Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Imprensa sem remédio

A Organização Mundial de Saúde – OMS – anda na berlinda internacional por conta do exagero que deu nos seus alarmes em relação à iminente pandemia de gripe suína, ou H1N1, mas os laboratórios farmacêuticos comemoram o aumento nos seus faturamentos a cada nova ‘ameaça’ de pandemia. Há acusações graves no meio intelectual, sem que haja contestações de que alguns artigos científicos são assinados por notáveis para legitimar pesquisas para o uso de certas substâncias em prol dos bilionários laboratórios.

Há quem diga que eles criam as doenças em laboratórios e depois ‘desenvolvem’ o princípio ativo capaz de debelar o que eles mesmos criaram. Nesse ínterim, artigos começam a ‘florescer’ na mídia, falando da doença e descrevendo os seus sintomas – daí o leitor desprevenido começar sugestivamente a achar que tem a mesma.

No filme O jardineiro fiel é possível pensar, numa primeira análise, que o cineasta exagerou no roteiro, mas é justamente o contrário, pois quem já foi ao continente africano conclui que o filme é até benevolente para não chocar os cinéfilos. Numa apertada síntese, o filme desmascara a indústria farmacêutica que usa os pobres dos africanos como cobaias humanas para suas ‘experiências’ macabras.

Não há caridade no capitalismo, muito menos quando se trata de remédio, pois tudo gira em prol do lucro; e de uma hora para outra toda a civilização ficou doente e já é quase fora de moda quem não tem algum tipo de transtorno mental que necessite de remédio.

‘Camisas-de-força-químicas’

O foco da mídia é somente nas drogas ilícitas e que sofrem, ou deveriam sofrer, repressão do Estado, mas as legais – sem ironia – são vendidas sem controle e os devidos alertas dos danos irreversíveis que causam à saúde. Há sujeitos usando ansiolíticos e anti-hipertensivos há décadas, mas não há efeito sem causa e os remédios agem apenas nos efeitos e somente ‘controlam’ o sintoma. Se a OMS e os laboratórios conseguiram manipular a mídia para a falsa iminência de pandemia da gripe suína, por exemplo, por que não usamos o método em contrário e alertamos todos por meio da mesma mídia dos perigos dos alertas da OMS e dos riscos para saúde pública do uso indiscriminado e indefinido desses medicamentos?

Não existem tantas doenças que correspondam à infinidade de medicamentos disponibilizados nas farmácias e os antipsicóticos, por exemplo, agem como ‘camisas-de-força-químicas’ e não curam – aliás, esta palavra não existe nos manuais farmacêuticos. Pior do que a dependência química e os efeitos colaterais dos medicamentos é o silêncio sobre o assunto que parece que não tem remédio que dê jeito.

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Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE