Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornal brasileiro atacado em dia de eleição

A ONG Repórteres Sem Fronteiras condenou em seu sítio [4/10/06] a invasão dos escritórios do jornal Diário de Marília, na cidade de Marília, em São Paulo, no domingo (1/10), quando foram realizadas eleições no país. Partidários do ex-prefeito Abelardo Camarinha e de seu filho Vinícius, deputado estadual de São Paulo, invadiram o local a mando da família Camarinha.


A família também é suspeita de ser responsável por um incêndio criminoso no jornal em setembro do ano passado. ‘Apesar dos procedimentos legais contra ele, com base em fortes suspeitas de ele ter sido responsável pelo incêndio no Diário de Marília, Abelardo Camarinha ainda é capaz de acertar contas impunemente com a imprensa’, acusou a RSF. ‘Sua atitude contra o jornal tinha o objetivo de impedir a divulgação de um artigo sobre ele, sendo, portanto, planejado. Nós expressamos nosso apoio ao jornal e pedimos que Abelardo Camarinha e seu filho respondam perante a justiça por esta violação da liberdade de imprensa’.


Censura


Partidários de Camarinha que são membros do comitê de apoio ao político se reuniram na madrugada do dia 1/10 nos arredores da redação, quebraram o vidro da entrada, ameaçaram jornalistas e exigiram a apreensão da edição daquele dia.


À tarde, uma juíza local ordenou a suspensão da edição do jornal e o fechamento do seu sítio, a pedido de Vinícius Camarinha, devido a um artigo sobre o processo de invalidação da candidatura de seu pai a deputado federal. Duas horas depois, um funcionário da justiça chegou ao jornal para executar a ordem de apreender a edição do diário.


À noite, os advogados do Diário de Marília, Telêmaco Luiz Fernandes Júnior e Leonardo Frederico Lopes, apresentaram à juíza um pedido para revogar a decisão prévia de apreensão das cópias da publicação, argumentando que o artigo em questão foi escrito baseado em fatos verídicos e comprovados.


Impunidade


Abelardo e Vinícius Camarinha foram condenados pela justiça eleitoral no dia 17/9 a pagar multa de cerca de 40 mil reais cada um por propaganda eleitoral antecipada. Os dois haviam lançado suas campanhas em alguns veículos da mídia desde o mês de junho e já haviam sido condenados duas vezes pelo mesmo motivo.


No dia 29 de setembro, a procuradoria regional começou a perseguição judicial por ‘abuso de autoridade’ e ‘uso ilícito de instalações e pessoal públicos’ de Abelardo e seu filho, exigindo a inelegibilidade de Abelardo até 2009 e a cassação do mandato de Vinícius. O chefe de redação do Diário de Marília, José Ursílio de Souza, divulgou o processo na edição que foi apreendida.


No ano passado, um incêndio criminoso destruiu a sede do jornal e de suas duas estações de rádio, Diário FM e Dirceu AM. Em janeiro deste ano, três homens foram condenados a 12 anos de prisão pelo incêndio; os nomes de Abelardo e Vinícius Camarinha foram citados várias vezes durante o inquérito como supostos mandantes do crime. Em março, o irmão de Abelardo, Rafael Camarinha, também envolvido no caso, foi assassinado em sua residência por três homens armados. Desde então, Abelardo acusa José Ursílio de ser o mandante do crime.