Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

JN: democracia em siglas

Nunca se falou tanto das entrevistas do JN com os candidatos ao Planalto. Petistas reclamam que Dilma Rousseff recebeu tratamento mais duro do casal de entrevistadores. Tucanos comemoram o desempenho de José Serra. Em comum, há o reconhecimento tácito de que William Bonner e Fátima Bernardes enfim abriram as cortinas do espetáculo eleitoral.


O predomínio da TV na campanha (e, na TV, da Globo) é avassalador. Mostrou-se equivocada a suposição de que as novas mídias (celular, internet, e-mail, redes sociais etc.) iriam ameaçar a hegemonia da TV na eleição. Elas se incorporam às campanhas como ferramentas de mobilização e guerrilha política, mas a definição do jogo está, mais do que nunca, atrelada ao desempenho dos candidatos na TV.


E na TV o que pesa de fato é o JN, além dos programas eleitorais. As campanhas inclusive organizam suas agendas em função do minuto diário de exposição que o telejornal da Globo lhes oferece. A era dos comícios chegou ao fim.


Chuva de promessas


Não deixa de ser assustador que, no seu contato com as massas, o maior constrangimento de um candidato à Presidência se resuma à entrevista de 12 minutos no JN.


Ninguém, no entanto, deve esperar que os debates (que de resto pouca gente aguenta) acrescentem muito à democracia. As regras são engessadas e os atores ali não passam grande sufoco. Perto do que se vê nos EUA, fazemos teatro infantil.


Os debates, cada vez mais, se resumem a uma guerra de siglas. São os PACs, as UPAs e as UPPs contra as AMAs, as AMEs e as Fatecs. Para os sem ProUni, que tal o ProTec?


O ambiente foi esterilizado da retórica eleitoral de 20 anos atrás. O eleitor agora vive sob o bombardeio de promessas em jargão tecnocrático (ou tecnopublicitário). Mas algo parece ter mudado: até há pouco, discutia-se quem seria capaz de dirigir o carro melhor, ou com mais segurança; agora, discute-se quem pode acelerar mais, ou entregar mais siglas na casa do eleitor.