As edições do Estadão continuam fazendo picuinhas antilulistas. Falo do jornal O Estado de S. Paulo porque é o único que leio por inteiro e diariamente, fora o caderno Esporte, assunto que não me interessa especialmente.
O Estadão de quinta-feira (8/12) não é carta fora do baralho das implicâncias. Seu antipetismo não é acidental, permeia todo o caderno A. Antonio Palocci, que mês passado apresentou-se voluntariamente em sessão de CPI transmitida ao vivo pela TV, e a quem a oposição não fez uma só pergunta incisiva durante horas de inquirição –, Palocci agora é acusado de não ter palavra porque não comparecerá ali a um simples telefonema do presidente da CPI dos Bingos convidando-o. Ora, tucanos e pefelistas que o convoquem, é simples.
O relacionamento Lula/Dirceu o jornal faz de tudo para encontrar nele rachaduras profundas. Ainda não pude ler a entrevista à Fórum [ver abaixo a íntegra da entrevista], que não chegou a Salvador, contendo declaração atribuída ao ex-chefe da Casa Civil que dá o presidente como ‘personagem difícil’, mas já discordo da ênfase sugerida pela matéria de Ana Paula Scinocca (A6). O termo ‘personagem difícil’ é equívoco, pode perfeitamente caber na visão que um amigo tem do outro, embora divergências pontuais.
Topo do antilulismo
Algumas folhas adiante ainda à mesma edição do jornal paulista vêm matérias sobre Jose Dirceu. Será que com essa interpretação da entrevista de Dirceu não estaria o Estadão confeccionando uma fissura entre os dois companheiros, Dirceu e Lula, bem maior do que ela é? Assim se deu recentemente no caso Dilma/Palocci, em que o jornal paulista, fazendo ecoar o temor da elite brasileira em perder a política econômica monetarista, cravou na diferença filosófica entre os dois ministros para anunciar a iminência do populismo gastador. De um conselheiro de banco ouvi naquela semana que Lula não tivera uma afirmação assertiva de suporte a seu ministro da Fazenda quando a imprensa toda acusava a este de falcatruas em Ribeirão Preto. De repente era Lula que tramava contra Palocci, não mais o denuncismo. Como se implicou com o governo petista esquece-se de denunciar a impressão de falta de comando dilatada pela imprensa que toma partido.
Lula é hábil, não poderia ignorar as forças de esquerda no PT por detrás de Dilma Rousseff, e aguardou melhor momento para mostrar à nação seu compromisso com Palocci. Luiz Inácio conseguiu desviar-se do banco de areia em rota e Casa Civil e Fazenda seguem debatendo construtivamente. Embora minhas noções de economia sejam amadoras e acanhadas, resisto a concordar com o jornal, que vê uma abissal e inconciliável diferença entre 4,25% e 4,70% de superávit no orçamento. E o editorial da quinta-feira passada não poupa suspeitas, sua manchete maldosa é ‘A tentação do populismo’.
Chamar de populista uma administração federal trabalhista que aceita 4,25% de superávit fiscal é torcer os fatos.
A edição do Estadão chega ao topo do antilulismo na pena de um colunista por quem em outros assuntos tenho declarada admiração, Gilberto de Mello Kujawski. Seus artigos são alados, verdadeiros vôos do espírito, o autor tem extraordinária capacidade didática, custa-me esperar passar a quinzena para reencontrá-lo. Mas quanto a seu último texto à A3 não me conformo com seu diagnóstico de que ‘a única maneira de o partido se salvar é alijar Luiz Inácio da Silva’. Logo quem consegue ser a junta homocinética brasileira, ser o grande conciliador nacional!
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Dirigente de ONG, Bahia