vermelho para cinza, tornando-o também quase indistinguível. O Independent e o Daily Mirror resolveram o problema imprimindo a imagem em preto e branco.

El País usou a foto original, além de outras imagens que exibiam o interior de um dos vagões, com passageiros gravemente feridos, muitos deles reconhecíveis. A Reuters disse que, de modo geral os jornais britânicos tendem a ser mais conservadores com imagens do gênero. Já no Brasil, as opiniões, como sempre, se dividem. O Jornal do Brasil e o Diário de S. Paulo optaram por manipular a imagem tal como a maioria dos jornais britânicos, apagando o pedaço humano. Já O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo deram a imagem sem alterações.

Bob Bodman, editor de imagens do Telegraph, defendeu sua decisão de manipular a foto. ‘É questão de bom gosto. No final, nossos leitores saberão que houve uma explosão horrível. Limpa-se uma imagem se se sente que não haverá mudanças no contexto, e é esse o caso’, afirmou. Bodman admitiu ter recebido telefonemas, inclusive da agência de notícias AFP, para saber por que havia alterado a imagem.

‘Não apreciamos remoções de qualquer tipo’, disse David Viggers, editor sênior de imagens da Reuters. ‘Não toleramos em nome de nossos fotógrafos. Não toleramos qualquer coisa que altere o contexto editorial.’