Thursday, 26 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 3107

Imprensa não faz a lição de casa

Alguns entrevistados nos jornais de sexta-feira (4/1) já ponderam que teria sido melhor prorrogar a validade da CPMF. As medidas tributárias anunciadas quarta-feira (2) pelo governo ainda estão sendo digeridas pela imprensa, mas claramente se percebe quais setores ficaram mais desgastados com o aumento de tributos.


O setor financeiro, que deverá arcar com uma alíquota maior na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, ameaça repassar o custo para os clientes. E a indústria começa a plantar na imprensa previsões de dificuldades para a economia em 2008.


O direito de espernear é universal. Mas é dever da imprensa filtrar e ponderar as manifestações dos descontentes.


Siglas e opinões


O que se lê nos jornais de sexta é uma tentativa de explicar o conjunto de medidas anunciadas no dia 2, mas o resultado é uma colcha de retalhos costurada em economês. Com exceção da Folha de S.Paulo, que fez um esforço para traduzir o assunto em figurinhas, o noticiário dos jornais ainda é complexo.


Para a maioria dos leitores, é naturalmente difícil entender todo o quadro macroeconômico que deverá resultar das medidas do governo, por causa da própria complexidade do sistema tributário. Além disso, mistura-se a manifestações de empresários e economistas o discurso dos políticos, o que torna o noticiário ainda mais confuso. O leitor está preso no emaranhado de siglas e opiniões.


Português de todos


A imprensa não está fazendo a lição de casa direito. Primeiro, foi surpreendida pelo anúncio das mudanças, embora alguns colunistas afirmem que elas eram esperadas e inevitáveis. Depois, deixa no ar uma série de perguntas sem resposta.


Uma delas: se a própria imprensa vem noticiando que a explosão do consumo pode estimular a inflação, como devem ser analisadas as medidas que inibem o consumo?


O Executivo também não ajuda a esclarecer. Não apenas pela aparente dificuldade – ou desinteresse – do ministro da Fazenda em falar o português de todos, em vez do economês, mas também pela já folclórica inabilidade do atual governo no trato com a opinião pública.

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Jornalista