Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Israel, um Estado fora-da-lei?

‘O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, rejeitou hoje a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas para um cessar-fogo com o Hamas’ (ver aqui).

Agora, que Israel não cumpre resoluções da ONU e pode com justiça ser considerado um Estado fora-da-lei (terminologia de Bush), os seus inimigos têm legitimidade para despejar milhões de toneladas de bombas sobre as cabeças dos israelenses, exatamente como Israel faz em Gaza?

Gostaria muito de ver os jornalistas responderem esta pergunta. Mas ela sequer é feita.

A mídia brasileira tem empregado dois pesos e duas medidas quando se trata dos conflitos no Oriente Médio. Pouco antes da invasão do Iraque, muitos jornalistas brazucas disseram que o país governado por Saddam Hussein era um Estado fora-da-lei porque não cumpria as resoluções da ONU. As armas de destruição em massa não existiam e hoje sabemos que Saddam fez de tudo para cumprir as resoluções e suas iniciativas diplomáticas foram sabotadas pela Casa Branca.

O mesmo critério não está sendo aplicado em relação a Israel. Apesar de seu premiê se recusar a cumprir a resolução de cessar-fogo – uma ordem legal, emanada de uma autoridade legítima reconhecida por Israel –, ninguém, nem mesmo o Último Segundo do iG, que fez a matéria acima citada, tem a coragem ou a honestidade de chamar Israel de Estado fora-da-lei.

Por que alguns Estados podem ser fora-da-lei e outros não? Por que alguns Estados que não são fora-da-lei podem ser tratados como se fossem? Existem Estados que são ‘mais’ fora-da-lei que outros?

Lógica perversa

Segundo o India Times, no litoral de Gaza existem reservas de gás avaliadas em 4 bilhões de dólares. Dinheiro para israelense nenhum botar defeito. O objetivo israelense em Gaza é liquidar o Hamas por causa de uns foguetinhos caseiros ou controlar o acesso ao gás palestino? Até o presente momento a imprensa televisada brasileira não fez qualquer referência à questão do gás palestino. Também não vi nada sobre este assunto no Último Segundo.

Se obtiver o controle do gás (que é dos palestinos por força dos acordos de Oslo), Israel manterá os mesmos na mais absoluta miséria por séculos. De quebra poderá vender o produto aos europeus (que se livrarão da dependência do gás russo) e usar os recursos auferidos com a venda do gás palestino para comprar armas americanas. Todos ficam felizes, menos os palestinos (mas é claro que os mortos não reclamam, nem choram).

Parece que uma vez mais a lógica perversa do mercado está levando à desumanização de seres humanos considerados indesejáveis pelos governos ocidentais. O Ocidente não está sendo ameaçado pelos terroristas do Hamas, está podre mesmo. Tão podre quanto a a mídia ocidental, que se recusa a admitir que os descendentes das vítimas do Holocausto podem estar se comportando de maneira extremamente reprovável.

Razões de sobra

A geografia é a única ciência que envereda pelos dois principais ramos do conhecimento (humano e físico). Os mapas demonstram claramente o imperialismo israelense. No mapa anexo à resolução da ONU que criou Israel todas as áreas amarelas são destinadas aos palestinos (ver aqui).

No mapa postado no Ministério das Relações Exteriores israelense, toda a área (inclusive o destinado aos palestinos) é considerada território de Israel (ver aqui).

Os palestinos têm ou não razões para acreditar que Israel pretende eliminá-los para implementar a política oficial subentendida no mapa que divulga no seu Ministério das Relações Exteriores?

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Advogado, Osasco, SP