Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

João Paulo III

Uma vida pode ser medida pelo número de papas. Nasci em 1962 e, portanto, estou indo para o meu quinto pontífice, o que me dá uma certa longevidade em termos ‘vaticânicos’…


Chamar-se-á João Paulo III o próximo papa, se a idéia da Igreja Católica for transmitir ao mundo que ainda estamos sob o impulso dos quatro papas inspirados pelo Concílio Vaticano II: João XXIII, Paulo VI, e os dois últimos, que uniram nos seus nomes os nomes dos dois antecessores.


Sonho em ver pela TV um papa negro – quebra real de paradigmas e paradogmas. A batina alvíssima, a pele nigérrima. O papa negro visita o Brasil e quase cai no samba!


Especulações haverá de todas as cores, e infinitas. Como bem se sabe, muitos cardeais que entrarem no conclave como papas, do conclave sairão como cardeais. Entre a política da terra e a política do céu, acabará sendo eleito um papa que ninguém sabe quem é, pois, ao se tornar papa, ele mesmo, antes um mero bispo, transformar-se-á em alguém que ele nunca foi.


Um amigo veio queixar-se comigo, dizendo que, italiano ou latino-americano, oriental ou africano, o próximo líder católico será conservador. Conservei-me calado. Meu lado anárquico, no fundo, deseja um papa conservador…


O nome, o nome


Ainda sou católico, apostólico… romântico. Eleição de papa é sempre um acontecimento. É mais do que Copa. É mais do que Oscar. É mais do que Nobel. É uma corrida olímpica para ver quem encarnará o papel misterioso à frente de uma das instituições que mais notícias produz para a mídia.


Igreja Católica dá capa de revista. O mundo seria menos interessante se não houvesse ninguém para falar em pecado. Nas matérias polêmicas, sempre à nossa disposição, a velha Igreja… para nela jogarmos nossas pedras! Retrógrada! Ultrapassada!


Vai começar tudo de novo. Como tem sido há vinte séculos. Um novo papa é uma nova oportunidade para antigos ritos. Fumata blanca, a multidão em Roma fazendo tremular o mesmo lenço branco que acabou de enxugar as lágrimas no funeral do papa recém-falecido.


O próximo papa terá de ser muito talentoso para ficar à altura de João Paulo II. Este fez de tudo. Sofreu atentado, rasgou cortina de ferro, escreveu best-seller, canonizou à beça. Ser João Paulo III (ou que outro nome o próximo Santo Padre venha a adotar) vai dar um trabalho e tanto!

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Doutor em Educação pela USP e escritor; site (www.perisse.com.br)