Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo não é propaganda – 2

Numa guerra não há vencedores. Todos perdem mesmo quando uma das forças vence a outra. Nada é mais absurdo do que a guerra e toda ‘arte’ da destruição e matança generalizada. É o que nos coloca, seres humanos, no ponto mais baixo da escala da vida animal. Nenhum ser vivo tem essa característica, a de criar formas de destruição em massa como o homem. O conflito entre Hezbollah e Israel não terminou. Os dois lados voltarão às armas tão logo as ‘feridas cicatrizem’ e novas armas sejam adquiridas, porque as razões objetivas desta guerra continuam existindo, nada foi resolvido.

Os soldados israelenses capturados pelo Hezbollah e pelo Hamas continuam em poder das organizações guerrilheiras libanesas e palestinas, e nada garante que sejam soltos sem contrapartida de Israel. Sua prisão foi o estopim da invasão israelense ao Líbano, e depois de tanta destruição e matança Israel nada conseguiu.

De bandeira a pano de chão

Ainda dá para ouvir o matraquear das armas automáticas e as explosões de bombas, granadas, mísseis e foguetes. Assim como o grito dos feridos, o choro dos parentes e o silêncio dos mortos. Quase 1.000 libaneses e quase 200 israelenses morreram em pouco menos de um mês de batalhas, bombardeios, ataques, e tudo continua como antes. Nada mudou, à espera de outro ataque, de mais bombas, foguetes, mísseis, lamentos e morte.

E mais uma vez a grande mídia mundial ficará na posição hipócrita e abjeta de não divulgar o que realmente acontece e os motivos reais que levaram, e ainda levam, a mais esta carnificina no Oriente Médio. Diante de tudo que vem acontecendo, a grande imprensa tem cada vez mais se tornado cúmplice da barbaridade. Aos poucos, a mídia internacional vai se revelando como o suporte mais forte deste cenário. Mentiras, manipulações, propaganda rasteira tem sido a tônica. A sinergia com o poder, com o imperialismo é a grande marca da imprensa neste começo do terceiro milênio.

O que resta, se é que resta algo desta mídia, são os valores da ética, da responsabilidade social, da liberdade de informação e de pensamento, do lema que serviu de bandeira para tanta luta mundo afora e que hoje é pano de chão para as sujeiras feitas em seu nome: liberdade de imprensa. Não existe mais liberdade de imprensa em nenhum grande veículo da mídia. É uma expressão vazia que perdeu o conteúdo, tantas as barbaridades e mentiras corroboradas pela própria imprensa mundial.

Há proposta?

Se um outro mundo é possível, com certeza uma outra imprensa é necessária. E até lá, para se fazer frente ao que existe desta mídia manipuladora, mentirosa, hipócrita e avassaladora, resta a imprensa engajada, comprometida com idéias, projetos, que deixa claro quais são as suas posições, o que defende e porque defende.

Que não engana ninguém e que aceita o desafio de divulgar os fatos como acontecem, mostrando todos ou quantos lados for possível mostrar. Quando essa tarefa não é totalmente possível, que se deixe clara a razão da falta de informações mais confiáveis para que a divulgação dos fatos investigados seja apresentada. Que não se tenha medo de defender um ponto de vista, seja ele qual for, deixando claras suas crenças, sua ideologia, sua religião, se for o caso.

É uma tarefa ingrata e difícil, não há dúvidas. Se não for assim, na atual conjuntura, resta ser-se o que se é hoje. Sob o manto falso da liberdade de imprensa, a grande mídia mundial se transformou em gigantesca agência de propaganda a serviço de quem paga mais. E esse pagar mais não é necessariamente em moeda. É, em primeiro lugar, um assento especial ao lado do poder. Já foi dito inúmeras vezes que o convívio com o poder corrompe quando não existe proposta além do próprio poder e suas benesses. E qual é a proposta da grande mídia atual para a sociedade? Existe alguma?

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Jornalista