Na época da Inquisição, quando não se podia executar fisicamente um desafeto, apelava-se para a execução em efígie – um enorme retrato do condenado era carregado pelas ruas e posteriormente queimado.
Lima Barreto foi vítima de uma execução em efígie moderna. Durante vários anos seu nome foi propositalmente omitido pela maioria da imprensa. Por quê? O que esse homem fez de tão grave para receber tamanha punição? Escreveu um romance que criticava a deusa Imprensa de forma violenta: Recordações do Escrivão Isaías Caminha.
Lima sempre trabalhou em jornais, mas preservou uma integridade ímpar, divulgando sinceramente suas opiniões e críticas. Para isso, empregou, muitas vezes, pequenos jornais. O autor é um exemplo do que deve ser um bom jornalista. Ele antecipa também o que podem esperar os profissionais que optam por um jornalismo sincero e combativo: pobreza e ostracismo. Não fora a crítica universitária – e certos jornalistas de caráter – e ele estaria esquecido até hoje.
Aliás, se Lima Barreto estivesse vivo, teria material para três ou quatro volumes a mais acerca da atuação da imprensa. Mas para não ocuparmos muito espaço, vamos tratar de apenas um: a manipulação de notícias em interesse próprio. Para exemplificar esse ponto, sirvo-me apenas de um exemplo: a guerra entre as redes Globo e Record.
Intenção real
É notório que a guerra entre essas duas emissoras tem por objetivo simplesmente o poder. A Rede Globo, por ter audiência maior, tem maior poder de fogo para manipular o público que busca informações unicamente através de seus telejornais. Mas, eis que nos últimos tempos, financiada por dízimos do telepastor Edir Macedo, surge a Record, que alardeia aos quatro ventos que deseja a liderança no quesito televisão. Para quê? Para herdar da Globo o domínio do poder de manipulação. Para tanto, a emissora contrata ex-jornalistas globais, como Paulo Henrique Amorim, por exemplo.
Sentindo-se ameaçada, a Globo investe contra a Record, aproveitando-se de notícias reais sobre o suposto envolvimento da Igreja Universal, financiadora da Record, em negócios escusos. A técnica é publicar longas reportagens sobre o assunto. Em vingança, a Record vale-se também de notícias reais para atingir a Globo, como tem feito com o caso Sirotsky, envolvendo uma acusação de estupro contra um integrante daquela família em Santa Catarina – que não por coincidência é dona da emissora que retransmite a Globo naquele estado. Para isso, dedica longas reportagens, que, normalmente, não costuma fazer em casos semelhantes. E quem é o encarregado de fazer essa reportagem? Paulo Henrique Amorim, não por acaso, desafeto aberto da Globo.
Em resumo, as notícias publicadas são verdadeiras, mas a intensidade com que são divulgadas denota bem qual é a intenção das emissoras ao fazê-lo: atingir o concorrente comercial, sujando a sua imagem.
Sábia analogia
Enquanto isso, alguns telespectadores desinformados se batem ora defendendo um lado, ora o outro. Na verdade, estamos diante de dois manipuladores de notícias. É o roto falando do esfarrapado.
Saindo dessa questão em particular, verifica-se o mesmo em muitas outras empresas jornalísticas. A grande maioria dessas empresas procura demonstrar que é independente e imparcial, mas no fundo são dependentes do interesse de seus donos, de interesses econômicos e políticos e extremamente parciais, quando o desejam.
Diante disso, a imprensa brasileira, em sua maioria, é farisaica e a eles cabe a analogia feita por Cristo com relação aos fariseus de sua época: túmulo caiado, isto é, aparentam externamente certa beleza quando, por dentro, não passam de depósito de coisas repugnantes.
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Professor universitário, Apucarana, PR