O semanário esteve nas primeiras páginas dos jornais, foi citado nos telejornais – a imprensa, enfim, virou notícia. E caso de polícia.
Agora, a direção do semanário tenta defender o indefensável. Em duas páginas da última edição (nº 1927, págs. 26-27), o diretor editorial Carlos José Marques sai em defesa do repórter/redator-chefe Mário Simas Filho e, principalmente, do capo da empresa, Domingo Alzugaray. Missão impossível.
O noticiário político-policial de cada dia torna mais esfarrapadas aquelas esfarrapadas desculpas. O que dizem os Vedoin, o Ministério Público, a Polícia Federal e até o presidente Lula nos palanques desmente cabalmente aquela coleção de palavras e frases totalmente desligadas da realidade.
O diretor do semanário conseguiu até desmentir o que escreveu o seu colega Mário Simas Filho na edição anterior (nº 1926, pág. 32). Disse que a entrevista com os Vedoin foi realizada na quarta-feira (13/9). Mas na primeira linha da matéria em questão está dito o seguinte: "Na tarde de quinta-feira 14, quando receberam a reportagem de IstoÉ, os empresários Darci e seu filho Luiz Antônio estavam tensos…".
Não se trata de irrelevância: o diretor tentava desfazer um grave deslize cometido pelo seu repórter/redator-chefe ao admitir que escrevera a matéria em cima da perna, uma ou duas horas antes de a revista ser impressa. Como se sabe, a revista rodou na quinta à noite, mas o teor da matéria já fora distribuído por e-mail às redações.
Se a matéria foi escrita 24 horas antes, por que não se procurou ouvir o outro lado? Porque mesmo escrita na semana anterior jamais seria concedido aos acusados o direito de resposta. Os patrocinadores da "denúncia" não queriam esclarecer, queriam pichar.
Histórias da cessão
A estratégia de defesa da IstoÉ pretende mostrar que o dossiê produzido pelos aloprados do PT (assim como o dinheiro para pagar aos sanguessugas) nada tem a ver com as informações fornecidas pela família Vedoin contra o candidato José Serra. O dossiê podre seria uma coisa e as informações investigadas pelos diligentes repórteres do semanário, outra. Mentira: são uma coisa só.
Também chama a atenção o fato de que na defesa da IstoÉ está praticamente ignorada a transação entre o redator-chefe Simas Filho e Hamilton Lacerda, assessor muito próximo do candidato Aloízio Mercadante. Os aloprados só aparecem em outra matéria , "Os homens de Lula" (págs. 60-63) como se o "maior escândalo eleitoral dos últimos tempos" [sic] não tivesse começado nas páginas da revista da Editora Três.
Convém lembrar que na terça-feira (19/9), o redator-chefe de IstoÉ havia declarado à Folha de S.Paulo que a ele só interessava aquilo que fora publicado a partir da sua assinatura na matéria. Com isso, desligava-se completamente das negociações que antecederam a cessão do dossiê. Dois dias depois, o mesmo redator-chefe contou à mesma Folha a história do seu contato com o assessor de Mercadante.
Exemplo de coerência
Outro dado de suma importância omitido na defesa de IstoÉ é a revelação da revista Época de que fora procurada pela mesma gangue de aloprados e recusara qualquer entendimento sem antes investigar o teor das denúncias. Isso significa que os aloprados tinham uma idéia fixa: usar a imprensa para desmoralizá-la posteriormente [ver, neste OI, "A imprensa e os aloprados"].
Época deixou IstoÉ de saia justa (como foi exposto na emissão televisiva do Observatório da Imprensa, na terça, 19/9): ficou evidente que existem revistas que publicam qualquer acusação e outras que antes procuram investigar. Não é difícil adivinhar o grupo ao qual agora filia-se a revista da Editora Três. É bom lembrar, porém, que a Época foi o veículo usado pelo grupo do ex-ministro Antonio Palocci para quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
IstoÉ está sendo exemplar em matéria de coerência: manipulou a denúncia, manipulou as investigações sobre a denúncia e agora, num acesso de expiação, manipula a própria defesa.