Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
Você já sabe sobre o que vamos falar e até já sabe o nome que damos a este tipo de procedimento. Acertou quem adiantou ‘jornalismo fiteiro’.
Isso mesmo. O ‘Dossiê Vedoin’ ou ‘Dossiê Sanguessuga’ é um escandaloso exemplo do jornalismo fiteiro, da imprensa a serviço de interesses escusos. Mas este escândalo é diferente dos anteriores. A sua importância não decorre do que foi tornado público, mas do que ficou escondido. A ponta do iceberg, como sempre, é muito menor do que a parte invisível, esta sim, perigosíssima. A causadora do atual rebuliço não foi a divulgação de uma denúncia-bomba. A bomba foi uma denúncia abortada. A notícia neste caso é o que está por trás da notícia.
A matéria de capa da última edição da IstoÉ é o que se chama no jargão jornalístico de ‘cascata’, armação. Como peça acusatória contra o candidato José Serra, é pífia, não se sustenta e, no entanto, antes mesmo de publicada, já estava sendo usada pelo concorrente de Serra ao governo de São Paulo, Orestes Quércia. O mais importante, porém, é que a Polícia Federal descobriu que tanto o vendedor como o comprador do dossiê têm ligações com o PT. Pior de tudo são os quase dois milhões de reais em dinheiro vivo destinados à compra do dossiê e que seriam completados com um aporte em dinheiro a ser feito pela própria IstoÉ.
De onde veio este dinheiro é a questão que domina o noticiário. A nós interessa o desempenho da IstoÉ. Comprar informações ou publicar acusações sem qualquer investigação é infração grave. O jornalismo fiteiro ganhou identidade própria porque vem sendo praticado desde 1998 principalmente pelos semanários de notícias. A IstoÉ comprou informações, publicou informações sem qualquer investigação e ainda por cima usaria dinheiro de terceiros para pagar a sua quota, já que sua situação financeira é precaríssima.
Este Observatório não é um tribunal. Quem julga os maus jornalistas ou os maus empresários de comunicação é o público. Você, você e você. Nossa função é mostrar o que não é mostrado, tornar o jornalismo rigorosamente transparente. A redação ideal é uma redação de vidro.