Repórteres Sem Fronteira é uma organização internacional, com sede em Paris, que defende jornalistas do mundo inteiro. É uma instituição de respeito e prestígio. Em setembro do ano passado apresentou seu primeiro informe sobre as ameaças, perseguições e condenações que jornalistas especializados na cobertura do meio ambiente estavam sofrendo. Seu segundo relatório foi divulgado neste mês. Em ambos, sou citado como um dos jornalistas que sofre as conseqüências de denunciar a devastação da Amazônia. Neste último relatório, o único caso no Brasil. Apenas blogs fizeram o registro da informação entre nós.
Minha cobertura da questão ecológica não é feita sob uma bitola ambientalista. Sempre procuro contextualizá-la e mostrar quais as forças que comandam essa dinâmica. O mecanismo que dá a partida a essas engrenagens costuma não ser percebido. Certamente porque usa sua força persuasiva (ou suasória) para intimidar ou ‘convencer’ os observadores e também por agir nos bastidores, à distância da arena pública. Quem possui visão formalista ou restrita da questão reage negativamente quando essa perspectiva mais ampla é enfocada.
É o que tem acontecido na recepção dos leitores à coluna que escrevo no portal do Yahoo!. Um anônimo mal-disfarçado pelo pseudônimo de Bagre diz que o que escrevo está desajustado com a qualificação da coluna, dedicada ao meio ambiente. Preferiria que escrevesse sobre borboletas, bromélias ou… bagres. E escrevo sobre hidrelétricas, metalúrgicas de alumínio, siderúrgicas, minerações. Como se esses empreendimentos humanos levitassem na atmosfera, ao invés de estarem plantados sobre o solo ou no subsolo do planeta.
História real
Acho que a principal razão do incômodo que esse jornalismo causa é justamente esta: procurar desvendar as raízes dos problemas, as matrizes das situações. Só que, nos últimos tempos, ao invés das ameaças de morte ou das intimidações diretas, esses personagens procuram se valer de processos judiciais para me desviar do foco da minha atuação, justamente o foco que provoca a atenção dos analistas externos, em especial dos estrangeiros.
Por terem uma visão cosmopolita, eles conseguem perceber o valor específico, original e substancial desse tipo de jornalismo independente e crítico. Daí a atenção que me deu Repórteres Sem Fronteira. E também aqueles que, sem posição prévia ou dogmática, precisam de informações, análises e provocações para perceber a história real por detrás das fantasias e dos enredos falsos.
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Editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)